Por que a Amazônia é vital para o mundo?

Possui a maior diversidade do planeta, mais de 10 mil espécies de plantas da área têm princípios ativos para uso medicinal, cosmético e controle biológico de praga. È uma das grandes reservas de madeira tropical e o Rio Amazonas é responsável por quase um quinto das águas doces levadas aos oceanos no mundo

Sobre a Amazônia pesam afirmações como “pulmão do mundo”, “floresta tropical de maior biodiversidade do planeta”, “região que tem o maior rio da Terra”, “na Amazônia está quase um terço da água doce do mundo”, razões suficientes para que se voltem, para essa região, olhares, radares e preocupações de  países, organizações mundiais, empresas e cientistas.

Como a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui a maior biodiversidade, com uma em cada dez espécies conhecidas. Também há uma grande quantidade de espécies desconhecidas por cientistas, principalmente nas áreas mais remotas. Assegurar a biodiversidade é importante porque ela garante maior sustentabilidade natural para todas as formas de vida, e ecossistemas saudáveis e diversos podem se recuperar melhor de desastres, como queimadas.

Preservar a biodiversidade amazônica, portanto, quer dizer contribuir para estabilizar outros ecossistemas na região. O recife dos corais da Amazônia, por exemplo, um corredor de biodiversidade entre a foz do Amazonas e o Caribe, é um refúgio para corais ameaçados pelo aquecimento global por estar em uma região mais profunda.

A biodiversidade também tem sua função na agricultura: áreas agrícolas com florestas preservadas em seu entorno têm maior riqueza de polinizadores, dos quais depende a produção de alimentos, como café, milho e soja.

A Amazônia, com sua natureza exuberante e ao mesmo tempo frágil, acolheu uma grande diversidade de povos, ao longo da história, no interior de suas matas e na beira dos rios. Nessa região vivem cerca de 180 povos indígenas, somando uma população de aproximadamente 208 mil indivíduos, além de 357 comunidades remanescentes de quilombolas e milhares de comunidades de seringueiros, ribeirinhos ou babaçueiros.

Produtividade

A área da Floresta Amazônica, ao contrário de ser improdutiva, produz imensas quantidades de água para o restante do país. Os chamados “rios voadores”, formados por massas de ar carregadas de vapor de água gerados pela evapotranspiração na Amazônia, levam umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Esses rios voadores também influenciam chuvas na Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e até no extremo sul do Chile. A umidade vinda da Amazônia e os rios da região alimentam regiões que geram 70% do PIB da América do Sul.

Segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro pode bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água em forma de vapor por dia – mais que o dobro da água usada diariamente por um brasileiro. Uma árvore maior, com copa de 20 metros de diâmetro, pode evapotranspirar mais de 1.000 litros por dia, bombeando água e levando chuva para irrigar lavouras, encher rios e as represas que alimentam hidrelétricas no resto do país.

Assim, preservar a Amazônia é essencial para o agronegócio.

Estima-se que 9% da Floresta Amazônica tenha desaparecido entre 1985 e 2017, reduzindo sua capacidade de absorver as emissões de carbono que estimulam as mudanças climáticas.Esse desaparecimento é em grande parte causado pelo desmatamento para atividades agricolas em particular a pecuária.

A produção de gado tem uma margem de lucro extremamente baixa na Amazônia, além de demandar uma extensa área de terra para pastagem. Esses fatores levam os agricultores a ilegalmente desmatarem a floresta para expandir as pastagens. 

A regulamentação ambiental da Amazônia brasileira ajudou os fazendeiros a melhorarem os negócios de outras formas também, segundo pesquisa da professora-assistente da Universidade Boston Rachael Garrett. O aprimoramento das pastagens no Mato Grosso levou o número anual de bovinos abatidos por acre dobrar, o que significa que os agricultores estão produzindo mais carne com suas terras — e, portanto, ganhando mais dinheiro.

Hoje, 12% da Amazônia brasileira, ou 93 milhões de acres, é usada para o agronegócio, principalmente a pecuária, mas também para a produção de soja. Fazendeiros da Amazônia estão plantando e colhendo duas safras — principalmente soja e milho.

Os pecuaristas que integram os cultivos às áreas de pastagem podem mais do que quadruplicar a quantidade de carne produzida, uma vez que o gado criado em sistemas integrados de cultivo e pecuária ganha peso mais rapidamente, poupando o que resta da Floresta Amazônica do desmatamento.

Essas práticas de pecuária sustentável também reduzem os gases de efeito estufa associados à produção de carne e couro. Vacas bem nutridas são abatidas mais cedo, resultando em menos arrotos por vaca por vida e levando a emissões de metano menores.

No entanto, o sistema agroflorestal (SAF) tem se consolidado como método sustentável de produzir alimentos em meio à maior selva equatorial do planeta. Os agricultores plantaram  cacau, maracujá, leguminosas, espécies florestais (como castanheira, mogno, ipê) e culturas anuais (como melão, mamão, arroz e milho) para garantir produção e renda.

 

Produtos da floresta

Hoje o avanço capitalista sobre a Amazônia é como uma fera, quase indomável. Motosserras e tratores fazem parte de programas oficiais de devastação. As grandes serrarias, que já exauriram o potencial madeireiro em outras regiões do mundo, agora seguem resolutas em direção à Amazônia, com o discurso da “exploração sustentável”, ostentando diplomas de “certificação verde” e com projetos de “auto-sustentabilidade” na Amazônia.

O desmatamento prejudica a evapotranspiração e, por consequência, os recursos hídricos de superfície (rios e lagos) e os subterrâneos (aquíferos), podendo afetar, assim, o regime de chuvas no restante do país e diversas atividades econômicas. Como resultado do desmatamento, até 65% da Amazônia corre o risco de se transformar em savana ao longo dos próximos 50 anos.

Além disso, o Rio Amazonas é responsável por quase um quinto das águas doces levadas aos oceanos no mundo.

As espécies da Amazônia também são importantes, pelo seu uso para produzir medicamentos, alimentos e outros produtos. Mais de 10 mil espécies de plantas da área possuem princípios ativos para uso medicinal, cosmético e controle biológico de pragas.

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, mostrou que a planta unha-de-gato, da região Amazônica, além de ser utilizada para tratar artrite e osteoartrose, reduz a fadiga e melhora a qualidade de vida de pacientes em estágio avançado de câncer.

Produtos da floresta são comercializados em todo o Brasil, como açaí, guaraná, frutas tropicais, palmito, fitoterápicos, fitocosméticos, couro vegetal, artesanato de capim dourado e artesanato indígena. Produtos não-madeireiros também têm grande valor de exportação: castanha do Brasil, jarina (o marfim vegetal), rutila e jaborandi (princípios ativos), pau-rosa (essência de perfume), resinas e óleos.

O que é a  Amazônia Legal?

O conceito de Amazônia Legal foi instituído pelo governo brasileiro como forma de planejar e promover o desenvolvimento social e econômico dos estados da região amazônica, que historicamente compartilham os mesmos desafios econômicos, políticos e sociais.

Baseados em análises estruturais e conjunturais, seus limites territoriais tem um viés sociopolítico e não geográfico, isto é, não são definidos pelo bioma Amazônia – que ocupa cerca de 61% do território nacional e se estende também pelo território de oito países vizinhos -, mas pelas necessidades de desenvolvimento identificadas na região

A Amazônia Legal é uma área de 5.217.423 km², que corresponde a 61% do território brasileiro. È uma área que engloba nove estados do Brasil pertencentes à bacia Amazônica e à área de ocorrência das vegetações amazônicas.  

Além de abrigar todo o bioma Amazônia brasileiro, ainda contém 20% do bioma Cerrado e parte do Pantanal matogrossesense.

Ela engloba a totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Estado do Maranhão. Apesar de sua grande extensão territorial, a região tem apenas 21.056.532 habitantes, ou seja, 12,4% da população nacional e a menor densidade demográfica do país (cerca de 4 habitantes por km²).

Nos nove estados residem 55,9% da população indígena brasileira, cerca de 250 mil pessoas, segundo a FUNASA. Aproximadamente 180 povos indígenas (ou 77% deles) vivem na Amazônia legal.

Nela também está a Bacia Amazônica, a maior bacia hidrográfica do mundo, com cerca de um quinto do volume total de água doce do planeta. Por abranger 3 biomas, exibe a elevada biodiversidade dos mesmos. Na Amazônia são aproximadamente 40 mil espécies de plantas e mais de 400 de mamíferos. Os pássaros somam quase 1.300, e os insetos chegam a milhões. Os rios amazônicos guardam outras 3 mil espécies de peixes

Desafios

A campanha para integrar a região à economia nacional, entretanto, teve impactos ao meio ambiente que ainda são sentidos e combatidos. Como uma das últimas grandes reservas de madeira tropical do planeta, a região amazônica enfrenta um acelerado processo de degradação ambiental.

Outro problema, segundo os ambientalistas é a expansiva agropecuária, sem parâmetros de controle, com modelo de produção ainda antiquado que requer enormes extensões de terra. Há, ainda, os projetos de desenvolvimento que avançam pelos rios, na forma de grandes hidrelétricas, e pelas províncias minerais, em forma de garimpo legal e ilegal. Tudo isto ocorre, inclusive, em áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação.

Os alertas de desmatamento aumentaram 25% no primeiro semestre de 2020, em relação a igual período do ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Se comparado com o primeiro semestre de 2017, os números mais que dobraram. Na ocasião, o mesmo sistema de alerta apontava para um desmatamento de um pouco mais de 1.300 km². E, em 2020, já passam de 3 mil km².

As terras indígenas na Amazônia legal, como no restante do país, são extremamente vulneráveis, invadidas constantemente por madeireiros, garimpeiros, peixeiros, rizicultores, fazendeiros, posseiros, biopiratas e outros aventureiros em busca do lucro fácil.

A consciência de que a Amazônia é um paraíso a ser preservado é forte, mas vale destacar que aquí há milhares de pessoas precisando de alimentos e que a produção do setor primário é uma das menores do país, pelas restrições ambientais.

Texto Dulce Maria Rodriguez

Fontes de estudo:

: *Amazônia indígena: conquistas e desafios, Egon Heck; Francisco Loebens; Priscila D. Carvalho

*Proteções rigorosas na Amazônia melhoram a agricultura brasileira, Rachael Garrett, professora-assistente da Universidade Boston.

*Empraba

Fotos: Reprodução

Post Author: Agro Floresta

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