A Verdade Sobre a Maternidade: Entre a Dor, a Força e o Amor Incondicional

Desde muito jovem, eu sonhava em ser mãe. Tinha a ideia, como muitas meninas têm, de que a maternidade seria um caminho natural, quase instintivo, cheio de amor e momentos felizes. Mas, aos 17 anos, recém-formada no ensino médio e recém-casada, quando descobri que estava grávida do meu primeiro filho, percebi que a maternidade é muito mais do que isso — é um mergulho profundo em tudo o que somos, inclusive nos nossos medos.

O Samuel chegou para me ensinar o verdadeiro significado da força. Eu, que nunca tive medo de nada, passei a temer tudo: temia errar, falhar como mãe, não ser suficiente. Fui dura muitas vezes, não por frieza, mas por querer moldar um homem forte, sem tirar dele a doçura e a sensibilidade. A pressão que colocava sobre mim também recaía, sem querer, sobre ele.

Quando ele tinha oito anos, enfrentei uma das decisões mais difíceis da minha vida: o divórcio. não havia mais parceria, apenas o peso de tentar sustentar algo por medo — medo de não conseguir sozinha, e, principalmente, medo de ver meu filho sofrer. E ele sofreu. Samuel se culpou pela separação, desenvolveu depressão e transtorno de ansiedade generalizada. E eu, apesar de todo amor, muitas vezes me vi sem saber como agir. Mas mesmo perdida, estive lá. Sempre estive. Porque quando somos mães, mesmo sem todas as respostas, a gente não desiste.

A ausência do pai dele foi um capítulo à parte. Prefiro não falar das culpas e dos descasos, porque esse texto é sobre transformação — e não sobre omissões alheias. A maternidade não é um conto de fadas. É real, crua, solitária em muitos momentos. Mas é também esse lugar onde, mesmo quando tudo desmorona, a gente encontra uma força que não sabia que existia.

E então, dez anos depois de Samuel, quando eu acreditava que não poderia mais gerar outro filho — e entre idas e vindas de um relacionamento instável — vieram os enjoos. Achei que era gastrite. Mas era vida. Era a Helena. Quando ouvi o som do coração dela pela primeira vez, chorei. Ela era tão pequenininha, com o corpinho ainda no formato de um feijão, mas o coração batia acelerado, forte, cheio de vontade de viver. Naquele instante, eu soube: vinha uma menina, a minha menina. E eu estava certa.

A gestação foi de alto risco. Passei mais tempo entre maternidades e consultas do que em casa. Chorava de medo, medo de perdê-la, de incerteza, de solidão. A pessoa que eu mais amava me deixou sozinha em vários desses momentos. Mas eu entendi, mais uma vez, que não era meu papel ensinar um homem a ser pai. O que Helena precisava era de uma mãe inteira, não de alguém tentando consertar o que não quer ser mudado.

Helena lutou para nascer. Passou do tempo, fuii operada às pressas, com os batimentos cardíacos dela caindo. Mas ela quis viver. E vive — com sorrisos, inteligência, doçura e uma luz que preenche todos os espaços.

Hoje, olho para os meus dois filhos — Samuel, um menino educado, amoroso, forte e sensível. E Helena, minha pequena guerreira, avançada, esperta, tão cheia de vida. Eles são a razão pela qual eu me levanto todos os dias, pela qual enfrento os problemas, escondo as dores e mantenho, mesmo cansada, a minha melhor versão.

A maternidade, definitivamente, não são flores. Ainda mais quando se é mãe solo. Mas é transformadora. É semente, raiz, tempestade e primavera. E se alguém não é capaz de mudar por um filho, então talvez nada nesse mundo seja capaz de mudar essa pessoa.

Eu mudei. Eu cresci. E sigo me construindo todos os dias — por eles, por mim e pela mulher que a maternidade me ensinou a ser.

Texto: Beatriz Costa

Post Author: Beatriz Costa

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