Coordenados pelo Idesam, 14 associações de produtores de sete municípios amazonenses, produzem a marca de óleos Inatú que gera renda e melhora a qualidade de vida da população
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Um projeto financiado pelo Fundo Amazônia fomenta a produção e a comercialização de óleos produto da extração de resinas e frutos das árvores nativas da região.
Com foco na gestão e na melhoria das condições de trabalho e de vida dos extrativistas, o projeto é coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam).
Neste ano, foi desenvolvida uma marca coletiva de óleos essenciais da Amazônia, a Inatú, com o objetivo de aumentar a rentabilidade dos extrativistas e atrair consumidores do todo o país.
Já vendida também em Belém, no Pará, na capital paulista e com as exportações começando a engrenar, a marca poderá render até R$ 2 milhões por ano às 14 associações de produtores – que reúnem 2,5 mil pessoas de sete municípios amazonenses – atendidas pelo Cidades Florestais.
“Isso faz a floresta em pé ter valor econômico, gera renda e melhora a qualidade de vida da população”, diz André Vianna, gerente do Idesam e responsável pelo projeto.
As boas perspectivas em relação à marca coletiva, lançada em agosto, são fruto dos resultados individuais das associações, que venderam R$ 1,4 milhão de meados de 2019 para cá. Foram 28 toneladas de óleos vegetais comercializados. “A marca coletiva é uma forma de vender melhor o produto e ajudar as associações”.
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Exemplo desse sucesso é o óleo essencial de breu, feito a partir da resina do tronco das árvores para uso cosmético, vedação de embarcações e como incenso. Um litro desse óleo, produzido e envasado pelos extrativistas com a nova marca, foi vendido por R$ 1,6 mil e enviado à Flórida, nos EUA. “Foi surpreendente alcançar esse valor”, diz Diana Prado, presidente da Associação dos Agroextrativistas das Comunidades da Reserva RDS do Uatumã (AACDRSU).
Até então, o breu era encarado apenas como um produto de menor valor agregado, produzido em forma sólida e vendido uma vez por mês nas cidades. Algumas vezes era usado como moeda de troca pelo “rancho”, a compra mensal de mantimentos. “Um quilo de breu bruto é vendido a R$ 5, basicamente para calafetar embarcações. Estamos empolgados com o óleo, algo novo que o projeto apresentou”, afirma Diana.
Produtos
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“Com a Inatú, esperamos consolidar as cadeias produtivas e atender melhor o mercado, além gerar mais valor”, ressalta André Vianna, do Idesam.
Inicialmente, haverá quatro produtos da marca, feitos a partir de copaíba, andiroba, café verde e breu.
Mas a previsão é que até o fim do ano sejam lançados óleo de açaí, azeite de buriti, creme de tucumã e manteiga de murumuru, espécies de palmeiras típicas da região.
A produção
As associações já fornecem produtos para empresas como Natura, Beraca, Chemyunion e doTERRA. Elas recebem lotes de até 50 quilos de óleos. As usinas das associações envasam em embalagens de um a cinco litros e os repassam para revendedores e empresas de pequeno e médio portes, que fazem o processo de análise exigido pela vigilância sanitária para comercialização em frascos menores.
Com R$ 12,2 milhões do Fundo Amazônia, do BNDES, o Cidades Florestais investiu na construção de duas mini usinas para beneficiamento dos óleos e na compra de máquinas e equipamentos, como tratores, quebradores, destiladores, filtros prensas e ecoserras para ampliar a capacidade de produção.
O projeto também custeia consultoria técnica e de gestão, como a contratação de contabilistas para cada associação, localizadas na região de Lábrea, Silves, Carauari, Apuí e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã.
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Ao todo, os produtores da Inatú têm hoje cinco usinas, cada uma com capacidade média para processar três toneladas por mês de óleos fixos (gorduras, óleos e manteigas) e até 90 litros de óleos essenciais. Como a safra da maioria dos produtos é no início do ano, as estruturas têm capacidade de armazenamento e de processamento o ano inteiro. E acabam por estimular cultivos como o café em sistemas agroflorestais.
O projeto bancou também a instalação de torres de internet nas usinas e desenvolveu um aplicativo no qual os extrativistas podem registrar o local exato da floresta de onde retiraram os produtos. As informações são armazenadas e o óleo que chega ao consumidor conta com um QR Code com toda a rastreabilidade da produção.
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A melhor organização das associações, com contratos futuros de fornecimento, já se reverteu em maior rentabilidade. Em uma delas, os extrativistas passaram a receber R$ 37 pelo quilo da copaíba contra R$ 19 antes.
Os resultados vão além disso. Nas regiões atendidas o desmatamento caiu até 80%. “Hoje os caboclos têm consciência de preservar a floresta. Se sentem mais motivados porque é daqui que vamos tirar nosso sustento e o dos nossos filhos”, resume Diana Prado.
Texto Dulce Maria Rodríguez com informação da Assessoria
Fotos: Reprodução