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Países da faixa tropical devem intensificar práticas agrícolas sustentáveis e construir plataformas de colaboração

O diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, ressaltou a importância da agricultura tropical para as discussões em torno dos sistemas alimentares e defendeu que a comunidade internacional passe a denominar o sistema como agroalimentar devido à importância do setor.  Otero fez a palestra de abertura da sessão de hoje da Semana Internacional de Agricultura Tropical – AgriTrop 2021, que teve como tema o Panorama do desenvolvimento da nova Agricultura Tropical no mundo, e contou com a moderação do presidente do CNPq, Evaldo Vilela.

“Este seminário é o momento e o lugar apropriado para estabelecer consenso de elementos da agricultura tropical a ser transmitido na Cúpula Mundial dos Sistemas Alimentares”, disse o diretor-geral do IICA. Ele propôs formar alianças e plataformas entre instituições para uma agenda conjunta que permita circular conhecimentos, como os acumulados pelo Brasil nos últimos 30 anos, que fez do país uma potência agrícola.

Desta agenda, ele sugere temas como boas práticas em cada elo das cadeias produtivas, melhorar as infraestruturas, promover a inclusão digital, redução de perdas e desperdícios na produção e o no consumo e acesso à disponibilidade a financiamentos verdes para a agenda tropical.  “É indispensável definirmos e desenharmos alianças e plataformas de pesquisa e inovação na região intertropical e desta região com as zonas temperadas do continente”, ressaltou.

Desde segunda-feira, especialistas de vários países da Europa, África e América Latina estão reunidos na Semana Internacional de Agricultura Tropical – AgriTrop 2021 para compartilhar expertises sobre sistemas alimentares, convergência das agendas agrícola e ambiental, além de desafios e inovações relacionados ao futuro da alimentação mundial.

Organizada pela e pelo Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola (IICA), o evento vai até sexta-feira (26/03) e também tem o objetivo de colher contribuições para a Cúpula Mundial de Sistemas Alimentares, das Nações Unidas, marcada para setembro. 

Otero apresentou um panorama da importância da agricultura tropical e dos pequenos agricultores da América Latina e do Caribe para a produção de alimentos e segurança alimentar mundial e chamou a atenção para as diferenças entre os países da região com relação aos mais desenvolvidos em termos de produtividade e de investimentos em ciência, tecnologias inovação.

Ele lembrou que 28% das terras com potencial para a expansão superfície cultivada estão nos países da faixa tropical nestes países, que detém 31% da água doce do planeta, além de seis dos 17 países com maior biodiversidade do mundo. No entanto, são países que enfrentam muitos desafios para transformar seus sistemas agroalimentares devido a eventos extremos, degradação dos solos, estresse hídricos, pragas e enfermidades, além e limitações no desempenho produtivo e no acesso a mercados.

“A agricultura está sendo chamada para exercer protagonismo, para o qual se requer que sejamos mais eficientes e mais sustentáveis. Devemos posicionar melhor a pesquisa e a inovação para a agricultura, ter mais investimento, mais alianças público-privado e promover mudanças nas agendas”, completou

 

Carne e Laticínios: o desafio da neutralidade

O diretor do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (Catie), Muhammad Ibrahim, fez uma apresentação sobre o equilíbrio entre duas tendências: o aumento do consumo de carne e lácteos e a importância desses sistemas para a sustentabilidade econômica e social dos países da franja tropical e a urgência em reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

De acordo com o especialista, a produção pecuária dos países tropicais emite, em média, 387 kg de CO2 por quilo de proteína e 122 kg de CO2 por quilo de lácteos. Ele advertiu que as perspectivas são de crescimento da ordem de 70% na demanda mundial por carne até 2050 e que os países com potencial para aumentar a produção são Brasil, Paraguai, Bolívia, Colômbia, México, Nicarágua, Costa Rica, Austrália e também o leste da África. 

“A pecuária tem grande importância para os sistemas humanos e no combate a fome, mas também para gera impactos nos sistemas naturais, degradação ambiental e desflorestamento, e tem um papel importante para executar na agenda global. Não é de hoje que há discussão sobre o uso de carne sintética nas dietas e sobre o consumo de leite para reduzir esses impactos, mas também precisamos entender a troca entre esses sistemas e a biodiversidade”, disse.

Ibrhaim apresentou dados referente a adoção de práticas bem gerenciadas em sistemas de produção silvopastoril que, segundo disse, estão reduzindo pela metade a emissão de gases poluentes, ao mesmo tempo em que aumentam a produtividade em cerca de 60% por meio da adoção de estratégias como melhora em pastagens e no manejo, suplementação na estação seca, cruzamentos estratégicos, melhoramentos genéticos, uso de raças adaptadas para climas quentes, entre outras práticas.  

“Precisamos fornecer aos produtores os benefícios da produção de serviços ecossistêmicos e tornar os consumidores conscientes do seu papel e ter instrumentos econômicos e ferramentas financeiras para ajudar os produtores a removerem as barreiras para adotar essas práticas”, reforçou.

Por fim, ele apresentou dados sobre aumento da taxa de sequestro de carbono em práticas utilizadas pela Embrapa por meio da conversão de pastos tradicionais em sistemas silvopastoris e parcerias do Catie junto a países latino americanos para transformar iniciativas locais em nacionais, como em 211 fazendas em Honduras com o objetivo de aumentar produtividade, renda e também o sequestro de carbono. Outro exemplo apresentado, foi o trabalho da Costa Rica que aumentou a produção de carne e de leite ao mesmo empo em que reduziu a área de pasto de 2,4 milhões de hectares para 1,3 milhão de hectare com boas práticas e tecnologias, revertendo ainda o desmatamento.

 

Revolução verde africana 

Fadel Ndiame, vice-presidente da Aliança para a Revolução Verde na África (Agra), ressaltou que a experiência brasileira no desenvolvimento sustentável da agricultura tropical pode ser muito importante para o continente. Apesar das dificuldades relacionadas à complexidade, diversidade e tamanho da região, a instituição tem trabalhado para unir os africanos com raízes em comunidades agrícolas em torno de uma única revolução verde. “Temos um objetivo em comum que é melhorar a qualidade de vida de 30 milhões de pessoas e a agricultura sob bases sustentáveis é uma das soluções nesse sentido”, destacou Ndiame, lembrando que a agricultura representa 2,6 trilhões da economia africana e é responsável pela geração de empregos para a maior parte da população, cerca de 60 a 80%, sendo que 80% dos alimentos vêm da agricultura familiar.

“A agricultura é o gatilho para a transformação econômica da África”, pontuou Ndiame. A população hoje é de 800 milhões de pessoas, mas a previsão é que chegue a 1,5 bilhão em 2050. Um dos grandes desafios enfrentados para o desenvolvimento desse setor no continente são as mudanças climáticas e, entre eles, o aumento da seca, que já está sendo sentido na produção agrícola. Outro problema é a baixa quantidade de pessoas capacitadas atuando no setor. Segundo ele, grande parte do pessoal treinado acaba abandonando o campo e se dedicando a funções burocráticas. “Precisamos investir na digitalização do campo, de forma a atrair os jovens”, ponderou.

Somam-se ainda aos desafios enfrentados pelo continente a pandemia do novo coronavírus, a fragilidade das instituições e a pouca participação do setor privado em investimentos no setor agrícola.

Mas, a despeito de todos esses obstáculos, a África tem um grande potencial de crescimento na área agrícola. É o único continente no qual ainda há área livre para expansão e muitos recursos disponíveis para exploração sustentável. O Agra tem investido esforços, em parceria com instituições do país e do exterior, para fortalecer o crescimento desse setor com base em três principais linhas de atuação: engajamento em políticas públicas, desenvolvimento de sistemas alimentares e cooperações. Uma delas, com a Embrapa, é voltada ao desenvolvimento das regiões de savanas.

A meta para 2050 é aumentar a produção agrícola em 350%, “mas não se trata apenas de produzir mais e sim produzir melhor”, frisou. Nesse sentido, alianças com outros países são fundamentais, especialmente em prol da digitalização da agricultura, intercâmbio de estudantes e fortalecimento das ferramentas de inovação para que as soluções tecnológicas cheguem com mais agilidade ao setor produtivo.

 

 

AgriTrop

O tema da sessão de amanhã será O desafio da transformação dos sistemas agroalimentares com sustentabilidade. O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, fará a palestra de abertura sobre Tecnologias Poupa-Terra: as contribuições brasileiras para uma agricultura sustentável. Participam como painelistas: o professores Durval Dourado Neto (ESALQ/USP) e Paulo Leme (Universidade Federal de Lavras), Walter de Boef (Wageningen University & Research), Eduardo Arce (FAO, Roma) e Alberto Vilarinhos (Embrapa Mandioca e Fruticultura).  A professora Silvia Miranda (ESALQ/USP) fará a moderação.

As sessões diárias são transmitidas pelo Youtube da Embrapa, em português, e pelos Canais IICA Noticias e IICA News em inglês e espanhol. Os links de transmissão estão disponíveis na programação no hotsite do evento www.embrapa.br/agritrop21

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa

Fotos: Divulgação/Embrapa

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