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Cadeia produtiva da farinha Uarini de Tefé é referência de qualidade no AM

Boas práticas de manejo, empacotamento adequado e cultura de empreendedorismo fortalecem a região

TEFÉ- A cadeia produtiva da farinha Uarini, que recebeu a certificação de indicação geográfica do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), apresenta todas as características e condições básicas para ganhar escala regional e nacional, no fornecimento da melhor farinha artesanal do Amazonas, mais especificamente de Tefé, Alvarães, Maraã e Uarini, no Médio Solimões.
Durante três dias acompanhei como os ribeirinhos a produzem, embalam e vendem no mercado de Tefé, o mais importante da região e que exerce a função reguladora dos preços, escala de produção e qualidade da farinha ‘ovinha’, como é conhecida entre os caboclos.

“A gente conseguiu manter o jeito de fazer a farinha de pai para filho e o segredo está no tamanho da peneira, para conseguir a ovinha; mas há outras coisas importantes, que só quem vive aqui sabe como fazer”, disse Raimundo Pinheiro de Menezes, um dos líderes históricos da comunidade do Santo Antônio do Ipapucu no Lago de Tefé, a 25 minutos de lancha da sede do município, com motor de 90 hp (cavalos) de potência.

Terceira geração de produtores de farinha, Raimundo Menezes vive com a família na comunidade, que detém uma técnica refinada de elaboração do produto final, que acompanha, praticamente, toda a alimentação dos ribeirinhos e indígenas da região. Ele explica passo a passo o processo de elaboração da farinha amazônica, que é referência de acompanhamento de peixes nas mesas dos melhores restaurantes gourmets de Manaus e São Paulo, por exemplo.

Tradição

Mecanicamente, parece ser um caminho fácil, mas não é. Cada etapa tem um ritmo próprio e o resultado final com qualidade, depende de conhecimentos e da tradição de manejo aprendido ao longo dos anos. Por esse motivo, a farinha Uarini se diferencia das demais, porque seus produtores buscam a excelência na forma (mini bolinhas, ovinhas) e no sabor crocante, que faz o produto se dissolver na boca ao se misturar com a saliva. Com todo esse processo, que se dá de forma coletiva, envolvendo a comunidade em um mutirão produtivo, podemos afirmar que trata-se de uma arte elaborada com esmero e que tem na propriedade orgânica outro atrativo, pois não sofre impactos dos defensivos agrícolas.

Sebrae

O coordenador do escritório regional do Sebrae em Tefé, José Antônio, tem sido um dos principais articuladores junto às lideranças produtoras da farinha Uarini, para que o padrão de qualidade e de higiene sejam mantidos permanentemente, para que o produto final tenha um maior valor agregado. “A farinha empacotada tem um preço melhor e as boas práticas de manejo, em todo processo, nos ajuda a valorizar esta tradição popular”.

José Antônio trabalha para que a farinha tenha aceitação nacional e internacional e, nesta direção, está focado na profissionalização dos ribeirinhos, para que eles possam, além de ter mais receita, se destacarem como referência gastronômica pelo refinamento do produto genuinamente amazônico. A farinha do Uarini pode acompanhar peixes de água doce como de mar. Neste aspecto, ela pode ser servida com peixes nobres como o pirarucu (maior peixe de escamas de rio do mundo), caviar do esturjão russo ou iraniano; bem como com iguarias marítimas como o peixe espada, robalo, pargo, entre outros.

Empacotadora da Coopagem

Mas além de produzir a farinha, o empacotamento é fundamental para que o produto seja bem recebido no mercado e tenha melhor preço. De maneira original e dentro da cultura ribeirinha, foi montada uma linha de produção de empacotamento da farinha local em um flutuante da Coopagem. Nele, o presidente da cooperativa, Pedro Batista, juntamente com sua família empacota a farinha produzida na região.

Dezenas de embarcações têm procurado o flutuante para empacotar sua produção. Mesmo assim, segundo Batista “é necessário ter mais farinha para atender o mercado e movimentar a empacotadora. Temos muito espaço para crescer e com a indicação geográfica do INPI nos fortalecemos. Mas o pessoal daqui precisa entender que a farinha embalada ajuda na hora de vender, pela higiene que o consumidor gosta”, comentou.

Batista tem sete filhos e todos participam do processo de empacotamento. A esposa Rosilene Araújo de Souza conta “que esta é a melhor maneira de educá-los. Nós vamos empacotando a farinha e conversando sobre as coisas da roça e do dia a dia. A gente também gosta de ouvir música e cantar no trabalho”.

Mercado regulador

O prefeito de Tefé, Normando Bessa, trabalha para alçar a uma dimensão global a farinha Uarini. Ele tem investido na construção de casas de farinha em diversas comunidades ribeirinhas. “A farinha Uarini é um produto com grande capacidade de aceitação. Nós somos o mercado regulador natural, por receber farinha de todas as cidades que a produzem no Médio Solimões e que estão dentro da indicação geográfica do INPI. Tefé é o grande mercado regulador e vamos aperfeiçoar ainda mais a cadeia produtiva, com tecnologia, inovação e mantendo a tradição que à diferencia”, comentou Bessa.

Atento aos aspectos sociais dos ribeirinhos, Bessa foi com sua equipe acompanhar todo o processo de fabricação da farinha Uarini na comunidade Santo Antônio do Ipapucu, em uma casa de farinha modelo. Na ocasião, 30 pessoas estavam trabalhando com dois fornos fazendo a torrefação da farinha ao mesmo tempo. “Gosto de ver de perto o que eles fazem e aproveito para ouvir as lideranças, que sempre tem reivindicações para melhorar a vida deles em comunidade”, comentou.

Produção sustentável

O secretário da produção rural de Tefé, Antônio Nascimento, tem desenvolvido uma série de atividades de fortalecimento da cadeia produtiva da farinha Uarini orientando os ribeirinhos sobre as melhores práticas. Ele destaca que com a indicação geográfica do INPI ‘os olhos do País’ se voltaram para a região. “Nós somos a referência da melhor farinha produzida na Amazônia e isso tem um grande valor de mercado”.

Pirarucus e jacarés

Ele salientou que além da farinha Uarini, Tefé também é referência no manejo do pirarucu, a partir da parceria com o Instituto Mamirauá e do manejo de jacarés, que a exemplo do sucesso do pirarucu, tem todas as condições de se destacar como produto gourmet. “Vamos iniciar o abate, beneficiamento e a comercialização da carne dos jacarés manejados ainda este ano”, revelou com exclusividade.

Texto e fotos: Antonio Ximenes

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