O agronegócio deverá ser o primeiro setor da economia brasileira a se recuperar do impacto da pandemia de covid-19. É o que apontam os dados das operações de crédito agrícola apresentados pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto em reunião conjunta virtual dos conselhos superiores do Agronegócio (Cosag) e da Economia (Cosec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A partir deste mês, já estão começando os preparativos para o plantio da safra de 2020/2021 na maioria das regiões produtoras do Brasil. Neste período, o homem do campo toma medidas sempre baseado em prognósticos climáticas, que tanto podem indicar secas ou chuvas em excesso, e nas projeções econômicas. Agora soma-se a esses fatores as restrições impostas pela covid-19. Isso traz incertezas ainda maiores para os produtores quanto aos resultados da safra.
Os reflexos econômicos das providencias que envolvem contração de mão de obra, transporte, compra de máquinas, implementos e insumos agrícolas deverão se intensificar daqui para frente com a maior circulação de dinheiro nas áreas de produção e nas cidades.
No encontro com os empresários, Roberto Campos informou que o volume de crédito de 12 meses (posição de julho de 2020) concedido pelos bancos ao agronegócio foi de R$ 191,1 bilhões, aumento real de 10,2% sobre o ano anterior. O chamado segmento empresarial ficou com R$ 162,2 bilhões, e a agricultura familiar, com 28,9 bi. Os recursos para os agricultores familiares cresceram 23,5% sobre o ano anterior.
Ao dimensionar o forte apoio do governo ao setor agrícola no enfrentamento dos efeitos do coronavirus nas pequenas, médias e grandes propriedades, Campo Neto informou que, no mês de julho de 2020, os produtores empresariais receberam R$ 19,6 bilhões, e os da agricultura familiar, R$ 4,3 bilhões. O volume de recursos é 48,5% e 48,3%, respectivamente, superior ao que foi concedido em julho de 2019.
Redução das taxas de juros
O aumento do volume de crédito veio acompanhando da redução das taxas de juros. Os juros cobrados dos produtores no financiamento rural, que estavam na casa dos 9,5% em junho de 2018, foram de 6,5% nos últimos meses. A taxa nas operações destinadas à pessoa jurídica caiu no mesmo período de 7,5% para 5,7%. É uma queda expressiva, mas se comparada à taxa Selic de remuneração dos poupadores, de 2% ao ano, ainda é muito alta. Esta diferença entre as taxas do crédito rural e a remuneração da poupança deverá influir na decisão de muitos agricultores de utilizar parte de seus recursos na atual safra.
Roberto Campos Neto destacou ainda as iniciativas que o BC tomou para ampliar e criar canais de financiamento ao setor rural. Lembrou que o BC ajudou na construção da Medida Provisória do Agronegócio, que virou a Lei nº 13.986, em abril deste ano.
O texto trouxe um conjunto de estímulos ao desenvolvimento do mercado de capitais no financiamento do setor. Os títulos voltados ao financiamento do agronegócio, como CPR, CDCA e LCA, agora podem, por exemplo, ser emitidos e registrados de forma eletrônica.
Ele citou ainda a aprovação da Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) nº 4.801, de 9 de abril de 2020, com a prorrogação do reembolso das operações de crédito rural de custeio e de investimento; a contratação de Financiamento para Garantia de Preços ao Produtor (FGPP) ao amparo de Recursos Obrigatórios; e a criação de linhas especiais para pequenos e médios agricultores ao amparo do Pronaf e do Pronamp.
O desafio, enfatizou Campos Neto, é avançar no arcabouço legal para desburocratizar o crédito rural oficial, fazer ajustes para direcionamentos bancários, impulsionar o mercado de capitais voltado ao segmento do agronegócio, captar investimentos estrangeiros para o setor e desenvolver o mercado de Green Bonds.
Ao analisar a situação do agro, o presidente do BC salientou que, apesar da crise global, as exportações brasileiras seguem aumentando: “Foi um setor que não parou”. No contexto geral da economia brasileira, ele disse que, embora a retomada da confiança ainda não seja completa, os sinais positivos começam a aparecer. “Parece que teremos uma melhora. O Brasil vem melhorando sua previsão em relação ao PIB. Agora há uma recuperação mais rápida com a retomada parcial das atividades.”
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*Jornalista formado pela UFRGS, com pós-graduação em jornalismo econômico pela Faculdade de Economia e Administração (FAE/PR), ex-editor-chefe da Agência Brasil, ex-repórter e editor sênior da Gazeta Mercantil e ex-repórter da Folha de S.Paulo
Texto: José Ivanir Bortot*
Fotos: Agência Brasil