95 famílias de quatro comunidades da zona rural de Manaus, conseguiram sair da produção apenas para subsistência e após três anos com capacitação técnica da Embrapa, geram renda
Comunidades de agricultores familiares, que participam de ações de transferência de tecnologias da Embrapa Amazônia Ocidental em parceria com Cáritas Arquidiocesana de Manaus, conseguiram sair da produção apenas para subsistência e após três anos com apoio, capacitação técnica e organização coletiva.
A colheita das últimas semanas foi comprada pela Cáritas Arquidiocesana, para ajudar além das próprias famílias dos agricultores, também outras 200 famílias da zona urbana, em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia de covid-19.
A entidade comprou cerca de duas toneladas de banana pacovã e mais de duas toneladas e meia de produtos como mandioca, macaxeira, limão, hortaliças e frutas, de 95 famílias das comunidades São Francisco do Mainã e Jatuarana, no bairro do Puraquequara, e Frederico Veiga e Novo Paraíso, no bairro Tarumã-Açu, todas na zona rural de Manaus.
Nessas comunidades, a capacitação técnica, organização social, trabalho coletivo, acesso a tecnologias agrícolas e acesso a políticas públicas vêm sendo viabilizadas desde 2016 em parceria com a Cáritas e a Embrapa Amazônia Ocidental.
“É uma satisfação muito grande ver essa mudança, porque há mais de três anos, eles viviam de algum extrativismo e quase não tinham produção agrícola nem para seu próprio consumo e agora é a primeira grande venda da produção deles”, afirma o coordenador de projetos na Cáritas Arquidiocesana Manaus, Antonio Fonsêca,
Fonsêca cita “Apesar do momento difícil que estamos passando, a gente faz uma análise positiva, porque hoje eles estão se mantendo e ajudando outras famílias com seus alimentos produzidos”,
O projeto pela Cáritas, chama-se “UKA-casa comum”, voltado ao desenvolvimento rural. Na parceria da Cáritas e Embrapa Amazônia Ocidental, os agricultores foram sendo inseridos em atividades de transferência de tecnologia da Embrapa, principalmente para produção de guaraná, mandioca, açaí e banana, além de participar de capacitações em diversos temas relacionados à agricultura.
Geração de renda permanente a partir da agricultura
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, sociólogo Lindomar Silva, que articulou a parceria com a Cáritas e vem acompanhando o trabalho nas comunidades desde 2016, comenta que uma das propostas da atuação na comunidade tem sido possibilitar que os agricultores pudessem ter geração de renda mais permanente a partir da agricultura.
Lindomar comenta que essa experiência vem mostrar que “agricultores familiares que estão numa lógica de pobreza, e que tem acesso à tecnologia e capacitação para utilizá–la, estão vivenciando um processo de acesso a uma renda mais estável a partir do que produzem, e isso é algo novo pra eles, porque antes tinham apenas a incerteza da atividade e do comércio do extrativismo”, comenta.
Por meio da parceria com a Embrapa, os agricultores foram inicialmente inseridos em projeto de produção de guaraná, depois em ações de projeto de fruticultura com o açaí, e mais tarde acrescentaram outras culturas com retorno mais rápido como a banana e mandioca.
Dentre as tecnologias da Embrapa que os agricultores tiveram acesso estão: clones de guaraná mais produtivos e resistentes à antracnose e informações do sistema de produção; sementes certificadas do açaí BRS-Pará, mudas de banana multiplicadas em Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa; insumos e manejo da cultura da banana e uso de tecnologia de deposição de fungicida na axila da planta para controle da sigatoka-negra em banana pacovã; cultivares e manejo da mandioca Aipim manteiga.
“As tecnologias não seriam suficientes sem a organização social da comunidade e o arranjo interinstitucional com as parcerias que permitem implementar um processo de produção e de geração de renda”, acrescenta o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Gilmar Meneghetti, que também participa do trabalho junto às comunidades. A organização da comunidade, as capacitações, o planejamento conjunto e a prática de gestão coletiva, propiciadas pela parceria, vem possibilitando que o trabalho tenha continuidade e possa seguir com autonomia em relação às instituições apoiadoras. Um exemplo é que os agricultores criaram um fundo de recursos para pagar insumos, materiais e serviços de logística em comum (como transporte, combustível) necessários para o trabalho e assim prosseguir com a produção agrícola.
Um fator importante para implementar a produção agrícola na comunidade foi o trabalho coletivo, reforça uma das lideranças da comunidade São Francisco do Mainã, o agricultor Francisco Mateus da Silva, 62 anos. Ele conta que “antes tinha uma vida privada de muitas coisas”. Com o trabalho das oito famílias envolvidas na parceria em sua comunidade, começam a ver os resultados, que contam atualmente com dois mil pés de bananeira em produção, e já retiraram 200 sacas de mandioca para produção de farinha. “Isso traz uma alegria muito grande, a gente não tinha muita perspectiva e agora está trabalhando na nossa área, isso trouxe segurança, produzindo e colhendo a gente fica satisfeito”, afirma
Texto: Dulce Maria Rodriguez com informações da Embrapa
Fotos: Divulgação