A proposta do grupo de pesquisas da Química Aplicada à Tecnologia está baseada no monitoramento regular da qualidade da água, ar e solo do Estado do Amazonas a partir de parâmetros utilizados no mundo; saiba
O grupo de pesquisas da Química Aplicada à Tecnologia (QAT) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) tem vários projetos em andamento e uma das linhas de pesquisa é o monitoramento da qualidade das águas do Amazonas. O grupo de pesquisadores afirma ter uma proposta “bastante ousada” para o monitoramento regular da maior bacia hidrográfica do mundo que até hoje ninguém teve coragem de estudar.
No último debate sobre a mineração sustentável na Amazônia com especialistas e atores no processo, moderado pelo advogado Serafim Taveira, o professor associado da UEA, do curso de engenharia química na escola superior de tecnologia, e líder do QAT, doutor em físico-química, Sergio Duvoisin Junior, apresentou a proposta do grupo
Segundo Sergio desde o ano de 2008 quando entraram no 1º Concurso da UEA os professores formaram esse grupo de química aplicada e iniciaram seu trabalho apenas em uma mesa.
Atualmente o grupo tem um comando gestor formado por três professores/doutores além de Sergio. Eles são Patrícia Albuquerque, Rita Adreoli e Rodrigo de Souza. No total trabalham 11 professores doutores (químicos, físicos, geólogos, biólogos e engenheiros), 50 alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica e 3 técnicos em química como suporte aos laboratórios.
Como professor, Sergio gosta de produzir conhecimento e nestes últimos cinco anos o QAT publicou 380 artigos, uma média de 70 artigos por ano. Ele relatou que os professores são todos experientes nas suas áreas e contam com uma quantidade enorme de alunos o que dá o suporte a todas as pesquisas.
“Estou correndo atrás do projeto de qualidade de água a dez anos porque essa parte de monitoramento de água deveria ter sido implantada em 2010 pela Agência Nacional de águas e até agora não consegui ”, admitiu.
Infraestrutura uns dos principais ativos
Segundo Sergio o forte do grupo é a infraestrutura. Hoje o grupo QAT tem dentro dos seus cinco laboratórios mais de 25 milhões de reais em equipamento. Com o ICP ótico se consegue fazer a análise do carbono ao urânio, todos os elementos da tabela periódica em um minuto ou um minuto e meio, praticamente.
São 10 cromatógrafos todos com configurações diferentes para trabalhar com problemas diversos. Também tem para trabalhar a espectrometria de massa com espectrofotômetro de fluorescência de raio ultravioleta entre outros.
Projetos em andamento: São Raimundo e Igarapé do Educandos
O QAT tem dois projetos em andamento pioneiros na parte de monitoramento de águas, focado na caracterização da qualidade deste recurso natural, em duas microbacias importantes da cidade de Manaus: São Raimundo e Educandos.
Os projetos têm um custo de R$ 1,6 milhão e os resultados estão publicados na página: https://sites.google.com/uea.edu.br/qualidade-da-agua-prosamim/resultados
O monitoramento de qualidade de água dessas duas microbacias é baseado na análise de nove itens a partir do Índice de Qualidade das Águas (IQA) o principal indicador qualitativo usado no país. O IQA é calculado com base nos seguintes parâmetros: temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, resíduo total, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total e turbidez.
Uma tabela de 0 a 100 pontos mede a qualidade de água. Por exemplo, um valor baixo de IQA indica a má qualidade da água para abastecimento, mas essa mesma água pode ser utilizada em usos menos exigentes, como a navegação ou geração de energia.
Além disso o grupo faz o monitoramento de 63 metais em todos esses pontos do mapa, inclusive na Bacia do Madeira que é o mercúrio
A resolução do Conama N.357/2005 rege que são 119 parâmetros a serem analisados e atualmente o laboratório do QAT já faz 72 por interesse do grupo, mas o laboratório tem condições de fazer os 119 itens do CONAMA, coisa que nem lá no Rio ou São Paulo fazem.
Na avaliação do Sergio o QAT tem financiamento, equipamentos e mão de obra especializada o que falta são os insumos para fazer as análises.
Na Grande Manaus
Outro projeto de pesquisa em andamento é o Plano de Monitoramento dos Recursos Hídricos na Grande Manaus, pelo valor de mais de R$ 8 milhões, aprovado em fevereiro do ano passado.
O plano contemplou 15 pontos na capital do Amazonas, entre eles a bacia do Puraquequara, bacia do Rio tarumã-açu, entre outras. O plano estadual faz avaliação de 28 parâmetros de qualidade.
Esse projeto deu-lhes a possibilidade de ter um navio de pesquisa, que está no porto esperando a liberação da capitania. O navio é uma estação móvel, tem quatro laboratórios para a análise de água in loco, montados com todos os equipamentos para o monitoramento da bacia amazônica. Permite fazer a análise dos 28 parâmetros. Tem alojamento para 10 pesquisadores mais a tripulação e ainda tem a cozinha, refeitório, sala de reuniões e a parte de comando.
Projeto Rio Madeira sem financiamento
No decorrer desse projeto eles querem fazer a parte de monitoramento do Rio Madeira que não tem ainda financiamento. A ideia deles é fazer de Nova Olinda do Norte até Humaitá o monitoramento dos 28 parâmetros de 10 em 10 km de 3 em 3 meses é o projeto original, mas ele pode se modificar.
Além disso ia monitorar os metais solúveis em suspensão nos sedimentos em cada um desses pontos. Também querem mostrar o impacto nas principais cidades que tem no decorrer do rio.
O valor é de R$ 5,8 milhões no seu primeiro ano e a partir do segundo ano os valores são aqueles que o QAT precisa para continuar.
A ProQAS resposta para o mundo
Esta proposta “bastante ousada” do grupo de pesquisa da UEA é com relação a atacar essa falta de monitoramento ambiental no Amazonas que o mundo nos acusa, disse Sergio.
Para o líder do QAT “realmente nós aqui dentro, não fazemos o monitoramento regular baseado em análises com parâmetro utilizados no mundo todo, isso não é feito. Essa é a proposta da UEA, que inclui também o programa de monitoramento de qualidade de ar, água e solo do Estado do Amazonas que chamamos de ProQAS.”
Sergio contou que depois vão para o Rio Solimões. “Como ele é muito grande nós o dividimos em duas pernas. De Manaus até Tefé e de Tefé até Tabatinga. Segue logo o monitoramento em São Gabriel da Cachoeira do Rio Negro”
Por Dulce Maria Rodriguez
Fotos: QAT / UEA