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Entrevista com o secretário da Produção do Amazonas Petrúcio Júnior, veja

Segundo o secretario da Sepror não se pode olhar para a piscicultura do Amazonas sem levar em conta os nativos e a pesca extrativista

Em 2020, a produção de peixes de cultivo no Brasil cresceu 5,93% em relação a 2019, mesmo com toda a crise provocada pela pandemia do novo Coronavírus. Foi o que revelou levantamento feito pela Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), divulgado no dia 22 do mês passado.

No Amazonas, importante polo de produção de peixes nativos como o matrinxã e o pirarucu, a produção neste mesmo período cresceu 4,4%. Ou seja, saiu das 20.596 toneladas em 2019 para 21.500 toneladas. No ranking nacional, ocupava a 16ª posição em 2018, para a 14ª em 2019 e 2020.

Para falar deste números e crescimento nacional e no estado do Amazonas, PISCISHOW & AVISULEITE convidou o secretário estadual da Produção Rural, Petrúcio Junior.

1- Secretário, qual a avaliação que o senhor faz dos resultados nacionais da piscicultura em 2020?

Petrucio Júnior – Os resultados consolidam a piscicultura como uma importante fonte de oferta de proteína animal no país, mantendo a tendência de crescimento que a atividade vem tendo nos últimos anos, mesmo no contexto da pandemia. Isso se deve a profissionalização que vem ocorrendo na atividade e aos investimentos privados.Tudo isso firmado em pesquisa, assistência técnica e incentivos governamentais.

2- E no Amazonas, qual é a sua avaliação?

Petrucio Júnior – No Amazonas a piscicultura é uma atividade estratégica. Características como condições climáticas, abundância de recursos hídricos, espécies nativas adaptadas ao cultivo, dão ampla margem para o crescimento da atividade no estado.

Com isso, estamos trabalhando políticas públicas que visam melhorar capacidade gerencial e tecnológica das pequenas e médias propriedades, que são maioria no estado, ampliando a escala de produção nesses empreendimentos, tendo como reflexo o crescimento de 4,4% na produção mesmo no cenário adverso da pandemia.

3- O que motivou a queda do estado, no ranking nacional, do 14º em 2018 e 2019 para o 16º em 2020? 

Petrucio Júnior – Considerando os dados do nosso estado, estamos gradativamente aumentando a produção. Isso se deve a implementação de políticas públicas para o setor aquícola. Outro fator também que precisa ser levado em consideração são os números oriundos da pesca extrativa, que gira em torno de 200.000 toneladas de pescado por ano.

4- O Amazonas é um grande consumidor de peixes, principalmente amazônicos, entretanto produz pouco, se comparar a sua população e o grande número de turistas em tempos normais. Por que produz ainda tão pouco?

Petrucio Júnior – Isso se deve à ampla parcela de pescado ofertada pela modalidade da pesca artesanal no estado, essa particularidade no consumo de peixe oriundo da pesca é o que atende majoritariamente a nossa demanda. Nos dados de análise da atividade piscícola do estado deve ser, sempre, levada em consideração essa modalidade produtiva, que sempre possuirá resultados muito mais expressivos do que a aquicultura.

Nosso estado possui um dos maiores estoques pesqueiros do planeta, além de uma forte cultura no consumo de espécies nativas, onde esse estoque é plenamente suficiente para abastecimento e com pouca demanda fora do Estado.

Projeto de piscicultura do empresário Kasuo Oka, em Itacoatiara

5-Relacione para nós os principais gargalos enfrentados por aquicultores e pescadores extrativistas no estado e as políticas públicas do governo estadual para sanar esses problemas e dar vazão à produção?

Petrucio Júnior -Pescadores: principais gargalos estão relacionados aos custos de produção (combustível e gelo), utensílios de pesca depreciados, manejo inadequado do peixe capturado e preço de comercialização. Nos últimos dois anos o governo do estado tem adquirido materiais de apoio à pesca artesanal e doado os mesmos através de editais de chamamento público para Organizações da Sociedade Civil(OSC) de pescadores.

Em 2021 está prevista a aquisição e doação de novos materiais de apoio à pesca artesanal (caixas de isopor, malhadeira de mica, lanterna, chapéu de palha, garrafa térmica e lanterna), além de gelo, motores do tipo “rabeta”, materiais de informática e aquisição de materiais para curso de beneficiamento de pescado (agregar valor ao pescado produzido pelo pescador).

Na piscicultura os nossos principais gargalos estão ligados a regularização ambiental e a adoção de boas práticas de manejo e gerenciamento na atividade, além dos elevados preços dos insumos por conta da dificuldade logística do estado.

Nesse sentido, o governo tem implementado políticas públicas como o Programa de Profissionalização da Piscicultura (Pro-Piscicultura) que visa a realização de cursos de capacitação aos piscicultores, onde eles aprendem os mecanismos de controle da produção. Além disso, o governo vem fomentando a atividade com insumos como ração, diminuindo assim o custo de produção dos piscicultores.

Entrega de alevinos

6-Nativo e abundante na região amazônica, o pirarucu, na maioria da sua produção, é do extrativismo. Que programas o Estado oferece para esta atividade e para o incentivo do cultivo da espécie em cativeiro?

Petrucio Júnior – O manejo do pirarucu é uma atividade com mais de 20 anos no estado e sua produção vem aumentando cerca de 12% ao ano e, em áreas com manejo bem sucedido sua produção pode aumentar em até 25%, sendo que os maiores gargalos enfrentados pelos manejadores é o preço do pescado comercializado e o preço elevado dos equipamentos de pesca.

Nesse sentido a SEPROR está adquirindo, com recursos próprios, materiais para “panagem” (insumos para fabricação das redes de pesca) para captura do pirarucu, além de ter lançado no início de 2021, através de sua vinculada ADS, o Programa de Subvenção ao Pirarucu Manejado o qual visa o pagamento de R$1,00 por quilo de pirarucu produzido pelo pescador manejador.

Na piscicultura a espécie é bastante promissora, sobretudo pela sua alta taxa de crescimento, porém a elevada taxa de conversão alimentar, aliada a demanda por ração com elevado teor de proteína torna a atividade ainda pouco atrativa, devido ao elevado custo de produção.

A Secretaria de Estado de Produção Rural, por meio da Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura, tem buscado alternativas em conjunto com diferentes instituições para enfrentar esses gargalos.

7- As pesquisas da estatal federal, Embrapa,  e a das universidades e outras instituições afins no estado, têm correspondido com a demanda da produção local por pacotes tecnológicos?

Petrucio Júnior – A parceria com as Instituições de pesquisa são fundamentais para o desenvolvimento dos pacotes tecnológicos no setor primário, sempre levando em consideração as particularidades de cada cultura e de cada bioma. A Embrapa e as universidades sempre estão presentes junto aos produtores e à secretaria, nos auxiliando e aos mesmos, no desenvolvimento de processos produtivos mais sustentáveis e com boas taxas de rentabilidade.

Posso citar como exemplos, dois projetos: o Tambaqui Plus, desenvolvimento de matrizes melhoradas geneticamente para o incremento produtivo e a caracterização genômica das matrizes do CTTPA Balbina, evitando a consanguinidade nos cruzamentos e melhorando o plantel dos alevinos distribuídos pelo Estado aos piscicultores do Amazonas.

8- Outro peixe amazônico bem comercial, mas ainda insignificante no Amazonas, é o tambaqui. Por que?

Petrucio Júnior – No Amazonas, temos um grande número de espécies de peixes capturadas de ambientes naturais, podemos citar cerca de 10 espécies, incluindo aí o tambaqui, representando cerca de 90% do volume de captura, o que representa aproximadamente 200.000 toneladas anos.

Portanto, temos uma vasta quantidade de espécies que são apreciadas e consumidas pela população. A oferta do tambaqui advindo da piscicultura tem aumentado durante os anos no estado, mas ainda é insuficiente para atender a demanda, sendo necessário a importação também de outros estados, por isso estamos implementando políticas públicas que possamos aumentar a oferta interna da espécie.

Tambaqui

9- O Amazonas é dos poucos estados brasileiros e amazônicos a não produzir exóticos, como a tilápia e o panga. Acredito ser por uma questão de legislação ambiental e em consideração a rica ictiofauna dos rios amazônicos. Isto pode mudar, ou seja, a legislação ambiental abrir brechas para os exóticos?

Petrúcio Junior – Houve uma tentativa de permitir a produção de espécies exóticas em 2016, através da lei ordinária 79/2016, que após manifestação de vários órgãos de pesquisa e ambientais, acabou sendo revogada. Conforme os pesquisadores, a introdução de uma espécie exótica pode trazer várias conseqüências.

Com relação as espécies nativas pode representar uma ameaça ao gerar competição por espaço, alimentos e locais de reprodução e quanto as espécies já cultivadas pelo piscicultor pode trazer doenças, afetando todo o ambiente aquático, causando mortalidade, perdas de valor na comercialização e até perda total do estoque.

10 – Secretário, muito obrigado por esta entrevista.

Petrucio Júnior – Agradecemos a oportunidade, salientando que o estado do Amazonas está em busca constante de elaboração e implementação de políticas públicas para a cadeia aquícola, visando sempre a melhoria da qualidade de vida dos nossos pescadores e piscicultores.

Por Antônio Oliveira

Fotos: Divulgação Sepror

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