Por José Melo, ex-governador do estado do Amazonas.
O rio Madeira é um dos mais importantes da Bacia Amazônica, banhando os estados do Amazonas e de Rondônia. Com 3.240 km de extensão, ele se forma a partir da confluência dos rios Beni e Mamoré, na Bolívia, e do rio Madre de Dios, no Peru, sendo chamado de Madeira apenas em território brasileiro.
Ao longo de sua história, toneladas de ouro foram extraídas de suas águas, mas, devido à falta de regulamentação no Brasil, grande parte dessa riqueza foi explorada ilegalmente e contrabandeada. Agora, mais do que nunca, é fundamental que as autoridades estabeleçam políticas para uma exploração racional e sustentável dessas imensas riquezas. O povo do Amazonas merece usufruir dessas oportunidades de forma justa e responsável.
O mundo explora e se beneficia de suas riquezas naturais. Nós também temos esse direito.
Percorri o Madeira em diversas ocasiões, tanto na implementação de projetos econômicos quanto no período em que ocupei cargos no Estado. Esse rio é imponente, caudaloso e cercado por um solo extremamente fértil. Não por acaso, ele abriga a maior produção de melancia de várzea do Amazonas.
Além disso, o Madeira desempenha um papel estratégico na logística entre o Centro-Oeste e o Amazonas. Por ele, passam milhões de toneladas de soja produzidas na Chapada dos Parecis, transportadas em comboios gigantescos até Itacoatiara, onde são processadas em subprodutos como óleo degomado e farelo de soja.
Mas o rio Madeira não é apenas uma via essencial para o escoamento de riquezas. Ele também representa o limite da última fronteira agrícola brasileira.
A expansão agrícola no Brasil teve início no Sul e Sudeste, avançou pelo Centro-Oeste e chegou ao oeste do Amazonas, onde encontrou no Madeira uma barreira natural — o verdadeiro guardião da floresta. O que políticas públicas, órgãos de segurança e proteção ambiental não conseguiram conter, o Madeira fez por conta própria: frear o avanço descontrolado da fronteira agrícola e preservar um dos maiores patrimônios do Brasil — a Floresta Amazônica e sua biodiversidade única.
