No Amazonas não houve entrega de sementes suspeitas vindas da Ásia

Mapa identifica presença de fungos, bactérias e ácaro em pacotes de sementes não solicitados

Da esquerda para direita: José Luís Vargas (diretor de Serviços Técnicos), José Guilherme Leal (secretário de Defesa Agropecuária) e Carlos Goulart (diretor de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas)

Nos últimos dias aumentou o número de estados do Brasil com relatos de recebimento de pacotes com sementes misteriosas provenientes da Asia. Das 27 unidades da federação, apenas no Maranhão e Amazonas não houve entrega desse tipo de material às autoridades sanitárias, disse o secretário de Defesa Agropecuária, José Guilherme Leal

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) reforçou nesta terça-feira, 6, o cuidado com pacotes de sementes vindos de países asiáticos que têm chegado aleatoriamente pelos Correios para brasileiros. A preocupação é que elas contaminem as lavouras brasileiras com pragas.

Análises

Após análises laboratoriais, foi identificada a presença de ácaro vivo em uma amostra; de três fungos diferentes em 25 amostras; de bactéria em duas amostras; e possibilidade de pragas quarentenárias em quatro amostras (como plantas daninhas).

Toda a análise é feita no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Goiás, que é referência no país.  Até o momento, foram confirmados 258 pacotes de sementes não solicitados em 24 estados e no Distrito Federal.

A expectativa é que em 30 dias haja um detalhamento maior desses resultados.

Em entrevista coletiva virtual o secretário de Defesa Agropecuária, José Guilherme Leal, destacou que o material não tem certificação, por isso está sendo feita uma “pesquisa do zero” para identificar os micro-organismos presentes nas sementes. Ele ressaltou que estão sendo tomadas todas as medidas para impedir a introdução de novas pragas no país. 

Os pacotes supostamente foram enviados de quatro países da Ásia. 

Orientações

A orientação às pessoas que receberem esse tipo de material é não abrir os pacotes e entrar em contato com a Superintendência Federal de Agricultura do estado ou o órgão estadual de defesa agropecuária para providenciar a entrega ou recolhimento do material. No caso de sementes que já tenham sido plantadas, o procedimento é o mesmo.

Para facilitar a investigação a embalagem original, embora possa ter informações falsas sobre a origem, deve ser preservada.

Não há nenhum tipo de punição a quem entregar esse tipo de material às autoridades, pelo contrário, segundo Leal, essa é uma grande contribuição que a população pode dar.

A importação de material de propagação vegetal, incluindo sementes e mudas, é controlada pelo Mapa e deve atender a requisitos de fitossanidade, qualidade e identidade.

As regras estabelecidas pelo Mapa se aplicam para qualquer modalidade de compra e aquisição, incluído a compra eletrônica com entrega via remessa postal.

Na avaliação do Ministério da Agricultura, em muitos casos, esses produtos entram no país, em pequenas quantidades, porque quem compra quer colocar determinada planta em casa ou no jardim e não sabe que adquirir esse material dessa forma é proibido e pode trazer sérios riscos.

Brushing scam

Segundo as autoridades brasileiras, o caso é inédito no mundo e chamou atenção pelo fato dos pacotes terem sido enviados sem que tivessem sido solicitados. Não há elementos para afirmar que foi ação intencional para introduzir organismo patogênico no Brasil, apesar disso o risco para agricultura existe, segundo o secretário de Defesa Agropecuária.

Por enquanto, no Brasil, apenas o Mapa investiga a situação e não há polícia envolvida na apuração dos fatos. O Ministério está em contato com os órgão de defesa agropecuária de outros países onde também chegou material semelhante para tentar identificar de onde partiram as remessas. Até o momento, tudo indica que as remessas fazem parte uma ação conhecida como brushing scam.

Nessas situações grandes plataformas internacionais de vendas online, como Alibaba e AliExpress, utilizam a técnica para aumentar o seu ranqueamento, com base na avaliação dos clientes e o volume de vendas.

Com objetivo de aumentar essas vendas, algumas plataformas começaram a enviar produtos para pessoas fake, ou eles mesmos comprarem as suas mercadorias. Também há casos em que estratégia é enviar um produto adicional, como se fosse um brinde para o cliente, com o objetivo de obter uma melhor avaliação.

Números

Para impedir a entrada desse tipo de material, que pode ter alto potencial de disseminar pragas pelo país, o Brasil tem um Centro de Distribuição em Curitiba (PR) que concentram e faz a triagem de pacotes de até 3 kg. A unidade recebe, por dia, cerca de 250 mil pacotes. Os volumes são passados por um scanner para identificar se há algum tipo de planta ou semente. Para refinar a busca um cachorro também faz trabalho de rescaldo para impedir o trânsito desses produtos.

Segundo balanço divulgado pelo Ministério da Agricultura, 2019 eram apreendidos 2 mil pacotes, por mês, em Curitiba. Este ano, somente no primeiro semestre, o volume mensal de caixas e envelopes interceptados chegou a 5 mil, aumento de 150%. Esses volumes foram apreendidos devolvidos ou incinerados na própria unidade. No total de 2020 já foram interceptados 37. 700 pacotes, destruídos 26.111 e 2.383 mil devolvidos.

No mundo

Os casos não estão restritos ao Brasil. De acordo com o programa “Fantástico”, moradores da Austrália, Nova Zelândia, Índia, Polônia, Alemanha, França Holanda, Reino Unido, Irlanda, Chile e Canadá também relatam ter recebido as “sementes”.

Nos Estados Unidos, onde as investigações estão mais avançadas. Osama El-Lissy, um dos diretores do Departamento de Agricultura americano (USDA, em inglês), conta que já foram identificados 300 tipos de sementes.

Texto Dulce Maria Rodriguez com informação do MAPA

Fotos: Reprodução

Post Author: Agro Floresta

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