Megaprojeto de infraestrutura que conecta a Guiana e o Brasil, maior parceiro comercial da China na região, facilitará os negócios da segunda maior economia do mundo
A Guiana a 800 km de Manaus pode se tornar rapidamente uma das nações mais ricas per capita do hemisfério e, inclusive, do mundo, devido ao petróleo que está começando a emergir do seu subsolo. Para os chineses, o pequeno país sul-americano ajudará a reduzir os tempos de viagem até o norte do Brasil, maior parceiro comercial da China na região, por proporcionar uma rota mais rápida até o Canal do Panamá.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia deste pequeno país sul-americano, que tem quase 800 mil habitantes, cresceria em 2020 a uma taxa anual de 86% — ou seja, 14 vezes mais rápido que a economia chinesa. Basta dizer que será a economia que mais vai crescer no mundo.
No entanto “a China enxerga a Guiana como um canal mais rápido para o norte do Brasil”, afirma Sasenerine Singh, um ex-político de oposição e analista financeiro. “Uma estrada ligando Manaus à Guiana economizaria milhares de quilômetros, que hoje são de praxe na rota de transporte do Rio Amazonas.
A estrada que conecta a Guiana e o Brasil revela a importância estratégica do pequeno país para os planos da China na América Latina. Hoje, para viajar da cidade fronteiriça de Lethem, localizada na região Rupunumi, até a capital guianense de Georgetown, leva-se 14 horas em estrada de terra.
Mas a terra vermelha logo será substituída por asfalto e Lethem vai se tornar um importante entreposto comercial. É da China que virão os recursos financeiros necessários para os projetos e o país asiático também assumirá a construção deles.
A China Harbour Engineering ganhou o contrato para expandir o aeroporto Cheddi Jagan em 2011. Das onze empresas que participaram da licitação para construir a ponte sobre o rio Demerara, sete eram chinesas.
Em 2012, a China Railway First Group ganhou um contrato de 500 milhões de dólares para a usina hidrelétrica Amalia Falls, de 165 MW. No 2019, foram iniciadas construções em uma mina de carvão de propriedade chinesa.
Biotecnologia
Uma das maiores conquistas em parceria com a China será um superlaboratório e Centro de Pesquisa de Biotecnologia em parceria entre a Universidade da Guyana/MIT-USA (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Vão focar no desenvolvimento dos cursos de graduação, pós-graduação e Doutorado em Ciência da Amazônia e Biotecnologia Aplicada) com a meta de pesquisar produtos e potências de uso da floresta amazônica e patentes.
O projeto prevê um investimento de 700 milhões de dólares em recursos humanos especializados, infraestrutura e instalações nos próximos 3 anos e contará com o apoio de 8 empresas gigantes americanas, da indústria de fármacos e química.
Grandes investimentos
Segundo o ministro de Finanças do país, Winston Jordan com o lucro oriundo da exploração e venda de petróleo, o governo da Guiana pretende investir na construção de rodovias que ligarão as cidades costeiras ao interior do país, que possuem jazidas de ouro, diamante e bauxita.
O objetivo é facilitar o escoamento de riquezas minerais extraídas na Guiana para seus portos. Isso deverá ser possível devido ao ganho anual inicial de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) que o governo pode receber até 2022.
Grandes empreendimentos previstos:
– Ferrovia (Georgetown/Suriname);
– Dois portos de Águas profundas;
– Ampliação do Aeroporto Internacional (fechado com a Qatar Airways para fazer o maior HUB de cargas da América do Sul/Central)
– Construção da Ponte do Rio Demerara (5 Km);
– Implantação da termoelétrica a Gás de 1 Gigawatts;
– Asfaltamento da rodovia Linden/Bomfim (ligação com o Brasil);
– Construção de 50 mil habitações de classe baixa/média em 4 regiões diferentes, ao mesmo tempo;
São exemplos de obras públicas em fase de execução.
Iniciativa privada
Muitos projetos privados mudariam a cara da cidade:
-Mais de 10 Hotéis de 4 e 5 estrelas das grandes redes (Marriot, Sheraton, Hilton, Radisson, Holiday Inn, IBIS e Sofitel) em construção;
– Dois destes hotéis acima serão Resort/Casinos;
– Construção de projetos de residências de alto padrão em condomínios de luxo com Campos de Golfe e clubes de lazer;
– Construção de Shopping Center com Centro de convenções e Business Center com 90 mil M2 de área construída;
– Em implantação 6 Lojas da Mac Donalds;
– A multinacional PPG (indústria química) anunciou o início da construção de uma indústria na região que vai gerar 4 mil empregos diretos e investimento de U$ 2,1 bilhões de dólares americanos;
– Dois projetos aprovados para a construção de Refinarias de Petróleo de 80 mil Barris Dia/cada;
– Anunciada a formação de uma PPP para construção e operação da Hidrelétrica de Amália Falls que será a quarta maior da América do Sul;
O povo espera que a bonança do petróleo mude suas vidas
O professor de economia da Universidade da Guiana Thomas Singh afirmou que o “boom” do petróleo pode levar seu país “ao paraíso, ou diretamente para a direção oposta”.
“Com instituições frágeis, uma cultura de corrupção, baixa confiança e uma severa escassez de capital humano… Seria inocente esperar que a Guiana possa de alguma forma superar todas as dificuldades para se tornar um dos poucos países petrolíferos em desenvolvimento a alcançar uma transformação econômica e social com uma riqueza encontrada de repente.”
O país é caracterizado por profundas divisões políticas e culturais. A população está fragmentada entre pessoas de ascendência africana e de ascendência asiática que chegaram durante a era colonial britânica.
Ao longo de sua breve história desde a independência em 1966, o país apresentou um crescimento econômico modesto, baseado principalmente na indústria açucareira e na mineração.
Segundo Singh, as instituições políticas de seu país não foram propícias ao desenvolvimento. “Parece um pouco provável que a Guiana, apenas com a riqueza de petróleo, possa superar as tremendas dificuldades que parecem se opor à sua transformação econômica e social”, diz.
Por Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Divulgação