À medida que Belém se prepara para sediar a COP30, cresce o questionamento sobre a efetiva inclusão da sociedade civil nos debates e decisões que moldarão o futuro climático do planeta.
A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, promete ser um marco histórico para a Amazônia e para o Brasil. Sediada em Belém (PA) em 2025, a expectativa é que a região finalmente assuma um protagonismo simbólico e político nas discussões climáticas globais. No entanto, surge uma pergunta essencial: a sociedade civil — especialmente os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, comunidades periféricas e movimentos sociais — terá voz real nas plenárias e decisões ou será mais uma vez relegada aos bastidores?
Nos eventos anteriores da COP, a participação da sociedade civil tem sido marcada por contrastes. Apesar dos espaços criados nos chamados “pavilhões paralelos” ou “zonas verdes”, as decisões mais relevantes seguem sendo tomadas por diplomatas e chefes de Estado em sessões fechadas. Muitas vezes, lideranças comunitárias são chamadas para compor a paisagem, mas não o processo decisório.
A COP30 tem a oportunidade — e a responsabilidade — de romper com essa lógica. Realizar o evento no coração da Amazônia exige mais do que infraestrutura e discursos; exige escuta ativa, acessibilidade e protagonismo para quem vive a crise climática na pele.
“Participar da COP não pode se limitar a tirar foto e dar entrevista. Queremos falar nas mesas onde as regras são feitas”, afirma uma liderança indígena do Xingu, que já participou de outras edições da conferência, mas questiona o impacto real de sua presença.
Além disso, o custo de participação, as barreiras linguísticas, a burocracia para credenciamento e a limitação dos acessos aos espaços oficiais ainda são obstáculos reais para organizações da base. Se a COP30 não repensar esses aspectos, corre o risco de se tornar mais um evento para poucos — ainda que realizado em solo amazônico.
Uma conferência verdadeiramente inclusiva deve garantir, no mínimo:
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Tradução simultânea em línguas indígenas e regionais;
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Acesso facilitado aos espaços de decisão;
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Financiamento para participação de organizações locais;
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Transparência nos critérios de credenciamento;
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Representatividade real nas comissões e mesas principais.
Mais do que uma crítica, este é um chamado à coerência. Se o mundo quer ouvir a Amazônia, que permita que ela fale — e não apenas por intérpretes ou representantes políticos distantes da realidade do território.
A COP30 tem tudo para ser histórica. Mas só será transformadora se os “invisíveis” forem, de fato, colocados no centro.
Por Beatriz Costa, Editora Chefe do Portal Agrofloresta.