Comunidades ribeirinhas que vivem da visita de turistas enfrentam dificuldades diante de pandemia mundial da Covid-19
Cerca de 25 pessoas entram na embarcação com a promessa de um passeio original pela Amazônia e seus atrativos. Saindo do Rodway do Porto de Manaus diariamente, turistas são levados para o famoso cartão postal Encontro das águas e seguem para um importante vilarejo. O passeio ecológico é um dos mais buscados por turistas nacionais e mundiais e movimentam anualmente a economia amazonense.
A comunidade do Catalão conta com cerca de 100 casas flutuantes. Na chegada já é possível ver como as famílias trabalham no ramo turístico. Uma espécie de piscina natural separa o peixe tradicional da região: o pirarucu. As piscinas estão divididas com peixes mais novos e outros de grande porte.
A casinha de madeira conta com produtos fabricados pelas famílias de forma artesanal, produtos de madeiras, sementes, escamas, palhas e folhas. Uma infinidade de objetos são recriados com a matéria prima da natureza. Um brinco de sementes não sai por menos de R$10 e uma escultura do Pirarucu pode chegar até $2 mil, dependendo do tamanho e capricho na pintura.
Enquanto uma moradora vende cocos para os turistas se refrescarem no calor amazonense, outra fica no caixa oferecendo iscas de peixes com um caniço. Para os visitantes que desejam fazer a pescaria esportiva do pirarucu, os preços variam de R$ 2 a R$ 5. Para aqueles que não querem, precisam se contentar em estar separado por uma espécie de portão e observar os animais menores no viveiro.
Embora o local humilde e rústico, não existe a falta de tecnologia. Não precisa pagar em dinheiro, pode usar a maquineta de cartão de crédito ou débito e desfrutar da iguaria desconhecida pelo homem da cidade.
O estudante Gabriel Rocha de 23 anos foi pela primeira vez no passeio e explica que não imaginava que mesmo em uma comunidade fora da cidade teria o serviço de compra no débito e crédito. “Eu vim preparado, saquei o dinheiro porque não imaginava que usaria o cartão”, disse.
Crise
Convenhamos, se cada turista pagar a isca de R$ 5, temos R$125 em apenas 20 minutos de visita. Se pelo menos 10 mulheres se interessarem pelos brincos artesanais, temos R$ 100 em caixa para a comunidade, e assim sucessivamente. Em uma hora pelo menos 3 barcos levam visitantes à comunidade e esse valor triplica diariamente.
Com a crise na saúde, os locais para visitação turística permanecem fechados e sem autorização para receberem turistas. A grande problemática é saber se uma comunidade que usa o natural para comercializar conseguirá sobreviver nos próximos meses sem a atuação do turismo amazonense.
O momento é de isolamento, mas comunidades que subsistem com a venda de materiais naturais são as que mais sofrem na pandemia. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, contabiliza que o setor do turismo no Brasil gerou um faturamento de R$ 238,6 bilhões em 2019 e emprega formalmente cerca de 2,9 milhões de pessoas.
Entidades estão em busca junto ao ministério do Turismo a adoção de medidas emergenciais e assim permitirem a sustentabilidade do setor, entre elas, linhas de crédito com carência de pagamento, liberação de FGTS e padronização das políticas de remarcações e cancelamentos de viagens. Segundo pesquisa da empresa Arival, se os passeios continuarem cancelados por um ano, cerca de 65% das agências irão à falência.
Uma das medidas a serem adotadas seria a permissão de passeios em menor escala em tour, com restrições do Ministério da Saúde, mas ninguém se permite arriscar, nem fornecedores e muito menos, cliente conforme aponta turismólogos.
A moradora da comunidade Raimunda Viana, explica que vivem do que pescam e da produção na natureza. A comunidade aguarda por dias melhores, mas preferem não subestimar a doença.
“Está difícil, mas é melhor do que correr um risco, temos muito cuidado para evitar uma contaminação”, explicou.
Enquanto isso, o setor está em busca de novas soluções para enfrentamento da crise. O momento agora é, ao invés de vender, consumir o que foi produzido e aguardar a crise que ataca todos os setores no mundo acabar.
Texto: Bruna Oliveira Fotos: Bruna Oliveira e Raimunda Viana