É evidente a confiança que as escolas militares inspiram na sociedade, assim como a valorização do professor, o incentivo ao aprimoramento profissional e a modernização da gestão educacional, sem esquecer as tradições e a prática de valores perpétuos, especialmente os relacionados ao respeito às normas, à disciplina e à hierarquia – pilares que sustentam todas as organizações militares.
Uma das principais metas da escola deve ser a formação do cidadão consciente dos seus direitos e deveres, apto para atuar na sociedade, e não somente um reprodutor de conhecimentos. Afinal, um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional. Em função disso, considera-se, neste trabalho, o conceito de pátria como “Nação a que pertence uma pessoa ou de que uma pessoa é cidadã”, assim como a ideia de que “Pátria transporta força e calor das afeições familiares a todos os homens de um mesmo País”. Nesse aspecto, as escolas, foco deste trabalho, apresentam um reconhecimento social nítido no incentivo e na promoção do amor à Pátria.
Afinal, “por mais que a dimensão transformadora da Educação exerça um enorme fascínio no discurso educacional, ela não existe sem sua face especular, que é a conservação” (MACHADO, 2006, p. VII), especialmente no que diz respeito à conservação dos valores que sustentam a sociedade. Nesse quesito, as escolas administradas por militares apresentam uma sintonia fina entre o que precisa ser conservado e o que merece ser transformado. E um dos valores mais resguardados é o incentivo ao cultivo do amor à Pátria nos discentes.
A educação deve, por um lado, preparar as pessoas para a vida e para o novo e, por outro, não deixar de ser alicerçada em valores tradicionais que transmitam segurança e respeito ao conhecimento acumulado pela humanidade. De uma forma geral, todos estão sendo atropelados pelo excesso de informação e por desvios dos diferentes papéis que cada um exerce na sociedade. O mais velho é interpretado como obsoleto, e se despreza o que de valor as pessoas mais experientes e mais vividas poderiam ensinar aos mais jovens.
Com o propósito de diminuir, ou até acabar com esse desequilíbrio, é indispensável que a escola considere a realização de projetos para implementar ações, promovendo o envolvimento de todos os seus integrantes com aspectos culturais e sociais da sociedade para, então, garantir uma formação política aos estudantes, tornando-os mais participativos na vida social, de modo mais dinâmico, crítico e autônomo.
É importante também que as escolas tenham propostas educacionais que promovam atividades diárias permeadas por valores éticos, assumindo, inclusive, uma organização curricular que disponibilize tempo para essas atividades. Com isso, o ambiente escolar “em que os sujeitos vivem deve estar permeado por possibilidades de convivência cotidiana com valores éticos e instrumentos que facilitem relações interpessoais pautadas em valores vinculados à democracia, à cidadania e aos direitos humanos.” (ARAÚJO, 2006, p. 35).
É relevante lembrar o equilíbrio que deve existir entre os direitos e os deveres de um indivíduo – algumas vezes, reivindicar os direitos ultrapassa os limites da obrigação do cumprimento dos deveres. Portanto, o exercício da cidadania é um tema que merece toda atenção pelas escolas, para que a pessoa se mantenha em equilíbrio dinâmico e atue na sociedade visando aos aspectos individuais e coletivos, e na articulação destes em prol do bem comum a todos.
O que se deve valorizar é a lealdade e o respeito entre as pessoas que, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, partilham o sentimento de patriotismo. Conforme afirma Harari “Acreditar que minha nação é única, que ela merece minha lealdade e que eu tenho obrigações especiais com seus membros inspira-me a me importar com os outros e a fazer sacrifícios por eles.”. Acrescenta, ainda, que as “formas mais amenas de patriotismo têm estado entre as mais benevolentes criações humanas”, pois estabelece uma união entre nações e previne, de certa forma, sentimentos de “ultranacionalismos” que leva os indivíduos a conflitos extremamente degradantes. Vale alertar também para o risco de alguns valores da cultura militar serem mal interpretados; por exemplo, a hierarquia não deve ser sinônimo de superioridade, mas sim uma expressão de respeito, assim como a autoridade deve observar os limites e conviver com a ideia de tolerância, de respeito ao próximo e de proteção da integridade de todos.
As denominações militar e civil, na maioria das vezes, são tratadas como mundos à parte, em uma separação que compromete o sentido de que todos pertencem a uma mesma nação, a uma mesma sociedade e a um mesmo horizonte. E nessa sociedade, obviamente, existem cidadãos com diferentes funções profissionais: há o médico, o engenheiro o advogado e o militar das Forças Armadas, entre outros. Esse horizonte alerta para que todos devem ampliar sua visão e incentivar o diálogo, além de chamar a atenção para a importância de se considerar a tradição e os aspectos históricos nos quais todos estão imersos.
Entretanto, não se pretende afirmar que as escolas militares sejam os detentores do monopólio da educação de qualidade. Antes, vislumbraram-se pontos convergentes entre a cultura militar e a vida em sociedade civil, de forma a inspirar outras escolas.
A valorização da escola precisa ser incentivada. Dessa forma, propõe-se uma reflexão sobre a cultura e a elaboração de projetos alicerçados em valores éticos e na construção de uma educação de qualidade. Afinal, a sociedade muitas vezes privilegia o sucesso no âmbito profissional, o bem-estar e a realização pessoal, mas ainda não trata com relevância os valores éticos, fundamentais na formação do espírito cidadão e no desenvolvimento da personalidade e da integridade de todos pertencentes à nação.
Autora: Socorro Maria de Jesus Seabra Sarkis/ Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da USP (FEUSP).
Fonte: EBLOG/ Blog do Exército Brasileiro.
Fotos: Colégio Militar de Manaus/ CMPM I