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SÉRIE – Vida de zootecnista: fatores administrativos e econômicos do agronegócio

Na visão do Douglas Rodrigues Sauceda, ser Zootecnista encanta e fascina desde o primeiro dia mas, não é fácil, seja no setor privado ou público, não pela concorrência das profissões das ciências agrárias, mas pela falta de amparo de um conselho federal próprio 

A Zootecnia abrange um conjunto de atividades e habilidades para desenvolver, promover e controlar a produção e a produtividade dos animais úteis ao homem. No aspecto socioeconômico e para o desenvolvimento do agronegócio, tem uma grande importância, já que trabalha com fatores administrativos e econômicos da produção.

Douglas Rodrigues Sauceda

 Zootecnista – São Carlos – SC

Douglas é natural do Alegrete, tem 28 anos. Dizem que muitos gostos e profissões já vem de “berço” como naturalmente acontece muitas vezes. No caso dele foi um pouco diferente, seus pais não trabalhavam no meio rural, nem vínculo possuíam, foi criado no meio urbano e nenhum familiar possuía propriedade rural ou algo do tipo.

Não são as pessoas que escolhem uma profissão é ela que acolhe as pessoas. Desde criança sempre gostou muito de animais, da natureza, da pesca, do mato, sempre teve animais domésticos, a família sempre teve animais em casa como aves e pets de companhia (Cães e gatos), por isso sempre foi muito ligado aos animais.       

Na adolescência aumentou sua aproximação com os animais, veio naturalmente através da cultura do gaúcho, “o tradicionalismo”, o cavalo e todo esse ambiente só fez ele se aproximar mais de um meio ao qual já havia afinidade porém não sabia que ali seria seu principal incentivo a um caminho profissional.

No meio tradicionalista seus pais observaram uma vocação e com seus incentivos, iniciou sua jornada na antiga EAFA (Escola Agrotécnica Federal de Alegrete) atualmente IFFarroupilha – Campus Alegrete desde 2008 pela Lei nº 11.892 que cria os Institutos federais.

Sobre os pais eles são e sempre serão sua base e se orgulha muito de tudo que fizeram por ele. Em 2007 iniciou seus estudos no curso Técnico em Agropecuária se formou como técnico em Agropecuária em 2010. Em 2010 iniciou o curso de Bacharelado em Zootecnia na mesma instituição me formou em 2015.

Sua trajetória como Zootecnista iniciou na infância, porém não sabia ainda, mas esse seria o curso que mais se identificou.

Durante aquela época do final do terceiro ano do ensino médio, muitos questionavam por que este curso, que curso é esse? Esse curso é novo? Assim como estes e outros questionamentos que faziam na época sobre qual curso na área seguir, o que mais se recorda e marcou foi: Por que não “Medicina Veterinária” é quase a mesma coisa, não é? Realmente ele não tinha a resposta na época, mas teve a certeza que a Zootecnia não foi o plano B. E hoje afirma, não é igual, podem até ser parecidos, mas ocupam espaços diferentes!

Durante sua formação procurou explorar ao máximo seu tempo dentro do IFFar, sempre soube que o mercado lá fora, seria duro, deste o tempo que cursava o técnico agrícola, ainda mais pra um jovem formado sem experiência familiar com o meio rural que na região contava muito para um futuro emprego na área, ao menos na época era assim.

O curso encanta e fascina desde o primeiro dia, porém nem tudo são rosas, algumas dificuldades haveria de encontrar no caminho, como um curso sem um conselho próprio, sem leis que incentivem e protejam a profissão, mas sempre foi desafiado e isso motiva ele a pisar ainda mais firme.

Por estudar em um instituto federal que são instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas (LEI 11.892 de 2008), sempre foram incentivados a trabalhar com pesquisa e extensão.

Então, prontamente surgiu um caminho, ou uma forma de turbinar os conhecimentos e engordar o currículo como diziam para se destacar na concorrência do mercado futuramente. Alguns projetos nas áreas de apicultura, bovinocultura e avicultura foram muito relevantes na sua formação.

É impossível falar do que ele é profissionalmente, sem falar desta instituição onde estive por 8 anos, no qual é muito grato por tudo que plantou e colheu desde 2007, quando iniciou o curso técnico em Agropecuária até 2015 quando se formou.

Durante a trajetória de Douglas nesse lugar conheceu muitas pessoas inspiradoras, fez amigos, aprendeu muita coisa boa, ao IFFarroupilha – Campus de Alegrete ele tem muita gratidão e boas lembranças deste tempo.

Em 2015 após seu estágio ficou atuando rapidamente no setor de fomento avícola na empresa Frangos Morgana em Palhoça/SC, porém no mesmo ano ingressou no mestrado em Zootecnia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Produção Animal (Nutrição de Não Ruminantes) concluindo em 2017, trabalhando com a avicultura de postura, bromatologia, qualidade de ovos, ovos orgânicos, dietas e sistemas de produção alternativos.

Prêmios

Durante sua trajetória acadêmica. Ele gosta de destacar dois prêmios que são especiais e muito importantes na sua formação: 2011 – IV Jornada de Produção Cientifica da Educação Profissional e Tecnológica da Região Sul – 3º Lugar, Eixo Temático: Recursos Naturais, Modalidade: Apresentação Oral, Nível: Graduação, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense. Trabalho da área de apicultura desenvolvido no IFFarroupilha – Campus Alegrete. 2018 – Prêmio de Pesquisa Avícola “José Maria Lamas da Silva” – Pôster Nutrição, Conferência FACTA WPSA-Brasil., FACTA WPSA – Brasil.

Trabalho oriundo do mestrado em parceria com outros colegas pesquisadores da área. Em 2017 ingressou no doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Produção Animal, que não foi concluído, pois no mesmo ano foi nomeado no concurso público no IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) para o cargo de técnico de laboratório na área de agropecuária.

Dentro do setor público a atuação profissional mudou o foco, tendo muito mais ênfase na educação, pluralidade de ensino com foco na educação profissional e tecnológica, do que na produção animal direta.

Mercado de trabalho

O mercado de trabalho é muito dinâmico e sistemático se você não acompanha as oportunidades que surgem, seu barco fica para trás, sua decisão em seguir carreira no setor público vem como  meta desde que iniciou o mestrado, ao qual ingressou com o objetivo de exercer a docência na Zootecnia e não faltaram incentivos dos professores.

No setor público o mercado de trabalho age de forma diferente pois as vagas não surgem por meio de demandas conforme os números, dados da produção, gráficos, ações, dólar, bolsa, política, etc., como é no setor privado.

Para o Zootecnista no setor público os desafios são muito maiores, primeiramente as vagas para a profissão são muito mais escassas e com uma concorrência um tanto desleal, pelo número de candidatos que prestam os concursos, vejamos: devido a profissão não ter representatividade merecida pelo conselho que pertence, por não ter leis que incentivem e protejam a profissão, a maioria das vagas dos concursos públicos para zootecnistas, devido a politicas defasadas permitem que colegas com formação em Medicina Veterinária ou Engenheiros Agrônomos prestem o concurso e tomem posse para atuarem como Zootecnistas, sem mesmo ter a formação exigida ao qual o cargo exige.

Douglas conta que ser Zootecnista não é fácil em setor algum, seja ele privado ou público, não pela concorrência das profissões das ciências agrárias, mas sim pela falta de amparo legislativo, falta de amparo de um conselho federal próprio que represente e respeite a profissão como todas devem ser respeitas, em seus espaços, afinal as profissões podem até ser parecidas mas ocupam espaços diferentes.

No IFSC atuando desde 2017 como Técnico de Laboratório ele traz muita coisa ao seu cotidiano, diversos conhecimentos da sua formação, um especial que destaca é o saber lidar com o ser humano antes de lidar com os animais.

O trabalho com as pessoas sempre foi e continua sendo o mais importante em qualquer profissão. Trabalhando agora na área de educação com cursos técnicos, de graduação já realizou diversos projetos orientando ou como colaborador.

Aquaponia Educativa

Seu primeiro projeto como orientador foi o “Aquaponia Educativa no IFSC são Carlos”, esse projeto de extensão com aquaponia tem objetivo de quebrar o paradigma da sala de aula convencional e mergulhar estudantes em um mundo de aprendizagem experiencial.

Dinamizando e divulgando o espaço do campus de São Carlos com a visita da comunidade externa e interna, visando à interação ideológica, para produção de saberes com a comunidade externa através de oficinas e manejo do sistema de aquaponia. A aquaponia é a criação de peixes e organismos aquáticos em consórcio com a produção de vegetais.

O uso da aquaponia é uma ferramenta educacional, ambiental além de demonstrar alguns conceitos de STEM (Science, Technology, Engineering and Math) pode inspirar os alunos com ideias que realmente possam beneficiar a humanidade. Além de ser uma maneira divertida e fácil de envolver estudantes em tecnologias sustentáveis e formas alternativas de produzir alimentos. Também atuou em outros projetos na organização, como nas Semanas Nacional de Ciência e Tecnologia, 2017, 2018 e 2019.

Além de atuar em projetos da área da zootecnia de pesquisa e extensão como colaborador: “Acompanhamento das propriedades rurais vinculadas aos produtores associados da Cootrafar” O projeto atende uma demanda dos produtores rurais associados da cooperativa Cootrafar que disponibilizarão suas propriedades para a realização de aulas práticas do curso Técnico em Agropecuária conforme convênio firmado entre a Cootrafar e o IFSC.

Serão desenvolvidas atividades de visitação nas propriedades, avaliação de demandas específicas e após realização de atividades individuais e ou coletivas, conforme a característica dos trabalhos desenvolvidas. Estas práticas têm o objetivo de melhorar a qualidade de vida das famílias rurais, oferecer novas metodologias de produção, proporcionar a interação da comunidade rural com o IFSC e desenvolver práticas extensionistas que possibilitem este intercâmbio.

“Plantas de cobertura e forrageiras adaptadas ao oeste catarinense” A degradação dos recursos naturais e o elevado custo de produção estão entre os grandes problemas da agropecuária moderna.

Uma das formas de minimizar a degradação do solo é o uso de plantas de cobertura e uma forma de minimizar os custos da produção animal é o uso adequado das plantas forrageiras. Um pré-requisito para que as plantas de cobertura e plantas forrageiras tragam os benefícios esperados pelo seu uso, é a adaptabilidade destas plantas ao fim desejado e as condições edafoclimáticas da região de cultivo.

Diante disso, o projeto tem por objetivo divulgar e estimular o uso de plantas de cobertura adaptadas ao oeste catarinense. “Avaliação do rendimento de carcaça e filé de peixes cultivados no oeste catarinense”

Esse propõe uma análise comparativa para os alunos da disciplina de Processamento e Beneficiamento de Pescado do curso técnico em Aquicultura do IFSC campus São Carlos com o objetivo de avaliar o processamento de peixes produzidos ou oriundos de diferentes fontes no oeste catarinense, isso por meio da análise do rendimento de carcaça e filé beneficiados e quantificados nas aulas práticas por eles visando uma análise crítica entre as fontes e espécies de pescado da região, buscando qualifica-los dentro das técnicas de processamento usuais no mercado e identificar as técnicas equivocadas ou acertadas usadas pelo setor produtivo.

 “Rendimento da produção de derivados de leite de vacas das raças Holandesa e Jersey no Oeste Catarinense” A bacia leiteira da região oeste do estado de Santa Catarina apresenta relevância econômica no cenário produtivo estadual.

Além disso, existe uma cobrança por parte das agroindústrias e por resoluções federais buscando a elevação de parâmetros de qualidade, sendo alguns deles relacionados aos padrões mínimos de higiene adotados na ordenha, como a contagem de células somáticas (CCS) e de contagem bacteriana total (CBT), e outros relacionados a qualidade, rendimento durante o processo de industrialização e remuneração, como o teor de sólidos e gordura. Todos estes, são influenciados pelos cuidados durante a ordenha, pela alimentação fornecida aos animais e pela genética, expressa principalmente pela raça do animal. Entre outros.

Além da atuação profissional a Zootecnia continua presente no seu dia, dia. Em casa, como hobby desde a graduação é apaixonado pela Meliponicultura (Criação de Abelhas Sem Ferrão) e pelo Aquarismo, ao qual trabalhou com seleção e melhoramento de peixes ornamentais em duas criações de entusiastas do setor em Porto Alegre.

Atualmente no IFSC Campus São Carlos é o Coordenador de Extensão e Relações Externas desde Março de 2019, que tem o papel de: administrar o sistema de gestão e os canais de relacionamento da extensão, zelar pelos princípios, objetivos e diretrizes da extensão no IFSC, orientar os coordenadores de atividades de extensão sobre fluxos institucionais de certificação, planejar, coordenar e acompanhar a operacionalização de políticas de relações externas, conforme diretrizes estabelecidas pelo IFSC e pelo Campus.

Também realizar articulações com a comunidade externa, com vistas ao suporte técnico e/ou financeiro de projetos, atividades de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico, eventos e estágios, visar, organizar, documentar e publicar os procedimentos relacionados à área e representar o Câmpus nos fóruns específicos da área.

Além disso a função traz novos desafios, que vão envolvendo a novos conhecimentos que nunca esperava aprender, como gestão de redes sociais, edição de vídeos e imagens, eventos, comunicação entre outros novos conhecimentos. A aproximação com as pessoas e ser comunicativo sempre foram seu potencial.

A extensão sempre foi algo que se identificou deste o curso técnico, pois essa é forma de exercer a profissão. O contato com o público externo, em qualquer espaço, o levar, transmitir e aproximar foi um dos entusiasmos do seu ser “Zootecnista” que se encaixou nessa Função no IFSC. 

Por este motivo hoje é muito grato por ser Zootecnista, mesmo hoje não a exercendo funcionalmente, mas que no meu dia dia ela está sempre presente! Salve a Zootecnia no Brasil!

Texto Márcia Ximenes Nunes

Edição: Dulce Maria Rodriguez

Fotos: Douglas Rodrigues

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