Em 2020 o manejo de jacarés com fins comerciais teve início no Amazonas com o abate de 28 jacarés-açu. A produção, 600 kg de carne, foi vendida rapidamente na primeira “Feira de Jacaré Manejado” em Tefé
Sendo estruturado desde 2003, finalmente em 2020 o manejo de jacarés com fins comerciais teve início no Amazonas. O abate de 28 jacarés-açu (Melanosuchus niger) configura o primeiro manejo comunitário de jacarés em conformidade à legislação estadual para realização da atividade em unidades de conservação do Estado.
O manejo foi realizado pela Associação de Produtores do Setor Jarauá (APSJ) da RDS Mamirauá, com assessoria técnica do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). A atividade passou por todo o processo de avaliação por órgãos competentes Estaduais (SEMA, IPAAM, DEMUC e ADAF) e Federais (IBAMA), que autorizaram e apoiaram o abate dos jacarés após aprovarem o plano de manejo produzido pelo corpo técnico do IDSM.
O primeiro abate
Os jacarés foram abatidos no abatedouro flutuante Plantar (SIE nº229), desenvolvido pelo IDSM e localizado no Setor Jarauá, e a carne produzida demonstrou ótimas condições sanitárias para consumo após análise de qualidade.
A produção teve como destino o município de Tefé, que sediou em março a primeira “Feira de Jacaré Manejado”, onde os cerca de 600 kg de carne foram rapidamente vendidos, a preços de R$6,00 a R$15,00/kg. A feira foi fruto da parceria entre APSJ e IDSM e as secretarias municipais de Produção e Turismo, Vigilância Sanitária de Tefé, Colônia de Pescadores de Tefé e IDAM.
Também as peles foram comercializadas, enviadas para curtume em Minas Gerais. A grande aceitação dos produtos e os valores de comercialização, indicam que o manejo de jacarés pode se tornar de fato uma alternativa de renda às comunidades ribeirinhas Amazonenses, quando maiores escalas de produção e nichos de mercado regionais puderem ser acessados.
Desafios
Entretanto, a atividade ainda está em seu início, e é fundamental para solidificar seu sucesso, que a pesquisa e o monitoramento nas áreas de manejo sejam contínuos, para que o manejo de jacarés cumpra também sua função de instrumento de conservação do ambiente e das espécies.
É fundamental também que os órgãos públicos, assim como ocorrido nessa primeira experiência de sucesso, continuem apoiando as iniciativas de manejo sustentável de recursos naturais no Estado, e que políticas de estabelecimento de preço mínimo e de apoio às associações comunitárias manejadoras sejam discutidas e criadas.
A infraestrutura local de beneficiamento, armazenamento e transporte, ainda carente em número e regularização de estabelecimentos, mostra-se como principal gargalo ao aumento da produção e aproveitamento de subprodutos. Um novo abate deverá ocorrer no segundo semestre de 2021, e meios de atingir também o mercado Manauara estão sendo estudados.
Que, a partir dos aprendizados dos últimos anos, o manejo de jacarés possa se consolidar como uma realidade sustentável e economicamente viável para as comunidades das unidades de conservação do Amazonas.
Artigo: Diogo de Lima,
Responsável pelo Programa de Manejo de Jacarés ,
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Fotos: Reprodução, Júlia e Augusto