Hoje dia 02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e vamos entrevistar a mãe de uma criança autista para conhecermos melhor o que essa mãe sente

 

Lembrem-se: pessoas com autismo têm sentimentos também. Seja sensível e tolerante.

O autismo é o nome técnico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito ou hiperfoco e movimentos repetitivos).

É preciso iniciar o tratamento o quanto antes, porque serão maiores as possibilidades de melhorar a qualidade de vida da pessoa , o AUTISTA  precisa de vários profissionais como o médico, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e muitos outros.

A cor do autismo é o azul e o símbolo é o quebra-cabeça que denota sua diversidade e complexidade, criado em 1963.

Nossa entrevistada de hoje é Nariele Lopes Carlesso, Tecnóloga em Agropecuária em sistema de produção e a mãe do querido autista Ângelo Lopes Carlesso de 7 anos de idade, moram em Alegrete-RS

 

Como foi quando você ficou sabendo do diagnóstico de autista?

…”Quando eu descobri que meu filho podia ser um autista, eu me desesperei, foi  um horror pra mim, comecei a chorar, porque imaginei uma criança num canto, se debatendo, gritando, porque vimos muitos casos assim, o que é normal em uma criança autista. O Ângelo não tinha um ano ainda quando começamos a perceber que ele poderia ser autista. Ele não olhava pra gente, não falava, não buscava ajuda, era eu que alcançava as coisas pra ele, não interagia conosco…

Tivemos muita sorte e com vários profissionais da área nos apoiando, então procuramos ajuda desde cedo. Levamos  para uma escola de autista na cidade de Santa Maria – RS, “o Mundo Novo”, foi muito maravilhoso ele freqüentar as aulas, era uma vez na semana a aula, mas muito proveitosa cada uma delas. Ele aprendeu a contar os números, a nos olhar e interagir, começou a falar e ao mesmo tempo ele freqüentava a escola “Vida” em Alegrete…”

 

Como foi ele freqüentar a escola, você sentiu preconceito em relação ao autismo?

…”Entrar na escola foi tranqüilo, porque a escola Vida sempre foi maravilhosa comigo e com ele. Mas no primeiro ano de escola eu saia chorando todos os dias da escola. Porque eu via nos olhares das outras mães, claro que o Ângelo puxava o cabelo dos colegas, às vezes batia nos coleguinhas, também tinha os alunos que ele nem batia, mas ficavam com medo dele. As mães foram reclamar dele na escola, mas a escola sempre me deu suporte para enfrentar tudo isso, até porque é uma escola que sempre foi bastante inclusiva. Mesmo assim eu saia todos os dias chorando, com medo e preocupada com ele em relação às outras pessoas”…

 

… “As pessoas me machucavam apenas com o olhar delas de julgamento, mas não posso generalizar, porque encontrei nesse caminho mães muito boas que me apoiavam, mandavam mensagem pro meu celular perguntando se o Ângelo iria na festinha de aniversário do coleguinha, às vezes, eu nem respondia, porque sabia que se eu levasse ele, acabaria batendo em um convidado e eu sempre tinha que ser muito cuidadosa pra isso não acontecer, a gente acaba se sentindo sozinha.

Uma vez eu ouvi falar que ser mãe de uma autista é que nem soldado na guerra, a gente sai e sempre acha que algo vai acontecer, como brigar com alguém, como ele vai reagir a uma brincadeira é bem complicado tudo isso não temos descanso nenhum”…

 

Mas, hoje com o amadurecimento dele, agora com 7 anos, ele está mais calmo, já não é tanto freqüente ele bater num colega, a gente conversa muito com ele, claro que ele tem os rompantes dele de não querer fazer alguma coisa e além do autismo ele tem o TOD (Transtorno Opositor  Desafiador), que é um transtorno onde sempre ele vai dizer a palavra NÃO, nada ele vai querer naquele momento, mas depois ele se dá conta que pode ser um SIM. No Ângelo o TOD sobressai muito mais do que o autismo, se não fosse isso seria mais tranqüilo e ele toma medicação todos os dias”…

 

…”A convivência com seu irmão Pietro é muito boa, ele ama esse irmão, porque o Pietro é muito paciencioso com ele, às vezes dá algum atrito de irmãos. Quando tive que contar para o Pietro que o irmão era autista foi bem difícil para mim, eu chorei muito. O diagnóstico de autismo do Ângelo saiu agora a pouco, muito demorado esse processo, até porque antes ele tinha  problema de audição até o primeiro ano de idade ele não escutava, o primeiro neurologista que ele foi disse que poderia ter um autismo orgânico, seria por causa de estímulos do meio exterior. Com o diagnóstico em mãos ele pode freqüentar a APAE agora, e eu estou encantada com o atendimento deles.

A sala sensorial que temos na APAE de Alegrete é muito boa, parece que é a primeira do RS. Essa sala estimula o toque, o cheiro, mudança de luz, estou encantada com a APAE”…

…”Ele faz natação para estimular os músculos, porque os membros superiores dele não possuem a tonicidade do músculo, alguns autistas possuem esse problema na motricidade.

Na escola ele aprende tudo o que a professora ensina, só essa dificuldade na motricidade que atrapalha ele de escrever, essa parte desestabiliza muito ele e acaba se irritando. Conhece todas as letras do alfabeto, consegue unir as sílabas, aprende tudo na aula mesmo sem poder escrever”…

Deixe uma mensagem para as pessoas?

…”Para quem não tem filho autista, queria dizer que existe muito um pré julgamento do assunto, as pessoas julgam muito o outro, o olhar dos outros em cima de alguém que tem autismo é horrível, as pessoas precisam ter mais empatia . Tem muitas crianças que gritam no seu dia a dia, o que é normal na doença delas, tem gente que precisa mudar de casa porque os vizinhos sentem-se incomodados.

Não é todo mundo que tem essa empatia, muitas vezes nos julgam e acham que é uma criança sem educação e que a culpa é dos pais, mas é apenas uma pessoa com problemas que a maioria desconhece.

Para as mães de autistas,  em Alegrete não temos neurologistas, mas eu super indico o atendimento da APAE, pois termos um filho autista demanda muito dinheiro, viagens, especialistas e lá encontramos todo esse carinho com o nosso filho”…

“Alguém com autismo  me ensinou que o amor não precisa de palavras.”

 

 

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

Post Author: Márcia Ximenes Nunes

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