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Agronegócio se mobiliza por Nobel da Paz para ex-ministro da Agricultura Paolinelli

Conheça a história do agrônomo mineiro que contribuiu para desenvolver a agricultura sustentável no Cerrado, preservando a Amazônia; transformando o Brasil em potência mundial do agronegócio; além de liderar o Projeto Biomas, para a produção de alimentos para mais 1,1 bilhão de pessoas em 2050

Ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli

A candidatura do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli (1974/1979) ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, protocolada em janeiro pela USP (Universidade de São Paulo) junto ao The Norwegian Nobel Committee, mobiliza o agronegócio, como mostrou a live comemorativa aos 61 anos da Associação Brasileira de Criadores de Búfalo (ABCB) nesta semana

Os ex-ministros da Agricultura Antonio Cabrera e Roberto Rodrigues, lideranças do setor, manifestaram estar empenhados e trabalhando pela causa.  “Estamos de mangas arregaçadas para que o Brasil traga o caneco pela primeira vez”, disse Cabrera. Rodrigues, para quem Paolinelli, de 84 anos, é o “maior brasileiro vivo”, declarou que os produtores estão todos juntos, “de mãos dadas, porque, se há alguém no mundo que merece essa láurea, é Paolinelli”.

A ABCB, por intermédio de seu 1º vice-presidente, João Ghaspar de Almeida, também manifestou apoio à concessão do Nobel da Paz para o ex-ministro.

Desenvolvimento sustentável do Cerrado

A indicação da USP, por meio de sua Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, destaca que Paolinelli contribuiu decisivamente para desenvolver a agricultura sustentável no Cerrado, preservando a Amazônia; transformar o Brasil de importador de alimentos em 1970 em potência mundial do agronegócio, alimentando cerca de 1,2 bilhão no mundo; além de liderar o Projeto Biomas, em sintonia com objetivo da FAO, para a produção de alimentos para mais 1,1 bilhão de pessoas em 2050.

Praticante da agricultura de baixo carbono, Paolinelli se diz “honrado” de defender a bandeira da segurança alimentar aliada à sustentabilidade, reconhecendo que a indicação não é por um projeto específico e sim por uma vida inteira de trabalho. Atualmente, ele preside o Instituto Fórum do Futuro.

Quem é Alysson Paolinelli?

Mineiro de Bambuí, Paolinelli nasceu em 1936, tornou-se agrônomo em 1959 pela Escola Superior de Agronomia de Lavras (Esal), que depois tornou-se Universidade Federal. Em 1971, assumiu a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, a convite do governador Rondon Pacheco, e criou incentivos e inovações tecnológicas que transformaram o estado no maior produtor de café do Brasil. Nessa época, o jovem Paolinelli já demonstrava talento para revolucionar setores inteiros.

Em 1974, aceitou convite do presidente Ernesto Geisel para tornar-se ministro da Agricultura, e tratou de modernizar a Embrapa e promover a ocupação econômica do Cerrado brasileiro. Foi nesse período que implantou um ousado programa de bolsas de estudos para estudantes brasileiros nos maiores centros de pesquisa em agricultura do mundo. Cuidou também da reestruturação do crédito agrícola e do um novo equacionamento da ocupação do bioma amazônico.

“Nessa época, o Brasil tentava crescer, mas ainda era dependente da importação de alimentos. O nosso forte era o café, mas uma crise climática no Hemisfério Norte fez com que o preço dos alimentos dobrasse. Foi quando sob a minha gestão passamos a investir fortemente em ciência e tecnologia para tornar o Brasil autossuficiente em alimentação. Mas esse era um desafio muito grande, pois até então não existia agricultura tropical competitiva no planeta”, explicou o ex-ministro en entrevista com Canal Rural.

Foi com a iniciativa de Paolinelli que o Brasil se tornou uma potência alimentar para todo o planeta. “A Embrapa foi reestruturada, mandamos 1.530 jovens brasileiros para os melhores centros do mundo. Demos à Embrapa uma forma muito racional para atingir biomas diferentes, produtos diferentes e regiões diferentes. Isso foi muito importante”, conta.

Desenvolvimento de biomas

Nos anos 1970, o Brasil começou a produzir alimentos em um bioma considerado degradado e infértil, o Cerrado. “Conseguimos ativar o programa de médio e longo prazo, e fomos felizes pois em muito pouco tempo o Brasil mostrou que seria viável esse esforço. Em cinco anos conseguimos empatar a balança. Nos anos 1980 começamos a exportar e mostrar competitividade.

Nosso país mostrou a força da agricultura tropical, permanecendo 12 meses no ano [com plantios no campo]. O mundo começou a ver que havia uma tecnologia tropical muito mais sustentável do que a deles, que desenvolveu não só a agricultura como também a pecuária”.

Segundo o ex-ministro, foram anos de pesquisa para entender como implantar o cultivo no solo da região Centro-Oeste e, desde aquela época, países que não conheciam o Brasil já criticavam a suposta exploração dos recursos nativos.

“No Cerrado funciona assim: no primeiro ano corrigimos quimicamente; no segundo é fisicamente, com aração diferenciada para conseguir mudar as características do solo, deixando mais permeável; e depois leva mais cinco anos para recuperar biologicamente. Conseguimos em pouco tempo, fazer em três anos, e o mundo se assustou. Acham que estamos derrubando a floresta para produzir e não é nada disso”, continuou.

Cerrado é um bioma tipicamente brasileiro.

Ciência acima de tudo

Em 2006, Alysson Paolinelli foi agraciado com o World Food Prize, prêmio que equivale ao Nobel da Alimentação. O feito foi alcançado graças ao trabalho do ex-ministro ao lado do pesquisador Edson Lobato, da Embrapa, em ajudar a melhorar a qualidade, aumentar a quantidade e disponibilidade de alimentos no mundo. Eles foram apontados como os responsáveis pela transformação da estéril região do Cerrado brasileiro num dos mais produtivos celeiros do mundo.

A indicação atual ao Nobel de Alysson Paolinelli é feita com base na sua dedicação ao conhecimento científico e desenvolvimento da agricultura tropical. São décadas dedicadas à inovação e, mesmo aos 84 anos, o ex-ministro ainda pensa em como melhorar o processo de produção de alimentos sem agredir o meio ambiente.

“Eu sempre acreditei na ciência como a solução brasileira. Ela pode errar, mas ela mesmo conserta. Criamos o Fórum do Futuro, criamos o Projeto dos Biomas Brasileiros, mas temos uma convicção de que estamos em uma transição fundamental do químico para o biológico.

Hoje somos dependentes da agricultura química e fico muito nervoso porque o Brasil poderia estar muito à frente dos demais países, mas para isso é preciso destinar recursos para a pesquisa, para a Embrapa, para que ocorra uma nova revolução no processo produtivo mundial”, disse Paolinelli, que confessa sonhar com o dia em que o mundo todo consuma alimentos tão orgânicos “como os que foram consumidos por Adão e Eva”. Para isso, a aposta em compostos biológicos seria a melhor saída, na avaliação dele.

Com informação do Agro em dia e Canal Rural

Fotos: Divulgação

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