Além de mães e esposas, foram mulheres de trabalho duro, que muito contribuíram para a manutenção do patrimônio da família
As mulheres nas estâncias, substituíram os esposos nos períodos longos de guerras no RS, onde seus maridos ficavam ausentes por meses, às vezes por anos e tiveram que aprender assim de uma hora para a outra.
Além de mães, dirigiam os trabalhos de rotina da estância, auxiliadas por moleques e peões caseiros. Nos trabalhos domésticos faziam muito mais que as tarefas comuns de cozinha, limpeza e costuras. Toda a roupa, com poucas exceções, era fiada, tecida e costurada a mão.
As velas para iluminação, o sabão, os doces, as linguiças era tudo feito em casa. As estancieiras eram educadoras, ensinavam os filhos e as outras crianças a lerem, também a tabuada e o catecismo.
As estancieiras do velho Rio Grande, foram mães, esposas e principalmente mulheres de trabalho duro, que muito contribuíram para a manutenção do patrimônio da família. Mulheres de força, guerreiras, sem medo, de fibra, valentes e soberanas.
ESTÂNCIA SOTÉA
SÔNIA RAQUEL BANDEIRA FERREIRA DA COSTA
Proprietária e Pecuarista
“…O meu amor pela lida do campo começou ainda muito pequena, numa família de quatro irmãs, onde somente eu me interessei pelo cavalo e para a lida do campo, pois morava na campanha e na idade escolar fomos pra cidade, com 4 anos de idade, meu pai não tinha ajudante e começou ai o meu amor pelo campo. Anos mais tarde, casei-me com Sólon Ferreira da Costa e uni o útil ao agradável, fazia junto com ele e seus funcionários as lidas do campo, por lazer, que às vezes, ultrapassava meus 8 meses de gestação ajudando nas lidas do campo.
Me formei na URCAMP, na 1ª turma de Ciências Econômicas, hoje meu estudo, me ajuda muito na administração da propriedade. Minha filha Renata, ficou adulta e tive que fazer outras coisas na vida, quando me deparei com a doença do Sólon, na qual passamos 4 meses dentro do hospital, quando ele veio a falecer no dia 22.9.2015.
Minha vida mudou e de repente me deparei com uma estância, funcionários e diversas coisas para resolver, sem nunca ter feito e sem o Sólon pra me ajudar, mas com muita fé e pessoas especiais resolvemos quase a totalidade. Hoje compro medicamentos, trabalho no campo, cuido da casa e da administração.
Trabalhamos com a pecuária de corte, com matriz de cruzas diversas. Hoje estou colocando mais touros Braford e alguns Hereforde.
Temos produção de ovelhas para carne e lã, e cavalos crioulos para o trabalho no campo. O manejo do gado e das ovelhas é feito por nós e o meu capataz Marco, com ajuda de alguns vizinhos quando necessário.
Arrendamos parte do campo para o plantio de arroz. Internet cada um tem a sua no celular, muito usada para nossa comunicação, recados e visualizações de algum problema com os animais, por exemplo. Vendemos a lã para barracas da nossa cidade e carne para o frigorífico com melhor preço no momento, trabalho com o representante de vendas Flávio Callovi, para carnes. Compro meus touros reprodutores Braford e Hereford do Paulinho Fleck e da Fazenda Silêncio.
Sou grata por tudo que eu vivi e aprendi nessa longa jornada, grata por cada pessoa que me ajudou e me incentivou nessa nova trajetória.
Hoje domino tudo, sinto muito orgulho de administrar uma estância que possui uma história que eu conheci e convivi com os 3 proprietários: Sylla Ferreira da Costa e Marina Ferreira da Costa, do Francisco Ferreira da Costa e Sólon Ferreira da Costa, meu esposo que recebeu como herança de sua mãe Marina, a Estância Sotéa.
Assim toco a Estância Sotéa, com muito orgulho e com colaboradores na qual vou ser grata eternamente.
Seja você o que sua consciência ditar que deva ser, dentro dos verdadeiros princípios, não se perturbe com o que a seu respeito possam pensar ou dizer os outros, os juízes de Deus não lhe perguntam o que você pensa, os seus semelhantes julgam conforme a sua intenção para o bem ou para o mal! O relógio e o termômetro são a vida e a própria consciência, só Ela!…”
Edição: Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Arquivo
1 thought on “SÉRIE Estâncias do Alegrete – As estancieiras do velho Rio Grande”
CARLOS ALBERTO PAIZ RODRIGUES
(agosto 16, 2021 - 10:56 am)Emoçao ao ler o artigo, pois conheço a estacia, meu pai Emigdio Paiz, foi capataz do “seu chico” Francisco Ferreira Da Costa Sobrinho. De la saimos em outubro de 1954. Meu respeitoso abraço. Carlos Alberto Paiz Rodrigues.