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Dados de desmatamento e focos de calor na BR-319 mostram cenário complexo, com desafios e oportunidades de ação do poder público, aponta estudo

Greenpeace Brazil conducted an aerial survey in southern Amazonas and northern Rondônia to monitor deforestation and fires in July 2024. With over 10,000 hotspots just this month, the country has set a record for fire activity in nearly twenty years in the Amazon. Forest fires and burns were also reported in Conservation Units and properties financed with rural credit. O Greenpeace Brasil realizou sobrevoo no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e queimadas em julho de 2024. Com mais de 10 mil focos somente neste mês, o país tem recorde de fogo para o período em quase vinte anos na Amazônia. Incêndio florestal e queimadas também foram registrados em Unidades de Conservação e propriedades financiadas com crédito rural.

A Amazônia, região estratégica para bem-estar das atuais e futuras gerações, apresenta um cenário de contrastes na área de influência da rodovia BR-319. A Retrospectiva 2024: Desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319, publicação anual do Observatório BR-319, que chega a sua quarta edição em 2025, traz um panorama do cenário de 2010 a 2024, que mostra avanços recentes na redução do desmatamento, mas evidencia o agravamento dos focos de calor, alertando para os riscos que se impõem à floresta e às populações locais.

“A escolha desse período visa evidenciar, com mais clareza e profundidade, as oscilações significativas do cenário na Amazônia Legal – especialmente na região do Interflúvio Madeira-Purus –, marcada por momentos de redução e aumento, refletindo as dinâmicas de pressão ambiental na região. Nesse contexto, a área foi monitorada de forma contínua, revelando importantes tendências e desafios para a conservação da floresta nessa região”, diz trecho da publicação.

Heitor Paulo Pinheiro, especialista em geoprocessamento e analista do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), responsável pelos dados da publicação, avalia que essa retrospectiva é “um marco para as análises, e uma base para entender melhor as dinâmicas do Interflúvio Madeira-Purus, pois traz dados importantes para subsidiar políticas públicas eficazes na região. Assim, com tudo que foi apresentado na retrospectiva, podemos afirmar que, melhorar a fiscalização é fundamental para se poder pensar novamente em pavimentação”.

“Os dados apresentados demonstram uma trajetória complexa do desmatamento e dos focos de calor na Amazônia Legal, especialmente na área de influência da BR-319. Há um padrão de crescimento do desmatamento até 2022, seguido por uma redução significativa em 2023 e 2024. No entanto, os focos de calor apresentam variações mais instáveis, com aumento em algumas áreas e redução em outras”, acrescenta Heitor. “Isso indica que, embora o desmatamento esteja sendo contido em algumas regiões, ainda há desafios na contenção de incêndios florestais. Além disso, o aumento de desmatamento em Unidades de Conservação federais, como a Floresta Nacional (Flona) do Bom Futuro em Rondônia e o Parque Nacional (Parna) Mapinguari entre Amazonas e Rondônia, preocupa, pois indica pressão crescente sobre Áreas Protegidas, que como o próprio nome indica, deveriam estar resguardadas dessas situações”, explica.

O ano de 2024, o mais quente da história, trouxe contrastes importantes. De um lado, os dados de desmatamento indicaram uma queda significativa em relação aos anos anteriores. O desmatamento total na Amazônia Legal foi de 358.503 ha, uma redução de 11,08% em relação a 2023. No Amazonas, o desmatamento caiu para 72.876 ha, enquanto Rondônia registrou 20.976 ha, marcando uma redução de 34,5% em relação ao ano anterior.

Entretanto, nem tudo são boas notícias. Em setembro de 2024, foram registrados 41.463 focos na Amazônia Legal – um aumento de 24,7% em relação a 2023. Municípios como Porto Velho, em Rondônia, foram os mais impactados, enquanto Áreas Protegidas, como a Flona do Bom Futuro apresentou um crescimento alarmante de 81,3% nos focos de calor em 2024, totalizando 87 focos em relação aos 48 de 2023, e o Parna dos Campos Amazônicos teve um aumento expressivo de 157% no mesmo período, saindo de 91 em 2023 para 234 em 2024.

A intensificação dos focos de calor está diretamente relacionada à seca extrema que acomete a região desde 2023, agravando queimadas que comprometem recursos hídricos e elevam os riscos de doenças respiratórias em cidades como Manaus e Porto Velho. Municípios como Manicoré e Humaitá continuam a enfrentar a dura realidade de um ambiente cada vez mais suscetível às mudanças climáticas.

Governança e respeito aos direitos constitucionais

A Retrospectiva 2024: Desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319 não é apenas um levantamento estatístico – é um alerta para a sociedade e para os gestores públicos. “Apesar dos avanços no controle do desmatamento, o aumento dos focos de calor ressalta a urgência de políticas públicas integradas e de um monitoramento ambiental rigoroso. A conservação da Amazônia depende do fortalecimento dos órgãos ambientais, da conscientização das comunidades locais e da implementação de medidas que garantam a sustentabilidade para as atuais e futuras gerações”, avalia o secretário executivo do Observatório BR-319, Marcelo da Silveira Rodrigues.

Para Marcelo, a publicação mostra dados preocupantes. “Eles são um alerta de que o processo da BR-319 está acontecendo e, com isso, consequências deletérias para as quais precisamos exigir a mitigação de impactos, como o cumprimento de medidas previstas em leis, recomendações do Ministério Público Federal e organizações da sociedade civil, que reiteradas vezes nos últimos 15 anos, indicam a necessidade de reforço de profissionais para órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para as secretarias de meio ambiente estaduais e para o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), através de concursos públicos específicos para a região”, destaca Marcelo.

Ele também defende que os dados indicam, entre outras coisas, que o poder público “precisa tomar as rédeas do processo de licenciamento e outras obras em andamento da rodovia: qualificando, sobretudo, a governança local, dando condições para que o Estado esteja presente, tanto com órgãos de comando e controle, quanto com assistência social, em saúde, em educação e no acesso a direitos em geral que garantam condições de cidadania para a população local e, portanto, também condições de respeito ao meio ambiente, que é um direito difuso de todos cidadãos”.

A importância do Interflúvio Madeira-Purus para o clima e o bem-estar local e global também é outro ponto que o secretário executivo do Observatório BR-319 destaca. “A ascensão dos focos de calor na Amazônia Legal, especialmente na área de influência da BR-319, tem causas antrópicas, como invasões de terras para atividades ilegais de desmatamento, grilagem, abertura de pastos e ramais, que é intensificada pela ausência do Estado e agravada pela crise climática. Isso se converte em grandes secas no Amazonas e em Rondônia, além de cheias no Acre, pois não podemos mais analisar os impactos apenas de maneira local. E também destroem o potencial de desenvolvimento de uma matriz econômica sustentável de baixo carbono e baseada na bioeconomia, que acaba afetando o bem-estar de populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas e tradicionais em geral, assim como nas sedes dos municípios”, avalia.

Marcelo também chama a atenção para o respeito à autodeterminação das populações indígenas e tradicionais. “Já temos 15 protocolos de consulta de territórios da área de influência da BR-319, onde essas populações mostram como querem dialogar sobre toda e qualquer medida que reverbere em impactos nas suas comunidades e modos de vida. O poder público precisa criar espaços para que esses diálogos sejam construídos e essas pessoas ouvidas, pois elas também serão afetadas por obras como a BR-319 e são sujeitos de direitos previstos na Constituição e precisam ser respeitadas”, conclui.

A Retrospectiva 2024: Desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319 é destaque do informativo do Observatório BR-319. Para mais detalhes e dados completos, acesse a publicação completa no site do Observatório BR-319.

Créditos: Marizilda Cruppe.

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