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A saúde mental neste tempo de pandemia

Depressão, suicidio

Temos 30% de sofrimento por causa da pandemia e 70% pela situação do país e do mundo. A população parece obrigada a se posicionar seja pela vacina, reabertura dos comércios ou retorno as aulas, se acredita nisso ou naquilo

A psicologia é uma profissão, disciplina acadêmica e ciência que trata do estudo e análise do comportamento e dos processos mentais de indivíduos e grupos humanos em diferentes situações.

O psicólogo identifica traumas, medos e receios que podem acarretar uma vida frustrada. qual o objetivo de ir ao psicólogo? por que eles ajudam a superar situações difíceis ou problemáticas?

Hoje vamos entrevistar uma psicóloga para sabermos como estão as pessoas neste tempo de pandemia.

SABRIE SEVERO JABBOUR

Psicóloga – CRP 07/07164

1- Como está a saúde mental das pessoas nesse período de pandemia?

 -No início as pessoas ficaram muito assustadas e com muitas incertezas, os pacientes no consultório tinham muito medo de tudo. 

Ficamos um tempo sem pacientes, depois que passou esse momento, nós profissionais começamos a observar muita ansiedade com relação ao que iria acontecer.

Neste atual momento as pessoas estão muito melancólicas, uma tristeza, falta de esperança e aí começam os riscos de suicídios. Agora temos muita procura de pacientes no consultórios e CAPS. O confinamento e o trabalho remoto tem levado as pessoas a exaustão é outro sentimento de saúde mental que tem aparecido, pessoas cansadas, tendo que aprender tecnologias novas no trabalho em casa. Antes as pessoas saiam de seus trabalhos e iam pra casa, agora o trabalho está em casa 24 hs por dia e finais de semana.

 Não somos pessoas para vivermos sozinhas, a pandemia trouxe uma solidão muito grande, principalmente para quem não estava bem, essas pessoas estão piores agora. Quem estava organizado no meio afetivo, tem um pouco de ansiedade, mas estão levando. As pessoas que estão piores: os solteiros e com dificuldade de construir uma vida afetiva familiar, porque a rede de amigos vai se distanciando. A relação família é uma e a relação afetiva de amigos é outra, nesses momentos extremos, não dá pra sair de casa, sair com amigos, a família ganhou uma importância muito grande, estão mais próximas. Temos nessas pessoas um risco de suicídio muito alto.

 

2- Como estão se sentindo às crianças, pois temos crianças presas em casa por meses. Crianças que choram com medo de ir pra rua?

-O que acho mais preocupante em relação às crianças é a questão dos eletrônicos, nesse momento a vida além de ficar sem graça, sem saírem, sem exercícios, sem verem amigos, porque sair sozinho não é a mesma coisa que com amigos. Está acontecendo uma compulsão por eletrônicos, as aulas estão acontecendo pela internet, nos computadores e celulares. Já tinha uma tendência muito forte nesse sentido. Não tenho trabalhado com crianças nesse momento, mas os pais comentam que está muito difícil de tirar os eletrônicos. As crianças, adolescentes e professores estão cansados das aulas virtuais, o aprendizado está prejudicado, as aulas remotas estão cansativas para ambas as partes. Todos estão exaustos e estressados.

3-Os idosos, como estão se sentindo, com esse medo de pegar a doença e morrer?

-Em nome do cuidado que temos que ter com eles, eles estão em uma profunda solidão, sorte dos idosos que convivem com a família. Porque uma situação é eu proteger meu idoso por um tempo, outra é viver em isolamento. Eles não querem dar trabalho e nem romper com os cuidados, mas é muito cruel. Daqui a pouco esse idoso acaba ficando doente ou vindo a falecer por outra coisa e deixou de conviver com os netos, amigos, não conviveu com os familiares e vão se esgotando sozinhos dentro de casa. Não poder pegar um sol, caminhar um pouco, vou lendo e estudando sobre a pandemia e o contágio só acontecem com as pessoas que estão muito próximas. A radicalidade que alguns tratam a pandemia, com muito medo, extremismo e adoecem mais a cada dia.

4-Aumentaram os pacientes com depressão nesses últimos 5 meses?

– Sim, agora quanto mais o tempo for passando, mais os pacientes vão chegando, sinto que o mês de julho e agosto teve uma certa explosão, as pessoas foram suportando, foram levando, aguentando, mas quando elas começam a acompanhar notícias de que a pandemia não tem data para terminar, a OMS diz que a vacina não vai adiantar, essas notícias acabam tirando a esperança das pessoas, muito triste, de venderem uma ideia que as pessoas vão viver isoladas, de máscaras, que vão ter muitas restrições, notícias erradas sobre a vacina, são notícias que tiram a esperança de todos e o que tem chegado no consultório é que a vida está ruim, a vida está triste.

Temos trabalhado para que as pessoas desliguem a televisão, pois só fala em morte e a internet também. Vamos ter esperança, a vida vai voltar ao normal. Temos uma politização muito grande nesse momento.

5-Estamos com muitos desempregados e sem perspectiva de vida, depressivos, como você acha que ficarão suas mentes, já que nem todo mundo vai num psicólogo?

O desemprego está sendo muito cruel, às pessoas estão divididas, entre as que tem o seu ganha pão garantido, estão sofrendo com trabalhos remotos e aquelas que não tem dinheiro, empresários grandes e pequenos, e outras profissões, precisam pagar o aluguel, a conta de luz, funcionários, está bem difícil.

Esse dano mensal é imenso, as pessoas têm vivenciado muita raiva, muita indignação pela violação de seus direitos. Fecham os comércios como se eles fossem os únicos culpados pela transmissão do vírus, sem critérios de como conduzir esse processo, uma violência enorme. Pacientes chegam desesperados porque perdendo o que construíram, não sabem conviver com a angústia, raiva e indignação, sendo que o estado invade a vida e os direitos individuais, de uma forma violenta e sem cuidado.

Quanto a procurarem os psicólogos, existe a dificuldade financeira, preconceito, quanto às finanças nós temos plantões nos CAPS, onde atendemos todos que chegam lá

6-Como você acha que ficará a “mente” do nosso país, que está doente?

Nosso país está muito doente, não é de hoje, vejo amigos e famílias divididas, todos sofrendo como se as pessoas fossem obrigadas a se posicionarem politicamente, seja pela vacina, pela política, pelo uso da cloroquina, se acredita nisso ou naquilo. Estamos vivendo um momento Bipolar do país, onde toda a população adoece.

Temos extremos muito radicais, as pessoas estão perdendo o equilíbrio, senão você é acusado de ser meio termo, de não se posicionar, de ser omisso. Temos 30% de sofrimento por causa da pandemia e 70% do sofrimento em função do momento político do país e do mundo. Não estão preocupados com a saúde das pessoas e os meios de comunicações estão enlouquecendo a população.

Nesse momento as pessoas estão sem esperança, melancólicas, com medo, uns acreditando que tudo vai passar logo e outros não. Vamos ter que reconstruir nosso cérebro, a nossa mente, ela é muito influenciável. Alguns se protegendo dos meios de comunicações, que influenciam enlouquecidamente e outros acompanhando de perto e estão adoecendo cada vez mais.

Texto Márcia Ximenes Nunes

Edição: Dulce Maria Rodriguez

Fotos: Reprodução

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