Cavalos crioulos, sempre os tive, mas o que mais chamava a minha atenção era o “tordilho negro”, tradição dos gaúchos

Tenho um tordilho negro que me acompanha na lida campeira há anos. Sou natural da estância de São Bento, em Alegrete no meu lindo Rio Grande do Sul. Desde que eu nasci moro na campanha, fui criado no galpão da estância, acompanhando os peões nas lidas diárias do campo e dos animais, plantações, gado, mas minhas paixões sempre foram os cavalos crioulos nativos do nosso pago aqui do sul do Brasil.

Minha herança maior foi esse tordilho negro, cavalo amigo e companheiro de todas as horas, desde o amanhecer me acompanha. Levanto cedo e já faço um fogo de chão para aquecer a água do meu chimarrão, tomo meu amargo solito e pensando na vida, no que tenho pra fazer durante o dia. Vou até a estrebaria, ajeito meu cavalo, coloco os arreios e monto para o trabalho diário. Recorrer os campos, contar o gado, porque por aqui tem muito abigeato, fizemos nossas lidas da manhã que são muitas.

Voltamos para o almoço, tiro os arreios do cavalo, dou comida e água pra ele. Vamos comer um arroz de carreteiro feito com o charque novinho da estância. Damos uma sestiada, que já é de costume dormir uma hora, levantamos e vamos novamente para a lida. Mais tarde sempre vou na tapera, que fica uns 2 km da estância, apanho laranja, bergamota e limão, porque é muito bom comermos bergamota no sol de tarde, ajuda a esquentar o nosso corpo e nossa alma solitária, nesse frio aqui do sul.

 

Nossos cavalos crioulos são os mais lindos que existem, seu pelo brilha de tão viçoso. Os crioulos são gaúchos por natureza, são cavalos fortes, agüentam o frio intenso, bons de lida e tiro de laço, participamos de muitas paleteadas nos rodeios aqui do nosso chão.

Nós gaúchos honramos nossas tradições, desde o cavalo até o chimarrão. Vivemos dentro dos nossos usos e costumes, quando acordamos já vestimos uma bombacha, fazendo nosso sagrado fogo de chão que já vai aquecendo a água para tomar o chimarrão. Nossa comida sempre é campeira o carreteiro, churrasco, puchero e de sobremesa um bom arroz com leite, doce de leite e sagu.

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

Post Author: Márcia Ximenes Nunes

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