De acordo com a pesquisadora da Embrapa, estratégia pode solucionar problemas de abastecimento internacional devido ao crescimento da demanda pela carne
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), o Brasil possui um rebanho bovino de 213,5 milhões cabeças distribuídas em 164,70 milhões de hectares, com taxa de lotação média de 0,7 (Unidade Animal (UA) por hectare, sendo 80% destas cabeças sendo de boi Zebu, por apresentarem melhor adaptação às condições climáticas.
Apesar da elevada extensão territorial, condições ambientais favoráveis e dieta baseada em pastagens que favorece a produção de carne, o Brasil apresenta taxa de desfrute muito abaixo dos outros importantes países produtores de carne.
Dito isso, Juliana Corrêa, médica veterinária e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acredita que a precocidade sexual de novilhas Nelore faz parte do futuro da pecuária brasileira, visto que o aumento da eficiência da pecuária está diretamente ligado à redução da idade ao primeiro parto, e redução do intervalo de partos.
De acordo com o boletim da Centro de Inteligência da Carne Bovina (Cicarne), a produção de carne bovina aumentou 146,4% em 22 anos, tendo saído de 3,3 milhões de toneladas em 1997 para 8,2 milhões de toneladas em 2019. Nesse mesmo ritmo ocorre o aumento das exportações, sendo que, nos 12 anos finais do tempo analisado, entre 2007 e 2019, o crescimento foi de 22,8%.
Segundo a pesquisadora, o mercado internacional sinaliza que o Brasil será o grande abastecedor de carne bovina para a crescente demanda mundial, sendo assim, será preciso aumentar sua produção em quantidade e qualidade, ou seja, precisará cada vez mais de novilhas mais precoces para suprir as demandas internas e externas da carne.
“A precocidade é uma característica unânime nos diferentes setores de produção como um dos mais importantes parâmetros de escolha para melhoria da qualidade da carne e de eficiência de sistemas de produção de bovinos de corte. Por isso, há grande interesse econômico em se obter a entrada das fêmeas à idade reprodutiva e, consequentemente, ao ciclo de produção, seja pela produção de bezerros ou de carne”, diz Juliana.
Reduzir a idade para a entrada à reprodução, de 36 para 24 meses, como a maioria das regiões marginais para onde a cria está se deslocando, ou de 24 para 14 meses, em sistemas mais intensificados, potencializaria os índices produtivos e resultaria em aumento de arroba produzida por hectare, segundo a médica.
“Não é um processo tão simples quanto parece, pois atrelado a essa precocidade está à intensificação do processo, principalmente, nas questões reprodutivas, nutricionais e genéticas, todas interagindo com o benefício/custo. Ou seja, precocemente introduzir fêmeas na idade reprodutiva é interessante se for possível e sustentável”, afirma a pesquisadora.
De acordo com Juliana, por conta destes fatores, a demanda do setor produtivo é grande, seja para produtor comercial, genética, cria ou de ciclo completo, em relação às soluções dos fatores que influenciam negativamente à adoção do processo de redução da idade à reprodução, como:
- Baixa taxa de prenhez
- Alta perda embrionária (em fêmeas super precoces, de 14 meses)
- Incerteza quanto ao desenvolvimento e desempenho produtivo de seus produtos
- Problemas associados à baixa reconcepção da primípara precoce
- Altos custos de produção, falta de consenso das estratégias nutricionais
- Não expressão do potencial genético para a característica da precocidade sexual (ou pela não utilização de genótipos dentro do rebanho, ou pela falta de oferecimento de condições ambientais)
Essas questões mostram que a tomada de decisão para a redução da idade para reprodução depende de vários fatores dentro de um sistema de produção.
A pesquisadora da Embrapa afirma que não é possível olhar isoladamente para os protocolos hormonais de indução de precocidade e de inseminação artificial em tempo fixo como solução dos problemas para alcançar a precocidade, se não for oferecido condições nutricionais para o desenvolvimento das novilhas com certeza haverá limitação no desenvolvimento e desempenho do animal.
“Se cuidarmos com atenção dessa fêmea e dermos condições nutricionais adequadas, com protocolos reprodutivos adequados, juntamente com o uso correto da genética e do manejo nutricional, estaremos andando no rumo certo para alcançar a sustentabilidade do sistema e escrever novos capítulos na história da pecuária brasileira”, finaliza Juliana.
Texto com informação da Assessoria
Fotos: Reprodução