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Ilhas oceânicas: pesquisadores brasileiros atuam no meio do Atlântico, a mais de 1,1mil km da costa

O conjunto de ilhas rochosas São Pedro e São Paulo no meio do oceano Atlântico, é difícil de ser detectado sem a ajuda de equipamentos. Partindo do Rio Grande do Norte, as ilhas estão a mais de 1mil km da costa brasileira. Para alcançá-las são pelo menos dois dias de navegação. Os 17 mil m2 que estão visíveis sobre a linha d’água, o equivalente a quase dois campos de futebol, ficam no hemisfério norte. Esse é o ponto do Brasil mais próximo do continente africano, a 1,8 mil km de Guiné Bissau. As ilhas emergem em uma região com mais de 4 mil metros de profundidade.

É neste local inóspito que está sediada uma Estação Científica que desde 1998 tem importância estratégica para o País. A ocupação permanente do local – sempre há quatro pesquisadores no local – para a realização de pesquisas científicas, permitiram que o País agregasse aproximadamente 450 mil km² à sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). A área se aproxima do tamanho dos estados do Paraná e São Paulo somados.

Em outubro, uma expedição com duração de 15 dias a bordo do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira, levou 24 pesquisadores de seis grupos de pesquisa e de sete universidades federais de diferentes regiões do país para o trabalho de campo. A maior parte dos projetos foram selecionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) a partir da chamada pública ‘Programa Arquipélago e Ilhas Oceânicas’. O edital que permitiu investimento de R$6 milhões integra as ações do Programa Ciência no Mar, gerenciado pela coordenação-geral de Oceanos, Antártica e Geociências da Secretaria de Pesquisa e Formação Científica (CGOA/SEPEF). Além do Arquipélago, são realizadas pesquisas nas regiões da Ilha da Trindade e do Arquipélago de Martim Vaz.

Os programas de pesquisa executados a bordo nessa expedição envolveram estudo de poluentes orgânicos persistentes; monitoramento da atividade sísmica e de emissões bioacústicas; a caracterização de fungos presentes em sedimentos marinhos profundos do oceano Atlântico, com coleta de amostras a mais de 4 mil metros de profundidade; a avaliação dos fatores ecológicos e da pressão antrópicas atuando sobre as aves marinhas; o monitoramento da biodiversidade marinha em ilhas oceânicas brasileiras; e o monitoramento da distribuição e abundância de cetáceos (baleias e golfinhos) entre a costa do Nordeste do País e o Arquipélago.

A pesquisadora Helenice Vital, do laboratório de geologia e geofísica marinha do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), participou da recente expedição. Segundo a professora, a região é peculiar e oferece um campo de atuação vasto de investigação científica na fronteira do conhecimento para várias áreas do conhecimento. Está próxima a uma cadeia de montanhas que está no oceano profundo, as rochas encontras nessa região são provenientes do manto terrestre, há atividade sísmica, entre outros fatores. “Essa região está próxima de zonas de fraturas transformantes que estão no meio do oceano Atlântico e que ainda são pouco conhecidas. Muita coisa da vida que ainda não se conhece, ocorre por causa desses fenômenos que ocorrem nesse lugar. É uma área importante para todos os campos da ciência”, afirma Helenice.

Um local com tanta biodiversidade só pode ser alcançado com os navios adequados. É aí que entra a importância do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira (H-39). Em operação desde 2015, o navio é resultado de um Acordo de Cooperação assinado entre a Marinha do Brasil, o MCTI, a Petrobras, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) e a Vale, para ampliar a infraestrutura para a pesquisa científica marinha. É considerado um dos mais modernos e completos navios de pesquisa do Hemisfério Sul, com capacidade de atuar em diversas áreas da hidrografia (geofísica, oceanografia, acústica submarina e meteorologia) e apoiar projetos científicos de instituições de pesquisa e de universidades que possuem interesse nos recursos vivos e não vivos, água ou leito marinho.  A cada ano o MCTI faz processo de seleção de projetos científicos para embarque nas expedições do Navio Vital de Oliveira. A consulta públicaaberta em 2022 para selecionar projetos de pesquisa que necessitam de apoio da embarcação em 2023 está em análise. Ao todo, foram submetidos 18 projetos.

No casco da embarcação está instalado um dos equipamentos utilizados durante as expedições que utiliza a tecnologia denominada batimetria multifeixe, que permite produzir o imageamento do assoalho oceânico (técnica que gera imagens mapeando a composição molecular de um determinado material e o relevo marinho).

“Os detalhes são incomparáveis. O satélite é importante para ter a primeira visão. Mas para fazer o mapeamento [com precisão] decidir onde vai instalar algo ou a área mais propícia, é preciso conhecer o relevo em detalhes”, explica a pesquisadora sobre a diferença relativa à batimetria por satélite, que permite mapear grandes áreas, porém com baixa resolução.

Segundo a Marinha do Brasil, atualmente, o Vital de Oliveira tem sido empregado no imageamento do relevo marinho na Elevação do Rio Grande, área com a extensão estimada em cerca de 1 milhão de km2 e que está sendo pleiteada junto à Comissão de Limite da Plataforma Continental da Organização das Nações Unidas.

Atualmente, apenas 19% do fundo do oceano é conhecido por meio de imagens de alta resolução. Esse é um dos desafios propostos pela Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Até 2017, apenas 13% eram conhecidos. O mapeamento é importante para conhecer onde estão as rochas e sedimentos, qual é o relevo, as partes mais profundas e mais rasas.

De acordo com Helenice, além de esse conhecimento ser necessário por questões de segurança para a navegabilidade das embarcações, as informações são essenciais para a tomada de decisão sobre a construção em áreas afastadas da costa de plataformas de petróleo e de torres para geração de energia eólica. “Onde é melhor área para instalar? Precisa ser conhecido para a decisão.  É o planejamento espacial marinho”, detalha a professora.

Assista ao vídeo sobre a expedição ilhas oceânicas neste link.

Fotos: Divulgação Marinha do Brasil

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