Fortalecer a rede de proteção de crianças e adolescentes ribeirinhos da Amazônia por meio da promoção de ações socioeducativas. Esse é o objetivo do projeto Desenvolvimento Integral de Crianças e Adolescentes Ribeirinhas na Amazônia (Dicara), criado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e que, há 10 anos, atua para proteger e garantir os direitos da juventude da floresta, buscando empoderar e desenvolver suas habilidades e potencialidades.
Só nos últimos seis anos de projeto, foram mais de 18,1 mil pessoas impactadas, sendo 10,3 mil crianças e adolescentes, em 357 comunidades situadas em nove municípios do estado do Amazonas. Foram 348 atividades executadas no âmbito de 21 projetos do Dicara, entre seminários, oficinas, encontros de jovens, eventos culturais, Olimpíadas e Copa da Floresta, além de cursos de qualificação profissional.
Por meio de múltiplas atividades, o projeto contribuiu para incentivar o esporte, a cultura e a qualificação profissional nas comunidades beneficiadas. Um destaque são as Olímpiadas e Copa da Floresta, eventos que reúnem delegações de jovens atletas ribeirinhos e indígenas para competir em modalidades como futebol, cabo de guerra, corrida de saco, arco e flecha, entre outras. Os eventos servem tanto para incentivar a prática esportiva quanto para integrar as crianças e jovens de diferentes comunidades.
No âmbito da qualificação profissional, a FAS promoveu diversos cursos que possibilitaram o acesso dos jovens às novas tecnologias e à inclusão digital, preparando-os para o mercado de trabalho sem precisar se deslocar para os centros urbanos. Alguns dos cursos oferecidos são violão, teclado, informática e educação ambiental, oficinas de liderança jovem, empreendedorismo, corte de cabelo e manicure.
O agricultor Alcione Rodrigues, morador da comunidade Nossa Senhora de Fátima, no município de Uarini, testemunhou de perto o impacto positivo na juventude da floresta. Ele, que atuou como instrutor de educação física ambiental pelo projeto, conta que a iniciativa trouxe diversas oportunidades de aprendizado e integração para crianças, jovens e adolescentes ribeirinhas.
“Não só na minha comunidade, mas em todas que o Dicara esteve presente trouxe muitos benefícios, de muito conhecimento, aprendizado, oportunidades e envolvimento. O Dicara teve um impacto muito positivo dentro da Unidade de Conservação como um todo. Jovens e adolescentes que se formaram nos projetos hoje são líderes de comunidades, dentro da diretoria comunitária, no esporte, na política e até dentro dos movimentos sociais em busca de melhorias para sua comunidade. É muito bom que nossos jovens tenham outro jeito de pensar sobre a vida social, econômica e ambiental”, relatou Alcione.
Ana Santos, de 19 anos, foi uma dessas jovens que teve a vida transformada pelo programa de educação para da FAS. Quando morava na comunidade Maracarana, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, começou a participar das atividades do projeto aos 11 anos.
“Eu participei do curso de educação ambiental, participei de três capacitações e do curso de liderança jovem e empreendedorismo. Já fiz umas aulas de teatro e também fui integrada como atleta e depois como professora nas Olimpíadas da Floresta. Foi um projeto que trouxe uma mudança, porque eu sempre me desloquei da minha comunidade para fazer cursos e, depois, não precisei mais. Eu sei que muito do que eu tenho hoje na minha visão foi por conta desse projeto. Levo ele pra onde eu vou. Foi gratificante pra mim, e também pra minha família e pra minha comunidade, porque hoje nós damos valor à nossa comunidade, à nossa cultura, aos nossos esportes, à nossa própria educação”, diz Ana, que hoje é estudante de jornalismo e gestão financeira.
Para a gerente do Programa de Educação para a Sustentabilidade (PES) da FAS, Fabiana Cunha, o projeto contribuiu para empoderar os jovens e suas comunidades.
“Por meio das oficinas, o projeto levou empoderamento aos jovens mostrando que eles podem ter autonomia financeira utilizando seus saberes regionais. As atividades de esporte e cultura fortaleceram a garantia de direitos, benefícios à saúde, desenvolvimento social e humano e valorização da cultura ribeirinha. Tudo isso torna o Dicara uma referência que impulsiona o protagonismo de crianças e adolescentes da Amazônia, formando cidadãos que contribuem para o fortalecimento da autoestima e autonomia das comunidades em que vivem”, disse.
Foto: Lucas Ramos