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Comunicação e cobertura da COP30: os desafios da imprensa amazônica

Por Beatriz Costa

Com a realização da COP30 prevista para 2025 em Belém (PA), os olhos do mundo se voltam para a Amazônia. No entanto, enquanto líderes globais se preparam para debater o futuro climático do planeta, jornalistas da região enfrentam obstáculos históricos para garantir cobertura adequada do evento. A falta de estrutura, o difícil acesso à informação e a desvalorização da mídia comunitária ainda são entraves reais para uma comunicação que represente, de fato, a Amazônia em sua complexidade.

Desigualdade na infraestrutura jornalística

Enquanto grandes veículos nacionais e internacionais já se articulam para cobrir a COP30, muitos profissionais da imprensa local lidam com limitações básicas: falta de equipamentos, conexão precária com a internet, dificuldades de deslocamento e ausência de apoio institucional. “Muitos colegas da região não têm nem mesmo passagens para chegar a Belém. Como vamos falar de Amazônia se quem vive aqui não consegue acompanhar os debates?”, questiona Joana Lima, jornalista do interior do Amazonas.

Essa disparidade de recursos evidencia o abismo entre o jornalismo produzido nos grandes centros e o das regiões mais afastadas da floresta, onde muitas vezes o único elo entre a comunidade e a informação é uma rádio local ou uma página nas redes sociais feita por comunicadores populares.

Barreiras no acesso à informação

Outro desafio é o acesso à informação oficial. A burocracia para conseguir credenciamento, entrevistas com autoridades e dados públicos sobre políticas ambientais é uma realidade enfrentada diariamente por repórteres amazônidas. “É como se só reconhecessem como legítimo o jornalista de fora. Nós, que estamos aqui o ano inteiro cobrindo os impactos ambientais, somos ignorados na hora dos grandes eventos”, relata Felipe Araújo, repórter independente de Roraima.

A ausência de políticas públicas que garantam transparência, inclusão e formação para jornalistas da região dificulta não só a cobertura da COP30, mas o fortalecimento de uma imprensa amazônica plural, crítica e com voz ativa no cenário nacional.

O papel essencial da mídia comunitária

Apesar das adversidades, iniciativas de mídia comunitária vêm se destacando como ferramentas de resistência e democratização da informação. Comunicadores indígenas, quilombolas e ribeirinhos estão criando narrativas próprias sobre seus territórios, denunciando violações de direitos e propondo alternativas sustentáveis.

“A comunicação feita por nós é diferente. A gente conta o que vive, o que sente, o que está vendo na floresta. Não é só número e estatística. É história, é resistência”, afirma Iara Puyanawa, comunicadora indígena do Acre.

Com o avanço das tecnologias digitais e o fortalecimento das redes de apoio entre comunicadores populares, há um movimento crescente para garantir que a COP30 não seja apenas um palco internacional, mas um espaço em que as vozes amazônicas tenham protagonismo.

Caminhos para uma cobertura mais justa

Para que a COP30 represente, de fato, a pluralidade da Amazônia, é fundamental investir em políticas de incentivo à comunicação local, garantir apoio logístico e financeiro aos jornalistas da região, além de assegurar o acesso à informação de forma democrática e transparente.

O protagonismo amazônico na cobertura da COP30 depende não só do discurso, mas de ações concretas. Afinal, quem melhor para contar a história da floresta do que quem vive nela todos os dias?

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