A tecnologia 5G representa uma grande oportunidade para a melhoria da competitividade da agricultura brasileira, trazendo mais eficiência, aumento de produtividade e redução de custos. Mas para que os produtores possam se beneficiar dessa inovação é preciso superar, principalmente, os desafios de infraestrutura e ampliar a conectividade.
Os impactos dessa tecnologia e a importância de melhorar a conexão no setor rural foram discutidos em audiência pública, realizada por videoconferência nessa quinta-feira (18), pelo grupo de trabalho (GT) da Câmara dos Deputados que acompanha a implantação do 5G no Brasil. O objetivo do grupo é analisar o processo de implantação e propor estratégias normativas buscando aperfeiçoar a legislação relativa aos serviços de telecomunicações.
Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária e uma das integrantes do GT, explicou como a transformação digital deve influenciar os rumos da competitividade e sustentabilidade das cadeias produtivas agropecuárias brasileiras. Ela ainda falou sobre a evolução da agricultura e a importância da conectividade na sociedade 5.0, caracterizada pela automação e robotização, lembrando que o foco do avanço tecnológico está na melhoria da qualidade de vida, trazendo inclusão e sustentabilidade econômica, social e ambiental.
“Entendemos que essa é uma questão estratégica para o Brasil. É algo que vai nos trazer uma melhora da produtividade, da eficiência, da competitividade dos produtos do Brasil, e obviamente isso significa aumentar os empregos no campo, o consumo do campo que acaba acontecendo na cidade – máquinas, equipamentos; e isso movimenta a economia brasileira”, disse o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), parlamentar que pediu a audiência pública para debater o tema.
Lippi ressaltou que a ampliação da conectividade é “um fator determinante para aumentar a produtividade dos setores industrial e agrícola”, mostrando preocupação com a realidade brasileira, já que mais de 70% das propriedades rurais ainda não têm acesso à internet. Por isso, frisou a importância de se debater a questão exatamente nesse momento em que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou a proposta do edital para o leilão do 5G, que segue para análise do Tribunal de Contas da União (TCU) nos próximos dias.
Conectar pessoas e incentivos
“Conectar o agro não é somente máquinas; muito mais do que máquinas, são as próprias pessoas”, reforçou Tomás Fuchs, CEO da Datora Telecomunicações. Ele contou que as pequenas e médias operadoras foram as responsáveis por expandir a internet para as pequenas cidades do Brasil. Mas citou que 3,8 milhões de propriedades brasileiras não possuem conexão, destacando que a conectividade no agro representa aumento de produtividade, melhoria de gestão, segurança e retenção no campo, tanto de trabalhadores como familiares.
O leilão 5G pode proporcionar uma grande melhoria para o agronegócio, principalmente, com a oferta da rede de 700 MHz, considerada por especialistas do setor a ideal para as áreas rurais, de acordo com o CEO. Fuchs defendeu incentivos à desoneração, com redução do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) nos estados para estimular o mercado, o que poderia ser feito com um fundo garantidor usando recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), contribuindo assim para gerar ganhos, promover o desenvolvimento e reduzir desigualdades.
Joaci Franklin de Medeiros, coordenador técnico do Instituto CNA, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), salientou que o agro “é movido a ciência, tecnologia, inovação e, além disso, por pessoas”. Medeiros lembrou a importância da criação da Embrapa em 1973, contribuindo para a evolução da agricultura brasileira.
Ele apresentou dados econômicos que mostram a relevância do setor, responsável por 21,4% do produto interno brasileiro (PIB), 32,3% da mão de obra e 48% das exportações do País, em 2019. O coordenador apontou que dos 5,07 milhões de propriedades rurais, 72% possuem internet; entretanto, no Nordeste, apenas 50% dos empreendimentos estão conectados, segundo o Censo Agropecuário 2017, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A conectividade é um fator de desenvolvimento regional. Então, é importante levar para essas regiões e para todos os produtores rurais”, destacou Medeiros, frisando que a infraestrutura é um fator limitante no meio rural. Os dez maiores municípios produtores de grãos no Brasil ainda possuem dificuldades de acesso à internet. No caso de Sorriso, em Mato Grosso, principal produtor, o acesso à rede é de 54%. Por isso, ele defendeu a universalização dos serviços de telecomunicações e um ambiente regulatório favorável, com segurança jurídica, observando que a expectativa é que a nova geração de internet ainda demore de dois a quatro anos para chegar às capitais brasileiras.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) vem se esforçando para a regulamentação dos recursos do Fust na implantação do 5G, além de viabilizar uma política voltada à área rural, “para que a conectividade no campo chegue o mais rápido possível”, conforme seu consultor João Henrique Hummel Vieira.
Vitor Lippi reafirmou que o Brasil é uma potência no setor agrícola e, com esse trabalho integrado, vai ser uma superpotência, para gerar as riquezas necessárias e dar segurança alimentar ao mundo. “Sem dúvida, o grande desafio é a conectividade”, concluiu. Assim, tanto é fundamental a implantação das novas tecnologias, como a garantia dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, beneficiando a Embrapa e todos os institutos de pesquisa do Brasil, acredita.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa