Na floresta amazônica existem mais de 600 milhões de árvores que “bombeiam” imensos volumes de vapor de água que se transformam em chuva que irriga as lavouras. Entenda a importância dos colossais “Rios Voadores” para o agro e a economia brasileira
Imagine rios ainda maiores que o Rio Amazonas, com bilhões de toneladas de água, cortando vários estados brasileiros e passando sobre nossas cabeças, mas são invisíveis. Sim. “Rios Voadores” existem.
Eles são formados por imensos volumes de vapor de água levados pelos ventos, muitas vezes, acompanhados por nuvens. Apesar de não os enxergarmos, os Rios Voadores têm cerca de três quilômetros de altura e milhares de quilômetros de extensão.
O termo “Rios voadores” descreve um fenômeno real, cujo impacto é gigantesco em nossas vidas. São determinantes para o equilíbrio do ecossistema e da biodiversidade. Além disso, garantem o desenvolvimento das lavouras, do agro e por tudo isso, sustentam a economía brasileira.
As árvores da Floresta Amazônica “bombeiam” as águas das chuvas de volta para a atmosfera, através de um fenômeno denominado evapotranspiração, ou seja, a água das chuvas que fica retida nas copas das árvores evapora e permanece na atmosfera em forma de umidade. É exatamente essa umidade que forma os rios voadores.
Para se ter uma ideia da umidade gerada por esse processo, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) estima que uma árvore de 10 metros de diâmetro possa produzir mais de 300 litros de água por dia, mais do que o dobro de água que uma pessoa utiliza diariamente para beber, cozer alimentos, tomar banho etc. Uma árvore de 20 metros, por sua vez, pode bombear mais de 1.000 litros de água por dia.
Considerando que na Amazônia existem mais de 600 milhões de árvores, é possível se ter uma ideia da grandeza desse fenômeno.
Importância
A importância desses fluxos de água se popularizou no Brasil após a “Expedição Rios Voadores”, criada pelo aviador e ambientalista Gerard Moss. O projeto foi idealizado depois de longas conversas que tiveram início em 2006 entre Moss e o professor Antonio Donato Nobre.
Também contou com a colaboração do professor Eneas Salati e de outros cientistas envolvidos no tema, como José Antonio Marengo, Pedro Dias e Reinaldo Victoria. Gerard Moss voou milhares de quilômetros seguindo as correntes de ar e pegando amostras de vapor de águas para comprovar e registrar, na prática, o que os pesquisadores já haviam descoberto sobre o fluxo e a formação dos chamados Rios Voadores.
Essas correntes de ar e água, invisíveis para nós, passam sobre áreas de campos, florestas e cidades carregando umidade da Bacia Amazônica para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Alguns pesquisadores afirmam que, sem essa umidade, o ambiente dessas regiões transformar-se-ia em algo parecido com um deserto.
O processo de formação dos Rios Voadores começa, originalmente, no Oceano Atlântico. A floresta amazônica funciona como uma bomba d’água. Ela puxa para dentro do continente a umidade evaporada no mar. Já em terra, a umidade cai como chuva sobre a mata.
Irriga as lavouras contribuindo com as finanças do País
Com a transpiração das árvores e das plantas, a mata devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor. É um ciclo constante, com o ar sempre recarregado com mais umidade. A grande massa de umidade é transportada rumo ao oeste pelos ventos.
Parte dela cai novamente como chuva durante o percurso, mas enormes quantidades de vapor de água seguem até se chocar com a Cordilheira dos Andes. Nesse encontro, a cadeia de montanhas recebe uma porção generosa dessa umidade, formando as cabeceiras dos rios amazônicos.
Mas ainda há muito vapor de água sendo levado pelas correntes de vento. Ao se depararem com um paredão de quatro mil metros de altura formado pelos Andes, os Rios Voadores fazem a curva e partem em direção ao Sul, rumo a estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
A chuva trazida pelos Rios Voadores irriga as lavouras que servem para abastecer de alimentos o mercado interno e externo, sustentando a economia brasileira.
Segundo a projeção da equipe técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que faz parte do trabalho de divulgação dos resultados de 2020 e das projeções para 2021, a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) do agro some R$ 1,7 trilhão, com um crescimento de 9% em comparação com 2019.
O crescimento de 9% no ano 2020, contrasta drasticamente com a queda de cerca de 4,6% na economia brasileira, agravada pela crise econômica mundial e da pandemia do novo coronavírus. No entanto, a queda seria maior se não fosse o trabalho de produtores rurais por todo o País, contribuindo, mais uma vez, às finanças do Brasil.
O prejuízo do desmatamento
A substituição de florestas por agricultura e pasto, assim como as queimadas e a abertura de clareiras para mineração, provocam alterações dramáticas ao clima da América do Sul.
“A Amazônia produz seu próprio clima, favorável à sua existência e equilíbrio. Com o desmatamento, esse benefício se perde. Estamos transformando uma usina de serviço ambiental em CO2. Estamos matando a ‘galinha dos ovos de ouro’. O agravamento do clima, decorrente do desmatamento, é algo irrefutável. Perdeu floresta, se prepare para um clima inóspito, pois, tirou a árvore, tirou aquele serviço ecossistêmico, que também é muito importante para a sobrevivência da população”, adverte o professor Antonio Donato Nobre.
E, nesse cenário, não é só a agricultura que acaba prejudicada. O desequilíbrio causado pelo desmatamento na Amazônia interfere no clima das grandes cidades.
As florestas bombeiam umidade e são fundamentais para que os Rios Voadores sigam seus cursos e distribuam as chuvas de forma equilibrada ao longo do caminho. E os resultados das pesquisas mostram que esses rios são tão vulneráveis às ações humanas quanto os outros rios que conhecemos. Representam um sistema totalmente conectado e dependente da preservação florestal.
O desmatamento, os incêndios a ausência de políticas públicas para proteger os rios voadores provocam doenças respiratórias em grande escala adoecendo a população. Nesta direção, o risco de epidemias aumenta fragilizando às pessoas que sofrem de asma e outras enfermidades pulmonares.
O trinômio rios voadores,de superfície e subterrâneos formam o eixo fluvial que confere ao Brasil status de potência hídrica,determinante para preservar as lavouras e animais que vão alimentar o planeta em grande escala, saindo das atuais 1 bilhão de pessoas, para algo próximo a 2,5 bilhão alimentadas pelos produtores rurais e pecuaristas brasileiros mundialmente.
Texto Dulce Maria Rodriguez
Fonte: ((O))Eco e Expedição Rios Voadores
Fotos: Divulgação e Expedição Rios Voadores