BRASÍLIA. A um mês do encerramento dos trabalhos, a CPI das ONGs inquiriu hoje o dirigente e um dos sócios fundadores do Instituto Sócio Ambiental (ISA), o ex-deputado Márcio Santilli. Com oito escritórios no País sendo cinco em regiões estratégicas em riquezas na Amazônia, infiltrado em órgãos governamentais, o ISA funciona como um governo paralelo ditando regras de repressão e fazendo lobby contra obras estruturantes não só na região. É também não só o campeão de doações bilionárias de governos e grandes fundos internacionais, mas também campeão de denúncias de lideranças indígenas, pesquisadores e antropólogos , que acusam a ONG de patrocinar estudos fraudados para subsidiar o Ministério Público, Funai e Ibama para novas demarcações de terras indígenas e criação de Unidades de Conservação.
Pelos balanços levantados pela CPI das ONGs , a média da movimentação financeira dos últimos anos indica que o ISA recebeu desde sua criação em 1992, cerca de R$2,5 bilhões. A contabilidade da ONG que manda na Amazônia e funciona como guarda chuva de centenas de outras organizações espalhadas em todas as regiões da Amazônia, faz inveja a qualquer empresa privada: R$201.3 milhões entre 2021 e 2022, sendo 72.9% doações estrangeiras. Em 2022 foram 84.5% gastos em atividades meio, ou seja, migalhas chegam na ponta .
“Se eu tenho alguma coisa contra o ISA? Tenho. Pela escravidão imposta aos povos indígenas, pela manipulação e pelo que fizeram no Alto Rio Negro”, diz o presidente da CPI, senador Plínio Valério
Como dirigente do ISA Marcio Santilli diz que não tem salário , mas que possui uma empresa jurídica, a AM Consult que presta consultoria para a própria ONG que dirige. Como outros dirigentes de ONGs na CPI, não quis revelar quanto o ISA paga por sua consultoria. Mas no balanço de 2022 a ONG que dirige pagou R$14 milhões por “serviços de terceiros /pessoa jurídica.O senhor faz consultoria para si mesmo? O ISA paga bem _ perguntou o senador Styvenson Valentin(Podemos-RN).
“Preferia ganhar um pouco mais”, ironizou Santilli, negando-se a dizer os valores alegando ser informação privada, e que mandaria para a CPI em caráter reservado.
Na CPI das ONGs, Márcio Santilli revelou que possui a empresa AM Consultoria, que há 15 anos presta serviços à própria ONG. E sua sócia no ISA e na consultoria, Adriana Ramos, integrou conselho do Fundo da Amazônia, gerido pelo BNDES, que direcionou milhões para projetos executados pelo ISA. Questionado se não achava essa promiscuidade imoral, Santilli disse que não.
“De forma nenhuma”, respondeu ao relator, Márcio Bittar.
Não bastasse a captação de recursos estrangeiros e milhões jorrados de convênios com o Fundo Amazônia, o ISA comanda também uma rede internacional de negócios com a exploração de produtos grifados da cultura indígena que vai do cogumelo yanomami sonoma á pimenta Baniwa produzida no alto Içana e que agora é comercializada para a fabricação de cerveja na Irlanda, a Baniwa Chili.
O ISA é citado no Relatório parcial da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) á CPI das ONGs, como principal organização que atua na Amazônia , patrocinada principalmente pela USAID ( Agência do Governo do Estados Unidos da América para Assistência Humanitária e Econômica ) para mobilizar indígenas , ribeirinhos e quilombolas para impedir obras de infraestrutura e projetos de desenvolvimento na região , o que, segundo a Inteligência, configuram tentativas de interferência externa. Santilli admitiu que o ISA recebeu R$9 milhões da americana Fundação Moore para “segurar” a construção da ferrovia Ferrogrão, por exemplo.
“A CPI ouve denúncias, apura denúncias, provas, e encaminha o relatório final ao Ministério Público da União, à Procuradoria-Geral da República. Fica com eles a responsabilidade de investigar e punir, ou não. No relatório, se o Relator achar que sim, aí vão indicações de indiciamento, de pedido de investigações, para que o brasileiro não pense que nós da CPI temos o poder de julgar e punir. Mas na CPI temos o dever moral de mostrar as coisas ditas pelos índios invisíveis, aqueles que não têm voz, que não são enxergados, aqueles que o Mundo, o Brasil e as ONGs esqueceram”, explicou o presidente Plínio Valério.
*com informações da assessoria