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Aprecie o Guaraná Agroflorestal de Maués em harmonia com a conservação da Amazônia

Ascampa utiliza as certificações IG e de produção orgânica para conseguir novos mercados agroecológicos, porque os selos reconhecem o trabalho ambiental e de conservação que as comunidades ribeirinhas e tradicionais da Amazônia exercem sobre seu território

Maués é considerada a terra do guaraná. Indígenas e ribeirinhos ainda mantêm os rituais e cultivos tradicionais e isso é o que faz a diferença e valoriza a qualidade dessa espécie nativa da Região Amazônica disse Ramom Morato, engenheiro agrônomo e diretor da Bio Territórios Agroflorestais.

O guaraná é colhido de forma seletiva, somente os grãos maduros são padronizados, existe com um baixo período de fermentação que é no máximo 5 dias só de armazenamento.  Ele é despolpado de forma higiênica, com despolpadora artesanal e não pode ser pisado, sublinhou. Seguidamente é torrado lentamente em tacho de barro com as cerâmicas dos povos tradicionais, que era utilizadas pelos indígenas.

Tudo isso faz com que o guaraná de Maués seja muito especial. “Esse guaraná possuí níveis mais elevados dos agentes benéficos como a cafeína e antioxidantes. É um guaraná feito para ser consumido puro como manda a tradição de Maués, não é para ser consumido de forma industrial”.

Pela amizade de Ramom com a diretoria da Associação Comunitária e Agrícola do Rio Urupati (Ascampa) trabalham junto aos 46 agricultores familiares associadas, auxiliando-os na solução de mercado e a certificação do guaraná produzido por eles.

O assessor trabalha há 8 anos com o desenvolvimento de cadeias produtivas da Amazônia da sociodiversidade. “Nós utilizamos muito a certificação dos produtos como estratégia para conseguir novos mercados e valorizar os produtos com o reconhecimento de todo o trabalho ambiental e de conservação que as comunidades ribeirinhas e tradicionais da Amazônia exercem sobre seu território. Exatamente isso é o nosso trabalho com o Guaraná Agroflorestal”.

Conforme Ramom na Ascampa pregam muito por essa questão de ser um guaraná agroflorestal em harmonia com a natureza, protagonizando a conservação da Amazônia e valorizando os produtores. “O guaraná Agroflorestal ele vem com esse apelo”, ressaltou.

Diretor da Bio Territórios Agroflorestais e assessor da Ascampa, Ramom Morato

Produção

Entre 2014 e 2018, a produção nacional de guaraná caiu de 3,6 para 2,6 mil toneladas, redução de 7%, de acordo com relatório de outubro de 2019 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De um lado, a Bahia foi o estado que mais perdeu produção. Passou de 2,7 mil para 1,6 mil toneladas de guaraná entre 2014 e 2018 (-12%), mas ainda detém 60% de todo o guaraná nacional — um produto de baixa qualidade, vendido por metade do preço (R$ 10/kg).

 Do outro lado, o Amazonas ganhou força no período: passou de 624 a 733 toneladas, uma alta de 4%. O motivo dessa alta pode ser justamente o fato de o Amazonas agora ter uma produção orgânica despontando.

O Amazonas como produtor está em fase de rápida expansão. Essa atividade envolve a participação direta de pelo menos duas grandes cooperativas e 12 polos agrícolas de pequenos produtores.

O cultivo do guaraná constitui um típico sistema agroflorestal e se destina, sobretudo, para a produção de extrato vegetal e concentrados, que são empregados na formulação de refrigerantes. Se desenvolve principalmente em sistemas integrados comandados pelas empresas líderes desse setor, como a AmBev e a Coca-Cola.

Produtores da Associação Comunitária e Agrícola do Rio Urupati (Ascampa) recebendo a certificação orgânica

A busca da valorização

Na avaliação de Ramon, Ascampa hoje é uma das maiores associações de Maués é uma das maiores produtoras de Guaraná. Só para Ambev ela conseguiu a comercialização de 36 toneladas no ano 2020. Fora isso também separou uma quantidade para comercializar para mercados mais específicos.

Um grupo de 7 produtores foram certificados para alcançar o mercado de orgânicos dentro do mercado brasileiro. O selo de Indicação Geográfica (IG) ele é um processo que dura mais de 10 anos, foi oficialmente conseguido em 2018, mas esse é o primeiro ano que está sendo comercializado o guaraná com o selo IG que é uma das formas de reconhecimento da forma tradicional e da qualidade superior que o guaraná de Maués possui.

O selo IG traz esse reconhecimento desse guaraná, dessa forma tradicional de cultivo de Maués. “O guaraná foi desenvolvido aqui pelos povos indígenas é a cultura do local e essa é uma estratégia importante para divulgar o nome de Maués e fortalecer a identidade local e mostrar isso para o mundo. Eles entendem que isso é um marketing interessante que precisa ser construído”, salientou.

Mercado orgânico

Também existe a certificação orgânica, que é um selo reconhecido por toda a questão ambiental que ele traz. Os produtores apostam muito na certificação orgânica porque ele também auxilia numa valorização mais justa, numa precificação mais justa para o produtor da agricultura familiar.

Aliar técnicas tradicionais de produção do guaraná na Amazônia às novas tecnologias para proporcionar segurança e valorização na cadeia do produto é o caminho que agricultores familiares estão trilhando no município de Maués.

Produtores comercializaram em 2020 no Brasil a primeira safra que usou mecanismos de rastreabilidade, instrumento exigido pelo IG e a certificação orgânica outorgada pela Opac Maniva, organismo participativo da avaliação da conformidade, credenciada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O rastreamento da produção começou com um plano piloto, que envolveu 46 agricultores familiares ligados Ascampa, permitindo adotar um sistema padronizado.

Segundo Ramom, Ambev já paga um valor acima do mercado pela questão da Zona Franca. O valor do grão aqui já é mais alto que o valor em outras regiões do Brasil é mesmo assim a certificação orgânica ainda acrescenta um valor sobre esse produto. Para os produtores a certificação orgânica também é uma estratégia interessante e foi o que desenvolveram nesse ano.

 

Logística complicada

Maués fica ao leste do Amazonas, já na fronteira com o estado do Pará e, para chegar até ele, é preciso percorrer cerca de 300 km em rios amazônicos — uma viagem de 18 horas, que se faz balançando numa rede pendurada no barco.

Maués é uma cidade de pouco mais de 60 mil habitantes, em que metade da população passa o mês com menos de meio salário-mínimo. O PIB per capita é de apenas R$ 7.300, um dos mais baixos do país, enquanto a média brasileira chega a quase R$ 35 mil, de acordo com dados do IBGE.

No entanto a logística é muito desafiadora. Ascampa fica a uma hora com uma lancha rápida de distância de Maués e de Maués você ainda está um dia e meio de barco de Manaus. O acesso à cidade é difícil, e custa caro escoar a produção, porque o transporte é feito de barco a gasolina. Toda essa logística é muito cara e eleva o preço do produto quando se envia para outras regiões do Brasil, mas, a qualidade superior do guaraná de Maués com certeza compensa isso para quem tem o prazer de experimentar o Guaraná da Amazônia.

Clientes agroecológicos

Os principais compradores da Ascampa são as lojas de produtos orgânicos. “Estamos começando agora com essa frente, algumas lojas de São Paulo e outros locais do Brasil que trabalham com produtos da sóciobiodiversidade e produtos da agricultura familiar, que querem valorizar esse trabalho da construção agroecológica, esses são os nossos principais pontos hoje”.

Além disso, tem parcerias com outras empresas de outras regiões que também estão desenvolvendo os seus produtos.

Desafios

O principal desafio da atividade é uma valorização justa pela produção desse Guaraná porque é um produto feito uma vez ao ano, existe uma safra do guaraná, então é necessário ter um mercado que valorize isso porque não são grandes monoculturas de Guaraná em meio da floresta, são plantios relativamente pequenos.

“O nosso guaraná da Ascampa ele já tem o intuito de agroflorestal. Estamos mudando essa questão do monocultivo, mas de toda forma são clareiras pequenas que essas comunidades tradicionais abrem e plantam o guaraná. É uma quantidade relativamente pequena de Guaraná, se for pensar em guaraná de outras regiões como a Bahia, porém o manuseio do Guaraná ao carinho, as espécies daqui são muito especiais”, disse Ramom.

Precisa existir um mercado que pague sua exportação e Ascampa está atento procurando certificações que possam abrir mercado no exterior também, isso é importante para todos.

Por Dulce Maria Rodriguez

Fotos: Ramom Morato e Ascampa

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