A importância da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) para o Exército Brasileiro (EB) está diretamente relacionada com sua vocação e tradição em realizar o mapeamento do território nacional, a partir das quais derivam outras capacidades de interesse da Força Terrestre.
Nacionalmente, tal como regrado no Decreto-Lei n° 243, de 28 de fevereiro de 1967 (BRASIL,1967) e na legislação complementar, a DSG e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são órgãos envolvidos diretamente com a produção da geoinformação, uma vez que fazem parte do Sistema Cartográfico Nacional (SCN). Ambas as instituições são responsáveis pela normatização e realização do mapeamento sistemático brasileiro em escalas maiores e menores que 1:250.000, respectivamente.
A missão da DSG é prestar apoio técnico-normativo no âmbito do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), superintendendo as atividades relacionadas às imagens, às informações geográficas e meteorológicas e à elaboração de produtos cartográficos, bem como ao suprimento e à manutenção do material técnico de sua gestão (BRASIL, 2008).
Em função das dimensões continentais do Brasil, a DSG, para cumprir seu papel, organiza e planeja suas atividades dividindo o País em cinco Áreas de Suprimento Cartográfico (ASC), em que, para cada uma delas, existe um Centros de Geoinformação (CGEO) que atua como braço operacional, viabilizador dos projetos a serem executados em prol do mapeamento e fornecedor de geoinformação para as organizações militares (OM) de sua área de responsabilidade.
Dessa forma, está dentro do EB uma das estruturas nacionais vocacionadas para coordenar, produzir e disseminar geoinformação, trazendo uma série de vantagens que podem ser comprovadas ao se identificar algumas das características dos produtos e serviços oferecidos (MORETT NETTO, 2018).
A DSG, em sua essência, atua na produção e disseminação da geoinformação básica, assim denominada não por ser simples ou elementar, mas por ser aquela considerada basilar e fundamental, da qual dependem e derivam outros produtos de geoinformação. Essa geoinformação se contrasta, de certa forma, com a geoinformação temática, que por sua vez pode ser derivada da primeira e visa a atender demandas de usuários específicos. Por isso, a geoinformação produzida no Serviço Geográfico é estratégica, uma vez que constitui a base de informações espaciais sobre a qual podem ser adicionadas outras camadas, gerando produtos voltados para os mais variados temas, incluindo as operações militares (BRASIL, 2013).
A linha de produção do Serviço Geográfico conta com rigoroso controle de qualidade, possibilitando a entrega de produtos confiáveis. Os processos de certificação da DSG avaliam os aspectos posicionais, buscando confirmar se a precisão das coordenadas das feições representadas nos produtos de geoinformação estão compatíveis com as coordenadas do objeto real no terreno. Realiza-se, também, outras verificações, incluindo a confirmação no terreno dos aspectos de natureza e das características das feições representadas, bem como controlando e corrigindo o excesso ou a omissão de informações. Para isso, equipes técnicas são enviadas a campo para realizar trabalhos de checagem e confirmação. Com isso, assegura-se aos usuários itens com alto padrão de qualidade em múltiplas dimensões, sendo disponibilizados ao EB produtos que passaram por verificação in loco (GARCÍA-BALBOA, 2011).
O processo produtivo da geoinformação básica é extremamente laborioso. Nesse contexto, para mapear regiões como a Amazônia brasileira, são realizados projetos de difícil execução, não só pelas dimensões abrangidas, mas pelos obstáculos impostos e que envolvem, muitas vezes, soluções que estão além do limite da tecnologia disponível. Por isso, obter e disponibilizar a geoinformação básica é algo desafiador, caro e demorado, requerendo esforço diferenciado por parte dos envolvidos em sua produção. Os desafios tecnológicos superados na execução dos projetos de mapeamento permitem o acúmulo de conhecimento e experiência, fazendo com que a DSG possa ser encarada como mais uma das ilhas de excelência do EB e referência nacional quando o assunto é geoinformação.
A solução para as dificuldades enfrentadas na produção da geoinformação básica são superadas graças à atuação conjunta do binômio de sucesso formado por Oficiais do Quadro de Engenheiros Militares (QEM) cartógrafos e pelos oficiais e praças de topografia, ambos presentes na DSG e nos Centros de Geoinformação. Como consequência, o Serviço Geográfico reúne pessoal habilitado e capacitado para oferecer soluções inovadoras e resolver problemas complexos relacionados com a produção e disseminação de geoinformação.
Se o desafio de produzir geoinformação vem sendo superado com recursos humanos qualificados e tecnologia, o mesmo pode-se dizer da disseminação. Os produtos que outrora só eram oferecidos em sua versão analógica e ficavam armazenados nas mapotecas dos Centros de Geoinformação, agora são disponibilizados na versão digital, por meio do Banco de Dados Geográficos do Exército (BDGEx), que reúne todo o acervo de produtos da DSG. Cabe destacar que o BDGEx constitui uma solução nascida dentro do Serviço Geográfico, com tecnologia e códigos de programação sob o total domínio do EB para disponibilizar, de forma tempestiva, o enorme acervo de cartas topográficas, imagens e modelos digitais do terreno, de grande interesse para os mais variados empregos militares (DSG, 2020a).
Ao ser capaz de executar os trabalhos mais difíceis, o Serviço Geográfico acaba por gerar em suas estruturas importantes capacidades derivadas. A qualificação do corpo técnico, os equipamentos empregados e a linha de produção permitem não só produzir e disseminar geoinformação básica, mas também realizar levantamentos topográficos e prestar assessoramento na modelagem de sistemas de informações geográficas (SIG), bem como realizar análise, identificação de alvos, representações espaciais, ministrar cursos e estágios em geotecnologias, digitalizar e imprimir produtos cartográficos e prestar o apoio direto às operações e atividades militares.
O papel normatizador do Serviço Geográfico é outro aspecto a ser destacado. Além de produzir a geoinformação básica, a DSG tem por lei a prerrogativa de definir quais os formatos e padrões que esses produtos devem obedecer, favorecendo a interoperabilidade de produtos e serviços. A criação de produtos interoperáveis atende a interesses do EB, que pode definir as especificações dos produtos de tal forma que estejam em conformidade com seus sistemas e equipamentos, ou de modo a atender a interesses de intercâmbio de dados com outras instituições e, até mesmo, com outros países.
Portanto, esses e outros fatores demonstram a importância da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG), tendo em vista o valor agregado dos produtos e serviços que disponibiliza para o EB, o quadro técnico competente e experiente, bem como a entrega de produtos e serviços estratégicos, com qualidade e grande potencial interoperável.
A necessidade de conhecer o terreno de forma básica e resoluta está relacionada com as atividades de natureza militar (SUN TZU), sendo que o papel da DSG vem sendo essencial para suprir esse tipo de demanda do EB ao oferecer a valiosa geoinformação básica.
Fonte: Cel Osvaldo da Cruz Morett Netto, Chefe do 4º Centro de Geoinformação (4º CGEO);
Fotos: Reprodução/ Diretoria de Serviço Geográfico;