França, Bélgica, Holanda e Áustria, além do Parlamento Europeu, pedem o reforço das políticas ambientais, por parte do Brasil, que viu a desflorestação e os incêndios na Amazônia baterem recordes nos últimos dois anos
O Brasil e restantes países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) estão dispostos a firmar uma declaração sobre sustentabilidade ambiental, visando a ratificação do acordo entre União Europeia (UE) e o bloco sul-americano, disse o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo.
“Em relação a um compromisso adicional, a que chamamos ‘side letter’ [carta lateral, em português], existe essa ideia. Nós, Brasil e Mercosul, estamos prontos para ir adiante com essa ideia. Claro que temos de ver qual seria o conteúdo dessa carta, mas não queremos reabrir as negociações, que já foram complexas e, dentro desse parâmetro básico de não reabrir a negociação, estamos prontos para ver a ideia da União Europeia”, disse o diplomata
A UE e o Mercosul assinaram o acordo comercial em 2019, após 20 anos de negociações, mas ainda não entrou em vigor e a sua ratificação está paralisada porque países como França, Bélgica, Holanda e Áustria, além do Parlamento Europeu, pedem o reforço das políticas ambientais, principalmente por parte do Brasil, que viu a desflorestação e os incêndios na Amazônia baterem recordes nos últimos dois anos.
A UE tenta agora que o Brasil firme uma declaração sobre sustentabilidade, para conseguir alcançar a confiança dos Estados-membros e, assim, que o acordo seja ratificado.
Acordo caminha lentamente
Segundo o ministro, o Brasil já sinalizou ao bloco europeu, “de todas as maneiras”, que está disposto a ter esse diálogo. “Agora aguardamos o lado europeu, os Estados-membros e a Comissão Europeia conversarem entre si e se entenderem quanto ao que nos querem propor como conteúdo desse documento que acompanharia o acordo na tramitação da ratificação.”
Para o diplomata, entretanto, esse processo, por vários motivos, tem demorado mais do que devia, primeiro em função da pandemia da Covid-19, além da contração da economia europeia. “Está prevista uma queda de 6% no PIB do bloco, ou seja, mais do que o recuo do nosso PIB, anunciado hoje (ontem, quarta-feira, que foi de -4,1%)”, citou. “Esta crise econômica cria um fator adicional (para o atraso).”
Outros motivos apontados por Araújo para a lentidão nas negociações do Acordo UE-Mercosul são as eleições na Alemanha este ano, e na França, no ano que vem. “Lembrando que em ambos os países os Partidos Verdes e movimentos ambientalistas hoje têm força maior do que no ano passado, e o mesmo acontece no Parlamento Europeu”, citou o embaixador, referindo-se à pressão ambientalista como empecilho ao fechamento do acordo com o Mercosul.
Ele reconheceu, porém, que a questão ambiental é, de fato, um “breque no acordo”. “Não vou dourar a pílula só porque sou diplomata.”
Sobre a imagem do Brasil no exterior, e a diplomacia adotada pelo país lá fora, defendeu a volta do “soft power” brasileiro. “Somos reconhecidos e admirados por isso; devemos reforçar esta atitude”, disse.
Com informação do Estadão Conteúdo
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