Com os riscos de recessão se concretizando nas principais economias, o impacto no comércio global e nas economias em desenvolvimento, como o Brasil, se torna cada vez mais evidente.
Em 2025, o cenário econômico global se torna cada vez mais preocupante. As economias dos Estados Unidos e da Europa enfrentam uma recessão que, segundo analistas, pode ter consequências devastadoras não apenas para suas próprias populações, mas também para o comércio global e, em especial, para países em desenvolvimento, como o Brasil. O aumento das taxas de juros, utilizado como um dos principais instrumentos para combater a inflação, e a crise energética na Europa, intensificada pela guerra na Ucrânia, contribuíram para a atual situação.
O Goldman Sachs já havia elevado a probabilidade de uma recessão nos EUA para 25% em 2024, e agora, com os dados de crescimento projetados pelo FMI indicando uma queda no PIB americano, a realidade se confirma: a economia dos EUA deve crescer apenas 1% em 2024. Na Europa, a combinação de altas taxas de juros e a crise de energia criaram um ambiente propício para uma recessão profunda, afetando severamente o consumo e a produção.
Os impactos globais são palpáveis. A desaceleração econômica nos EUA e na Europa tem reduzido a demanda por produtos e serviços de outros países, incluindo o Brasil. Isso levou a uma diminuição nas exportações brasileiras, queda nos investimentos estrangeiros e uma desvalorização do real, tornando as importações mais caras e contribuindo para o aumento da inflação no país. Como o economista Rogério Studart observa, o Brasil pode enfrentar uma desaceleração econômica significativa, mas ainda pode evitar uma recessão total, desde que a crise nas economias mais robustas não se aprofunde ainda mais.
O último relatório do Banco Mundial aponta que a economia global deve ter o pior desempenho em termos de crescimento do PIB na última meia década, com uma previsão de crescimento de apenas 2,4% em 2024. As economias em desenvolvimento, por sua vez, devem crescer apenas 3,9%, um cenário que é um ponto percentual inferior à média da década anterior. O que isso significa para países como o Brasil, que dependem do comércio exterior para impulsionar suas economias?
Com a recessão nos EUA e na Europa se confirmando, a demanda por produtos brasileiros deve continuar a cair, levando a um ciclo potencialmente vicioso de desaceleração econômica. Os dados mostram que 40% da população em países de baixa renda ainda vive em condições piores do que em 2019, e a situação só tende a piorar se não forem adotadas medidas eficazes.
Diante desse cenário, que ações os governos e instituições financeiras devem considerar para mitigar os impactos? É essencial que os países em desenvolvimento, especialmente os exportadores de commodities, adotem políticas fiscais que evitem a “prociclicidade”, caracterizada por gastos excessivos em tempos de bonança e cortes em períodos de crise. A implementação de um marco fiscal sólido e a criação de fundos soberanos podem ser estratégias cruciais para garantir a estabilidade econômica.
As perspectivas regionais também indicam um crescimento moderado: Leste Asiático e Pacífico devem registrar 4,4% de crescimento; Europa e Ásia Central, 2,7%; América Latina e Caribe, 2,5%; Oriente Médio e África Setentrional, 3,5%; Sul da Ásia, 5,9%; e África Subsaariana, 4,1%. Esses números refletem um crescimento desigual, com muitos países ainda lutando para se recuperar das consequências da pandemia e da crise econômica atual.
A década de 2020, conforme declarado por Indermit Gill, economista-chefe do Banco Mundial, pode ser lembrada como a “década das oportunidades perdidas” se não houver uma reorientação significativa nas políticas econômicas globais. A pergunta que se impõe é: os países estão prontos para agir agora, antes que seja tarde demais, e transformar as dificuldades em oportunidades de crescimento sustentável? A resposta a essa pergunta pode determinar o futuro econômico não apenas do Brasil, mas de toda a economia global.
Texto: Emelin López
Foto: Reprodução/Internet