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Heróis não escolhem quem salvar

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Alexandre Garcia relembrou hoje algo ocorrido há exatos 40 anos no Zoológico de Brasília

O Sargento Silvio Hollenbach , que saía do Zoo acompanhado de mulher e filhos , de repente ouve atrás de si uma gritaria desesperada.

Ele corre para ver o que havia ocorrido.

Era um menino de 13 anos – Adilson Florêncio da Costa – que acabara de cair no tanque onde ficavam as ariranhas , carnívoros ferozes .

Sem medo e sem pensar duas vezes (assim são os heróis) lançou-se ao tanque e salvou a criança .

Mas com o custo da própria vida, já que levou quase 100 dentadas fatais das feras .
Morre em seguida no hospital próximo.

O jornalista recordou esse fato para nos revelar que os filhos do sargento martirizado (4), criados pela viúva com dificuldades, são hoje médico, advogada, um analista de sistemas e uma professora.

O curioso e o amargamente irônico, numa dessas ironias de que só o destino e as escolhas humanas são capazes, está no que o garoto salvo fez de sua vida.

Primeiro, jamais agradeceu e nem sequer quis recordar a situação de seu dramático resgate em entrevistas que, em vão, órgãos da mídia em diversas oportunidades tentaram lhe arrancar.

Depois, e pior, é que o menino Adilson se tornou diretor financeiro do famoso Postalis,(certamente pelo PT) colossal fundo previdenciário dos Correios. Posição na qual deu 90 milhões de desfalque em 2016, o que lhe valeu uma estadia na prisão .

Solto certamente pelos sinistros do STF ou adjacências, como já se tornou costume, voltou a delinquir tendo sido agora de novo processado pelo desvio de mais de R$1 bilhão daquele fundo. E certamente está hoje soltinho, participando dessa absurda greve dos Correios por privilégios contra uma população indefesa e trancada em casa por medo da pandemia.

Aguardando muitas vezes medicamentos encomendados.

Moral da história?

Difícil achar uma.

A não ser a reflexão sobre quão complexos e insondáveis são os planos divinos para os mortais .

Mas o fato é que a alma corrupta e repelente em que se tornaria aquele menino não poderia ser prevista pelo sargento que destemidamente o salvou.

Fez o que lhe impunha um nobre caráter. A grandeza de sua alma por si só fez seu ato valer a pena .

Acho que mesmo se pudesse antecipar o futuro e, num insight , conhecer o crápula por quem se sacrificava deixando mulher e filhos pequenos, penso que ainda assim resgataria o moleque da morte terrível .

Fez a coisa certa . Disso teve a certeza. O resto é com Deus . Como Jó , que afligido por todo tipo de males que não merecia, nunca deixou de praticar o bem e de ter plena consciência de ser justo.

Assim é nosso destino sobre a Terra. Uns 99% de nós, dependendo das circunstâncias, farão o bem ou o mal: assim somos nós todos, pessoas normais, seres ao sabor das contingências, interesses e paixões do momento .

Uns 0,5% de nós farão apenas o mal pelo mal: são os perversos natos, os psicopatas, certos políticos e certos togados .

Mas felizmente os restantes 0,5% são guiados e motivados somente pelo bem e o altruísmo gratuito, devolvendo o mal com o bem: são os santos e heróis de que o sargento Silvio certamente faz parte destacada.

Para sorte do Adilson. Para azar dos associados do Postalis.

O Zoo de Brasília hoje leva o nome de Sargento Silvio. Enquanto a Papuda recebe a antiga criança que salvou. É a vida. Só acho.

Texto Alexandre Garcia

Fotos: Reprodução

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