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Múltiplos Natais no Coração da Amazônia

A Amazônia em sua plena exuberância e extensão, abriga incontáveis formas de vida, que vão de micro-organismos à animais gigantes como o pirarucu (Arapaima gigas). Se já não bastasse tudo isto, este é o bioma brasileiro que apresenta o maior estado do país, ocupado por uma grande floresta e por imensos rios e lagos que banham diversas localidades, entre municípios, comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas.

Esta miscigenação é o que mais encanta o Estado do Amazonas, fazendo deste um local que atrai turistas por sua diversidade e abundância de riquezas naturais e culturais. Ainda, nele encontra-se o município de Tefé, localizado a mais de 500km da capital do Estado e com uma população de quase 60mil habitantes, segundo os dados do IBGE (2020). Tefé é abraçada pelo Lago Tefé, formado pelo rio de mesmo nome e afluente do Solimões, rio de água branca e cenário de diversos contos e lendas da região.

Tefé possui uma população em sua maioria de origem simples e cabocla, que cultiva mandioca, castanha e cultiva cultura e tradição, como a tradição Natalina, principalmente por se tratar de uma população religiosa. 

Nesta época do ano, é comum ver o centro da cidade lotado pelas compras de última hora e pela movimentação das motos e dos “filhos da terrinha” que vem de Manaus para passar as férias com a família e os amigos que ainda moram na terra da Castanha. É comum, também, ver lotação em pizzarias e bares que organizam confraternização de empresas e pequenas lojas, assim como quermesses, igual a de São Tomé, que antecipa a noite natalina.

Em sua Zona Urbana, é comum que as pessoas passem a celebração em casa, ao menos até meia-noite, quando ocorre a ceia. Entre troca de presentes, música alta e roupa nova, a noite mágica ocorre entre os munícipes e outros parentes vindo de Manaus, seja por avião através do Aeroporto Regional de Tefé, ou enfrentando 2 dias e 2 noites de barco, com escalas nos municípios de Codajás e Coari. 

A ceia é regada de comidas tradicionais como Peru e Chester, frango com farofa (com uva-passa, claro), o típico vatapá e se pode encontrar até mesas com um belo sarapatel no casco de Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa), que é proibido por Lei sobretudo nesta época em que ocorre a desova destes bichos de casco.

Há quem incremente sua noite com iguarias da região, como doce de tapioca ou cupuaçu, produtos estes que podem ser encontrados na Feira Municipal, que apresenta uma linda vista para o Lago Tefé.

Após a meia-noite, é comum que os jovens deixem seus lares e se dirijam para festas que ocorrem anualmente em clubes ou casas de Show. Em 2020 não vai ser diferente: duas grandes festas prometem abrilhantar o Natal na cidade, com apresentações de bandas locais e regionais. Porém, como medidas preventivas ao COVID-19, o Governo do Estado acaba de decretar o fechamento de atividades não essenciais em todo o seu território, o que pode afetar no não acontecimento das festas no município.

Enquanto isso, a zona rural apresenta um Natal animado e familiar, porém com mais simplicidade. As comunidades tradicionais, principalmente aquelas onde em sua maioria tem parentesco entre os moradores, concentram-se em Igrejas e Centros Comunitários.

As comunidades vizinhas também podem ser convidadas a se deslocarem a comunidades mais próximas, o que lhes permite embarcarem em barcos menores ou canoas e motor-rabeta para se juntarem à outros comunitários para a festa em uma comunidade maior. 

A partilha é garantida não apenas nos presentes, mas também na ceia, onde grupos se juntam para cada um oferecer um prato, bebida ou decoração. O som? Fica por conta deles mesmos: sempre há aquele tio que sabe tocar violão ou tem alguma música na ponta dos dedos no teclado, para colocar todo mundo para dançar aquele forró-brega que só um típico tefeense sabe dançar.

Em um ano tão difícil para todo o mundo, Tefé também apresentou diversos problemas decorrentes à pandemia do COVID-19, entre eles mais de 5mil casos notificados e 105 óbitos, incluindo em indígenas. É preciso tomar os cuidados básicos de higiene e ter cautela com aglomeração, principalmente com os familiares que pertencem ao grupo de risco.

Contudo, entre as inúmeras opções de festança da Zona Urbana e a tradicional simplicidade da Zona Rural, é preferível escolher entre as belas opções que Tefé tem a oferecer, até porque o nascimento do menino Jesus é isso: é crença, é fartura, é família, é simplicidade. É noite de celebração e esperança para um 2021 melhor!

Texto: Luzivaldo Castro dos Santos Júnior

Fotos: Luzivaldo Castro dos Santos Júnior e reprodução

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