Neste entardecer de fevereiro, às margens do Rio Negro, multiplico meu olhar na chegada da noite, que se aproxima com seu véu de galáxias. A partir de Andrômeda, indomável, mergulho na floresta de fungos milenares que cobrem o chão eivado de folhas — berço das anacondas que, sossegadamente, deslizam à procura de alimento no território de Curupira, senhor da vida e da morte.
Nas profundezas da Amazônia encantada, às margens do Rio Negro, na Cabeça do Cachorro, em São Gabriel da Cachoeira, o céu soluça em lágrimas na chuva torrencial. Seu manto cobre o bem e o mal, embalando a cantoria dos pajés — ecos que ressoam muito além da fé salesiana, penetrando as entranhas da selva Yanomami.
No Pico da Neblina, sob as dez mil noites dos deuses cegos, mentes incendeiam-se nos rituais de acasalamento das onças-pintadas, dilaceradas de amor.
Antonio Ximenes, Diretor de redação.
MANAUS, AMAZÔNIA – 24/02/2025