Tasso Azevedo está gripado. O homem do ano da GQ Brasil na categoria ESG convive há alguns dias com febre e pouca voz. Mas, ao contrário do resfriado que acometeu o cantor Frank Sinatra, imortalizado em um perfil escrito pelo jornalista Gay Talese, quando enfrentava a doença, a gripe de Tasso não o impede de realizar o que faz melhor: usar dados e ciência para combater a crise climática.
No domingo em que seguiria para a redação da GQ, onde seria fotografado, Tasso preparava as malas para uma conferência sobre florestas e comunidades promovida pela Fundação Prince Albert, de Mônaco, de cujo Conselho de Desenvolvimento recentemente passara a fazer parte. Na sequência, embarcaria para a COP 28, a maior conferência climática do mundo. “Sem ações locais, nacionais e globais não é possível ter uma agenda robusta que nos leve à emissão zero (de CO2) e à adaptação aos impactos (climáticos) que já estamos sentindo”, diz Tasso.
O reconhecimento e as pontes construídas com instituições internacionais não são uma exceção na rotina desse engenheiro florestal de 51 anos. Em janeiro de 2023, o MapBiomas, instituição liderada por Tasso, foi premiado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Venceu na categoria Inovação Social Coletiva, oferecida pela Fundação Schwab.
O MapBiomas é uma iniciativa que começou em 2015 mapeando a utilização da terra no país. “O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, e mais de 70% de nossa emissão se relaciona a como usamos o território; à agricultura, à pecuária e ao desmatamento.”
A sacada do MapBiomas é que, entendendo a dinâmica de uso da terra, é possível apoiar a tomada de decisão para promover a conservação dos recursos naturais. Como? Negando crédito a quem desmata, por exemplo: “Atualmente, oito dos dez principais bancos que participam do crédito rural no Brasil, incluindo BNDES, Banco do Brasil, Santander, Bradesco, Itaú e Sicred, usam nossos dados para evitar que o financiamento acabe em áreas desmatadas ilegalmente. Somente no Banco do Brasil foram mais de 11 mil processos indeferidos em um ano”.
Definido por seus colegas de trabalho como um homem “minimalista” no estilo de se vestir, para a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, Tasso “é especialista em colocar coisas difíceis de pé”. Quando sua filha tinha 5 anos, ele explicava seu trabalho dizendo que “juntava pessoas para fazer o mundo ficar melhor”. Foi trabalhando com Marina Silva, no segundo governo Lula, que Tasso Azevedo idealizou o bilionário Fundo Amazônia, ao qual governos de países como Alemanha e Noruega pagam quando o Brasil diminui suas emissões de gases de efeito estufa.
Mas Tasso não se contenta com o maior fundo de conservação de florestas no mundo. “Precisamos ir mais longe”, diz ele. “Em breve, veremos o lançamento de uma iniciativa que propõe o pagamento de um valor anual para cada hectare de floresta tropical conservado ou restaurado no mundo.” Segundo o incansável empreendedor socioambiental, será uma revolução.
Foto: Sandór Kiss e reprodução