Com altas habilidades como olfato apurado, instinto aguçado e uma lealdade inabalável, os cães de guerra da Marinha do Brasil (MB) são aliados indispensáveis que ampliam a capacidade operativa e de segurança dos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais em diversos cenários. Esses animais atuam em Operações de Guerra, de Ajuda Humanitária, de Garantia da Votação e da Apuração, da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), além de operações de Apoio à Defesa Civil, na busca e resgate de pessoas em áreas colapsadas por conflitos ou desastres naturais, entre outras áreas de emprego.
Com enorme capacidade de perceber partículas de odor no ambiente, os cães de guerra atuam na detecção de substâncias narcóticas. Atualmente, o uso de caninos para esse tipo de ação tornou-se a principal atividade da Seção de Cães de Guerra da Companhia de Polícia, organização militar subordinada ao Comando da Tropa de Reforço. Os cães farejadores da MB atuam ativamente em diversas apreensões, como a que aconteceu na Operação “Lais de Guia”, no contexto da GLO, em foi apreendida 1,3 tonelada de cocaína em contêineres localizados na multiterminal do Porto do Rio de Janeiro.
Seu campo de atuação é vasto: os animais também desempenham atividades de controle de distúrbios, em que atuam como agentes intimidadores e de repressão direta, na detecção de artefatos explosivos e minas, e também podem apoiar militares em operações especiais, sendo empregados em missões de infiltração e resgate. Além disso, desempenham funções de guarda e patrulha, garantindo a segurança de instalações e prevenindo emboscadas ou infiltrações inimigas.
Em Ações Cívico-Sociais, atividades realizadas pela Força Naval de assistência e auxílio às comunidades, a atuação desses caninos tem um objetivo bem diferente. Eles realizam atividades de cinoterapia, utilização de cachorros para ajudar em tratamentos terapêuticos, interagindo, por exemplo, com crianças portadoras de necessidades especiais. Para atuar com crianças, sem apresentar riscos, todos os cães da Companhia de Polícia passam por um processo de socialização e ambientação prévios.
Segundo o Coordenador dos Cursos de Cães de Guerra, o Primeiro-Tenente (Fuzileiro Naval) Yan Motta de Vasconcelos, os cães são expostos a estímulos e situações que enfrentarão ao longo de suas vidas. “Os animais pré-selecionados para apresentações passam por um processo de socialização específico, sendo apresentados a estímulos comuns nesses eventos, como a presença de crianças, toques, abraços e até mesmo puxões na cauda, para que não se assustem caso alguma destas situações ocorra”, explica.
A formação dos Cães de Guerra
O processo de seleção dos cães para missões militares é rigoroso e envolve a avaliação de saúde e temperamento. Inicialmente, os animais passam por exames para garantir que não tenham predisposição a doenças genéticas ou problemas como displasia coxofemoral, doença de origem genética que causa alteração anatômica nas articulações de animais de raças grandes, como os mais comuns nesse tipo de emprego: Pastor Alemão, Pastor Belga Malinois e Labrador Retriever.
Os cachorros são previamente avaliados, sendo escolhidos os mais destemidos, curiosos, sociáveis e com um forte impulso de caça e brincadeira. Os animais selecionados são os mais resistentes a ruídos e variações ambientais, sociáveis com pessoas e outros animais, e também possuem habilidades como mordida forte, agilidade, autoconfiança, persistência e olfato apurado.
Segundo o Encarregado da Seção de Cães de Guerra da Companhia de Polícia, o Capitão-Tenente (Fuzileiro Naval) Iago Reis Tôrres, após a seleção, os cães passam por um treinamento estruturado em fases, que respeita o desenvolvimento do animal. “Nos primeiros quatro meses, o foco é a socialização, dessensibilizando os cães a estímulos como tiros, por exemplo. Esse processo é feito com brincadeiras e recompensas para criar associações positivas. A partir dos quatro meses, o treinamento avança, para desenvolver memória mecânica e conhecimento corporal, preparando-os para as exigências das operações militares”, destaca.
Para a contínua capacitação dos militares e dos animais, parcerias interagências são realizadas. Em agosto desse ano, por exemplo, aconteceu o Curso Especial de Adestramento de Cães de Guerra com foco na detecção de explosivos em parceria com a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O trabalho teve início em 2011, para treinar os caninos que seriam responsáveis por realizar varreduras contra explosivos nos locais das competições dos Jogos Mundiais Militares. Essa parceria resultou em um trabalho que formou cães capacitados para atuar não apenas nos Jogos Mundiais Militares, mas em todos os grandes eventos no País.
Um elemento de destaque na atuação dos cães de guerra é a parceria com seu condutor. A relação entre eles é sempre de companheirismo e amizade. Segundo o auxiliar da Divisão de Adestramento da Seção de Cães de Guerra, Terceiro-Sargento (Fuzileiro Naval) Filipe de Lima da Costa, “o cão e o homem em operação se tornam um só elemento, ligados pelo companheirismo. Há sempre um vínculo muito especial entre eles”, afirma.
Saúde animal
Por enfrentar desafios físicos e mentais característicos, um cão de guerra, necessita de cuidados médico-veterinários especializados, importantes para manter a saúde e o desempenho de forma plena. As condições adversas de combate e de operações militares podem ter um impacto significativo na saúde desses animais. A Primeiro-Tenente Veterinária (Quadro de Médicos) Luciana Ferreira Lobo de Souza lembra que os cuidados vão muito além de exames de rotina.
Fonte: Agência Marinha de Notícias
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